Você conhece o Manifesto Futurista? Não, não estamos falando de nenhuma ida às ruas dos personagens do desenho dos Jetsons (mas eles até vão nos ajudar hoje!). O manifesto futurista, introduzido por Filippo Marinetti, foi publicado em 20 de fevereiro de 1909 no jornal “Le Figaro” e apresentava, de forma objetiva e apelativa, as novas características de uma das principais vanguardas europeias que tomariam conta do continente naquele momento: o Futurismo. Nele, os autores exaltavam não só o progresso do nosso século, mas a velocidade, uma nova concepção estética – tendo o automóvel como símbolo principal – e, principalmente, uma ruptura com os movimentos mais tradicionais.
Eu já sei que você vai me perguntar o que isso tem a ver com a sua redação. E eu respondo de uma forma muito objetiva: nos últimos vestibulares, o manifesto tem aparecido como proposta em algumas provas, e suas características, apesar de poucas, são bem específicas e precisam ser revisadas. Mas não é nada difícil! Vamos pegar como exemplo o Manifesto Futurista e a ajuda dos Jetsons e, com certeza, chegaremos ao 10 o mais rápido possível!
A primeira atenção que você deve ter é em relação ao autor do manifesto. É um indivíduo? Um grupo? Uma instituição? Isso, obviamente, trará efeitos importantes na escolha da pessoa do seu texto. Em um manifesto, por exemplo, organizado por alunos de um colégio, é importante que você utilize a primeira pessoa do plural (o nós) na exposição de suas ideias. Lembre-se: vocês são um grupo, e precisam apresentar suas posições como um grupo, assim como os próprios Jetsons faziam! 🙂
Em relação ao gênero, é importante lembrar que o manifesto é um tipo de texto que precisa ser lido. Dessa forma, a linguagem apresentada, apesar de formal, pode se mostrar um pouco mais oral (com o uso de vocativos, tópicos), e estruturas mais complexas, como inversões e vocabulários mais eruditos, não são tão bem-vindas. Se seguirmos o nosso exemplo dos alunos de uma escola, é bem provável que nosso manifesto seja lido pelos próprios alunospara os seus professores e responsáveis, o que pede uma linguagem bem mais objetiva, mas também muito mais oral. Lembre-se: o manifesto tem sim um tom de convocação, ou seja, você precisa ser claro e apelativo! Já imaginou a loucura que seria ler um texto todo invertido, com vocabulário difícil?
Um ótimo exemplo está no manifesto que comentamos anteriormente. Você já deu uma lida? Se não leu, não tem problema: eu trouxe um trecho pra você! O texto completo você encontra aqui. Perceba, principalmente, o tom apelativo e a linguagem na primeira pessoa do plural, mostrando, de forma clara, o ponto de vista do autor e seus colegas. Veja:
Então, como rosto coberto da boa lama das oficinas, mistura de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuligens celestes – nós, contundidos e de braços enfaixados mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:
Manifesto do Futurismo
- Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
- A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
- A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o extase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
- Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
- Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
- É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto e munificiência, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
- Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostar-se diante do homem.
- Nós estamos no promontório extremo dos séculos!… Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem.
Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente.
- Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas idéias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
- Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academia de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
- Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.
É da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o “Futurismo”, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários.
Dá vontade de abraçar o Marinetti com um exemplo tão bom, né? E aí, gostou? Conseguiu identificar as características que discutimos ao longo do post? Tem alguma dúvida? Deixe um comentário pra gente! Estamos aqui pra ajudar!
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Bom texto e bom 10!