Os fenômenos linguísticos – ou semânticos – são recursos muito úteis especialmente no quesito coesão na redação do Enem. Pensou em significado, pensou em semântica, então, é muito importante saber reconhecer esses fenômenos para melhorar sua capacidade de leitura e de produção.
Saber identificar as relações semânticas em um texto, além de usá-las em uma produção, é super importante. Quem vai prestar o Enem precisa entender o que é semântica e como funciona o sentido das palavras e expressões.
Dá uma olhada nos recursos que usamos no nosso dia a dia pra estabelecer conexões com base nos fenômenos linguísticos!
1. Relações entre Palavras
Sinonímia: acontece quando dois vocábulos possuem significados muito próximos. Como se trata de uma relação semântica entre as palavras, para determinar se dois vocábulos são sinônimos ou não, o contexto é fundamental.
Veja, por exemplo, o enunciado “Joana implorou por paz no mundo”. Nele, poderíamos substituir “implorou” por “rogou”, embora percamos um pouco da expressividade que aquela primeira palavra emprestava ao texto. Por isso, “implorar” e “rogar” são, nesse contexto, sinônimos.
Antonímia: aqui, dois vocábulos possuem significações opostas. Mais uma vez, o contexto é essencial para determinar se dois vocábulos são antônimos ou não. Por exemplo, na canção “O Quereres”, Caetano Veloso diz:
“Onde queres coqueiro / Sou revólver”,
Criou-se uma antonímia contextual entre os vocábulos “coqueiro” e “revólver”.
Hiperonímia e Hiponímia: um termo é hiperônimo quando sua significação engloba o sentido de outros termos, que são, por isso, chamados de hipônimos. Por exemplo, “peixe” é hiperônimo de “salmão”, “bacalhau”, “linguado”, etc.
Paronímia: dois vocábulos são parecidos na grafia e na sonoridade, mas diferentes no sentido, como “infligir” e “infringir”. A utilização recorrente de parônimos em um texto pode gerar um recurso expressivo bastante interessante chamado paronomásia.
Homonímia: há identidade no campo sonoro e/ ou gráfico de dois vocábulos de origens distintas. Por isso, os homônimos podem ser:
- Homógrafos – a identidade ocorre no nível gráfico – (sede – lugar x sede – vontade de beber)
- Homófonos – a identidade ocorre no nível sonoro – (sessão x seção x cessão)
- Perfeitos – a identidade ocorre no nível gráfico e no nível sonoro (manga)
Polissemia: um mesmo vocábulo pode apresentar mais de um sentido. Difere da homonímia por ser a mesma palavra, e não, palavras com origens diferentes que convergiram foneticamente; a principal causa da polissemia é o uso figurado, por metáfora ou metonímia, por extensão de sentido, analogia, etc.
É o caso, por exemplo, da palavra “prato”, que pode significar “vasilha”, “comida”, “iguaria”, “instrumento musical”, etc.
2. Ambiguidade
Um determinado segmento linguístico pode produzir mais de uma leitura. A ambiguidade é um fenômeno muito frequente, mas, em geral, o contexto (tanto o linguístico quanto o situacional) indica qual é a leitura mais apropriada.
Em tese, ela deve ser evitada em determinados tipos de textos, a fim de evitar ruídos ou prejuízos no entendimento. A ambiguidade pode ser causada por diversos fatores, como, por exemplo, a má colocação do pronome possessivo. Veja:
A mãe de Pedro entrou com seu carro na garagem.
De quem era o carro?
A mãe de Pedro entrou na garagem com o carro dela.
3. Modalizadores
Elementos linguísticos capazes de determinar a maneira como aquilo que se diz é dito. Nesse caso, passam a ser essenciais para a correta compreensão do texto. Analisemos, por exemplo, a modalização operada pelo verbo “dever” nos seguintes enunciados:
- Todos os cidadãos devem votar no dia da eleição.
O verbo “dever” aqui indica algo obrigatório.
- O trânsito deve piorar depois das férias.
O verbo “dever” aqui indica algo provável.
