Você olha para sua estante e vê aquela pilha de livros que nunca lê… na pia, aquela louça de ontem — ah, que preguiça! Então, se lembra que precisa ter aquela conversa difícil com o chefe, mas… não é o momento, melhor esperar. E as aulas que precisa assistir… agora não, quem sabe mais tarde. É assim que se inicia a dinâmica emocional da procrastinação.
Vamos falar a verdade? É gostoso procrastinar. É delicioso não ter o desprazer de lidar com alguma tarefa que você não queria, de evitar uma conversa difícil e não ter que lidar com o problema, de poupar a energia da sua mente não fazendo nada.
E o poupar energia é literal (físico)! O seu cérebro tem apenas 2% da sua massa corporal e utiliza 25% da energia do seu corpo só para viver. Por isso, ele fará de tudo para que você poupe energia: sim, há uma resistência ao movimento, uma resistência física. Porém, hoje possuímos fontes de energia em abundância (basta você levantar e abrir a geladeira) então, não precisamos ter esse tipo de economia de energia, certo?
O segundo ponto (emocional) é a sensação de alívio que a procrastinação nos traz por não termos lidado com a tarefa. Essa sensação libera o neurotransmissor da dopamina em nosso corpo, responsável pela fixação de hábitos e vícios.
E o alívio de procrastinar é uma recompensa. Um hábito é formado por GATILHO (algo que te desperte para executar o hábito) — ROTINA (a execução do hábito) e RECOMPENSA (o que você ganha e libera a dopamina). E se você não possuir consciência sobre essa dinâmica emocional da procrastinação, pode torná-la um hábito. Um hábito silencioso e destruidor de sonhos.
Perguntas de ouro para se fazer e vencer a procrastinação
“Se quer fazer um trabalho fácil parecer muito difícil, continue adiando.” (Olin Miller)
Sempre quando você procrastina, você faz uma concorrência muito desleal: de um lado, a sensação imediata de lidar com algo que você não quer (desprazer) e, de outro, o alívio imediato de empurrar uma tarefa para amanhã, como se o desprazer daquela execução mudasse no dia seguinte.
Porém, você deve fazer 2 perguntas para si mesmo:
- Como eu vou me sentir daqui 2 horas se eu não fizer isso?
- Como eu vou me sentir daqui 2 horas se eu fizer isso?
São essas duas sensações que você deve colocar em concorrência, essa é a concorrência leal e justa. Bora fazer?
Procrastinação a longo prazo
Você acha que “está tudo bem” deixar para amanhã. Amanhã chega e novamente você deixa para amanhã. Você cria o hábito de deixar para amanhã (os estudos, a dieta, a saúde, as conversas necessárias). Mas, essa conta possui juros compostos. E eu quero que você feche os olhos agora e imagine um cenário com a seguinte pergunta: “como eu vou estar daqui 10 anos, se eu continuar todos os dias procrastinando o que eu estou procrastinando?”
O “deixa pra amanhã” é um destruidor de sonhos silencioso: o amanhã nunca chega. Quando colocamos isso em perspectiva de 10 anos, entendemos que o que fazemos todos os dias é que conta.
“A procrastinação é como um cartão de crédito: é muito divertido até receber a conta.” (Christopher Parker)
Procrastinação não é preguiça
Um erro comum é confundir preguiça com procrastinação. Apesar da visualização ser a mesma, elas são muito diferentes. Quem tem preguiça não se incomoda com aquilo que precisa fazer, sabe que é preguiçosa e faz no seu tempo. Uma pessoa procrastinadora, porém, arrasta as coisas para depois, mas se incomoda com aquilo, se pune mentalmente e se cobra por não estar fazendo o que deveria fazer.
Procrastinação passiva x procrastinação ativa
A procrastinação passiva é aquela em que o procrastinador adia algo e fica sem fazer nada (muito confundida com a preguiça). Porém, a procrastinação mais comum (e que ninguém nota) é a procrastinação ativa!
Nesse modelo, o procrastinador adia algo importante disfarçadamente. Ele procrastina o que é importante se ocupando de coisas que não são importantes nem urgentes (como organizar uma estante, responder uma mensagem na rede social ou fazer uma tarefa de trabalho zero importante). Se ocupa de qualquer coisa para procrastinar aquilo que não quer fazer/enfrentar.
3 passos para vencer a procrastinação
- Quando perceber que está procrastinando, anote.
- Perceba o porquê você está adiando aquilo, anote.
- Resolva o porquê.
O porquê: pode ser o seu medo (frustração de dar errado, medo de ter sucesso), a sua ansiedade, o seu tédio, a sua falta de clareza ou incerteza. Resolva isso. Existe uma vida incrível para você ser toda a sua potencialidade e viver com alegria.
A ferramenta mais poderosa para vencer a procrastinação
Simplicidade é genialidade. Vencer a procrastinação habitual (e não patológica) é mais simples do que você pensa. Mas eu te convido a experimentar: durante 7 dias, toda vez que pensar em procrastinar, você vai fazer o que precisa ser feito, sem se questionar. Faça. Não pense, não se questione, não gaste energia, simplesmente faça! Quanto mais rápido você fizer, mais rápido vai acabar. E comece a sentir o prazer da realização.
A procrastinação é um hábito. E para mudar um hábito podemos mudar o gatilho, ou a rotina. Nesse caso, o gatilho será o mesmo (“algo que não quero fazer”). Mudar a rotina por 7 dias vai te treinar a continuar mudando. E um hábito é um hábito, depois de instaurado, você começa a fazer no automático.
Deborah Carvalho
Mentora de produtividade
LinkedIn: /dehcarvalho