1. (UNESP 2011)
Texto I
“A amígdala cerebral e o córtex pré-frontal são regiões do cérebro reguladoras de emoções como culpa, remorso e medo de punição. Duas pesquisadoras americanas estão revolucionando a comunidade científica ao afirmarem que, estudando essas duas importantes áreas, é possível identificar em crianças de 3 anos se elas apresentam riscos de se tornarem criminosas quando adultas. Segundo os cientistas Adrian Raine, da Universidade da Pensilvânia, e Nathalie Fontaine, da Universidade de Indiana, o cérebro de psicopatas exibe amígdalas 20% menores do que as do cérebro de um não criminoso”.
(IstoÉ, 16.03.2011. Adaptado.)
Texto II
“Criminalidade é efeito, é forma perversa de protesto, gerada por uma patologia social que a antecede e que é, também ela, perversa. Sem os filtros despoluidores da justiça social e da decência política, toda e qualquer medida contra o crime, por mais violenta e repressiva que seja, constituirá mero recurso paliativo. É claro que a criminalidade, enquanto sintoma, tem de ser adequadamente combatida por medidas policiais enérgicas. Mas que não se fique nisso, já que o puro e simples combate ao efeito não remove – nem resolve – a causa que o produz. Ao contrário: a luta isolada contra o efeito pode tornar-se danosa e perversa, uma vez que, destruindo sua função alertadora e denunciadora, provoca uma cegueira perigosa, que aprofunda a raiz do mal”.
(Hélio Pelegrino. Texto publicado em 1986. Adaptado.)
Explique uma diferença de abordagem entre os dois textos sobre os fatores determinantes da violência, bem como uma diferença no que se refere à concepção de meios para evitá-la.
GABARITO
A questão selecionada, do vestibular da Unesp de 2011, é um excelente meio de aplicarmos as dicas para leitura de textos filosóficos que eu dei no resumo de ontem. Se tomarmos a primeiro dica, que nos permite identificar as características de um texto filosófico, veremos que o texto I foge totalmente dessas características, por ser um escrito meramente informativo e que não justifica sua posição com argumentos, mas apenas cita pesquisas feitas por outrem. Trata-se de um texto de um jornal publicado na revista Isto é. O texto II, por sua vez, ainda que não seja propriamente filosófico, pois seu autor não é um filósofo, se aproxima mais das características mencionadas por mim, ao apresentar justificativa para suas posições e propor uma explicação pessoal para o problema discutido. De qualquer modo, continuemos utilizando as dicas.
Se tomarmos como critério a segunda dica, veremos que nós não precisamos identificar o problema que está sendo discutido, pois o próprio enunciado da questão o faz por nós: é o problema dos fatores determinantes da violência. Quanto às soluções, os pontos de vista apresentados nos dois textos são claramente conflitantes. Enquanto os pesquisadores do texto I procuram explicar o fenômeno da violência por elementos neurológicos, constituintes da própria natureza do criminoso, o texto II, por sua vez, trata a violência como um efeito colateral dos problemas sociais enfrentados em nosso tempo, vendo-a, por tanto, como um elemento cultural e não natural. Aí, aliás, se encontra precisamente o cerne, o ponto central para a resposta daquilo que é solicitado na questão.
Por fim, analisar a relação dos textos com a história da filosofia (nossa terceira dica) é inteiramente desnecessário nesse caso, já que nenhum dos autores é um filósofo propriamente.