- A economia deve melhorar só daqui a dois anos.
O verbo “dever” aqui indica algo possível.
Alguns dos elementos linguísticos capazes de traduzir esse fenômeno são:
a) expressões cristalizadas – (é provável, é possível, é obrigatório, etc.)
b) advérbios e locuções adverbiais – (talvez, provavelmente, certamente, obrigatoriamente, etc.)
c) determinados verbos auxiliares – (dever, poder, etc.)
d) determinadas locuções verbais, em geral com verbo principal no infinitivo -(ter de/que, precisar + infinitivo, dever + infinitivo, etc.) e) determinadas “orações” – (tenho certeza de que, há possibilidade de, todos sabem que, não há dúvida de que, etc.)
4. Marcadores de Pressuposição
Elementos linguísticos que nos fazem entender informações secundárias, não-explícitas nos enunciados. Veja, por exemplo, o segmento:
Jorge parou de fumar.
A presença da locução “parar de” nos permite pressupor que, antes, Jorge fumava. Perceba, também, que o emissor, ao proferir esse enunciado, parte do princípio de que seu receptor já domina esse conteúdo pressuposto, sob pena de a comunicação se tornar incoerente ou, no mínimo, pouco eficiente. Essa característica possibilita ao emissor trabalhar os conteúdos pressupostos para construir enunciados interessantes do ponto de vista argumentativo. Analise, por exemplo, o segmento:
Lamentamos não aceitar cartão de crédito nos pagamentos.
A utilização do verbo “lamentar” para inserir de forma pressuposta a ideia de que o estabelecimento não aceita pagamento em cartão de crédito. No entanto, constituído dessa forma, o enunciado sugere que o receptor já tinha domínio dessa informação (o estabelecimento não aceita cartões), o que atenua o tom desagradável dela.
Além dos operadores, podem instituir conteúdos pressupostos os seguintes marcadores, por exemplo:
a) Verbos auxiliares que modificam o aspecto verbal, indicando mudança ou permanência de estado (começar a, deixar de, continuar, passar a, tornar-se, etc.)
b) Verbos que introduzem uma noção ou um estado de espírito diante de um fato (lastimar, sentir, saber, etc.)
c) Conectores circunstanciais, especialmente quando a ideia por eles introduzida vem anteposta (desde que, visto que, antes que, etc.)
5. Polifonia
Este é outro exemplo de fenômeno linguístico. Aqui, num mesmo texto, ouvem-se outras “vozes” (que não a do emissor), sejam elas explícitas, sejam elas implícitas.
Trata-se de um fenômeno interessante porque permite que o emissor mostre perspectivas diversas da sua, para se identificar com elas ou refutá-las. A polifonia vem sendo utilizada na linguística para analisar os enunciados nos quais várias “vozes” são percebidas simultaneamente.
Pense, por exemplo, no slogan de uma propaganda que diz: “a aventura está no nosso sangue”.
Repare que a aventura pode tanto estar no sangue de quem lê como no da fabricante do carro. Isso fica bastante evidente com o uso do pronome “nosso”. Determinados elementos gramaticais podem funcionar como índices da presença, no texto, de uma outra “voz”. Alguns dos principais são:
a) Determinados operadores argumentativos, como, por exemplo, o “pelo contrário” na sequência “Clara não é relaxada. Pelo contrário, tem organizado muito bem o seu quarto”. Repare que “tem organizado muito bem o seu quarto” não se opõe a “Clara não é relaxada”. O que explica a presença do termo “pelo contrário”, que possui claro valor adversativo, é a presença de uma outra “voz” que afirma ser Clara uma pessoa relaxada. O termo em questão, portanto, introduz uma oposição ao pensamento definido por essa outra voz, e não uma oposição ao enunciado anterior.
b) Os marcadores de pressuposição;
c) Em alguns casos, as aspas e outros recursos gráficos como o itálico e o negrito;
d) A intertextualidade;
e) O discurso indireto livre. Sabemos que, nessa modalidade discursiva, o narrador fala como se fosse o personagem. Assim, caracteriza-se facilmente a polifonia.
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