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Português: Variações Linguísticas
12/05 TERÇA-FEIRA
Turma da Manhã: 10:15 às 11:15, com o professor Rafael Cunha
15/05 SEXTA-FEIRA
Turma da Noite: 18:30 às 19:30, com o professor Eduardo Valladares
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MATERIAL DE AULA AO VIVO
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.
Ao trabalhar com o conceito de variação linguística, estamos pretendendo demonstrar:
• que a língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro;
“Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-número de diferenciações.(…) Mas essas variedades de ordem geográfica, de ordem social e até individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem a consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção.”
(Celso Cunha, em Uma política do idioma)
• que a variação linguística manifesta-se em todos os níveis de funcionamento da linguagem ;
• que a variação da língua se dá em função do emissor e em função do receptor ;
• que diversos fatores, como região, faixa etária, classe social e profissão, são responsáveis pela variação da língua;
• que não há hierarquia entre os usos variados da língua, assim como não há uso linguisticamente melhor que outro. Em uma mesma comunidade linguística, portanto, coexistem usos diferentes, não existindo um padrão de linguagem que possa ser considerado superior. O que determina a escolha de tal ou tal variedade é a situação concreta de comunicação.
• que a possibilidade de variação da língua expressa a variedade cultural existente em qualquer grupo. Basta observar, por exemplo, no Brasil, que, dependendo do tipo de colonização a que uma determinada região foi exposta, os reflexos dessa colonização aí estarão presentes de maneira indiscutível.
Níveis de variação linguística
É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem.
Nível fonológico – por exemplo, o l final de sílaba é pronunciado como consoante pelos gaúchos, enquanto em quase todo o restante do Brasil é vocalizado, ou seja, pronunciado como um u; o r caipira; o s chiado do carioca.
Nível morfossintático – muitas vezes, por analogia, por exemplo, algumas pessoas conjugam verbos irregulares como se fossem regulares: “manteu” em vez de “manteve”, “ansio” em vez de “anseio”; certos segmentos sociais não realizam a concordância entre sujeito e verbo, e isto ocorre com mais frequência se o sujeito está posposto ao verbo. Há ainda variedade em termos de regência: “eu lhe vi” ao invés de “eu o vi”.
Nível vocabular – algumas palavras são empregadas em um sentido específico de acordo com a localidade. Exemplos: em Portugal diz-se “miúdo”, ao passo que no Brasil usa-se ” moleque”, “garoto”, “menino”, “guri”; as gírias são, tipicamente, um processo de variação vocabular.
Tipos de variação linguística
Existem dois tipos de variedades linguísticas: os dialetos (variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua, ou seja, os emissores); os registros (variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, as quais dependem do receptor, da mensagem e da situação).
• Variação Dialetal
– Variação Regional
– Variação Social
– Variação Etária
– Variação Profissional
• Variação de Registro
– Grau de Formalismo
– Modalidade de Uso
– Sintonia
(Texto retirado do site http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/variacao.html)
TEXTO I
A Rede Veia
Eu tava com a Felomena
Ela quis se refrescar
O calor tava malvado
Ninguém podia aguentar
Ela disse meu Lundru
Nós vamos se balançar
A rede veia comeu foi fogo
Foi com nois dois pra lá e pra cá
Começou a fazer vento com nois dois a palestrar
Filomena ficou beba de tanto se balançar
Eu vi o punho da rede começar a se quebrar
A rede veia comeu foi fogo
Só com nois dois pra lá e pra cá
A rede tava rasgada e eu tive a impressão
Que com tanto balançado nois terminava no chão
Mas Felomena me disse, meu bem vem mais pra cá
A rede veia comeu foi fogo
Foi com nois dois pra lá e pra cá
Luiz Queiroga e Cel. Ludugero
TEXTO II
Pescaria
Ô canoeiro,
bota a rede,
bota a rede no mar
ô canoeiro,
bota a rede no mar.
Cerca o peixe,
bate o remo,
puxa a corda,
colhe a rede,
ô canoeiro,
puxa a rede do mar.
Vai ter presente pra Chiquinha
ter presente pra laiá,
canoeiro, puxa a rede do mar.
Cerca o peixe,
bate o remo,
puxa a corda,
colhe a rede,
ô canoeiro,
puxa a rede do mar.
Louvado seja Deus,
ó meu pai.
Dorival Caymmi
TEXTO III
A Rede
Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior me causa o efeito
De concha no ouvido
Barulho de mar
Pipoco de onda
Ribombo de espuma e sal
Nenhuma taça me mata a sede
Mas o sarrabulho me embriaga
Mergulho na onda vaga
E eu caio na rede,
Não tem quem não caia
E eu caio na rede,
Não tem quem não caia
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe
De raios que controla a onda cerebral do peixe
Nenhuma rede é maior do que o mar
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra
Nem quando ela acerta,
Nem quando ela erra
Nem quando ela envolve todo o Planeta
Explode e devolve pro seu olhar
O tanto de tudo que eu tô pra te dar
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Lenine e Lula Queiroga
TEXTO IV
Nina
Nina diz que tem a pele cor de neve
E dois olhos negros como o breu
Nina diz que, embora nova
Por amores já chorou
Que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
Nina adora viajar, mas não se atreve
Num país distante como o meu
Nina diz que fez meu mapa
E no céu o meu destino rapta
O seu
Nina diz que se quiser eu posso ver na tela
A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela
Posso imaginar por dentro a casa
A roupa que ela usa, as mechas, a tiara
Posso até adivinhar a cara que ela faz
Quando me escreve
Nina anseia por me conhecer em breve
Me levar para a noite de Moscou
Sempre que esta valsa toca
Fecho os olhos, bebo alguma vodca
E vou
Chico Buarque
1. Uma língua varia em função de aspectos sociais, localização geográfica e uso de diferentes registros, ligados ás situações de comunicação.
Marque a alternativa que analisa corretamente a ocorrência de variação linguística nos textos.
a) O verso “Nós vamos se balançar” (Texto 1, linha 6) apresenta um exemplo da modalidade culta da língua, revelada no emprego dos pronomes.
b) No verso “A rede veia comeu foi fogo” (Texto 1, linha 7), a grafia da palavra sublinhada procura reproduzir pronúncia comum em algumas regiões do Brasil (veia por velha), que exemplifica uma variação fonética.
c) Em: “E eu caio na rede / Não tem quem não caia” (Texto III, linhas 11 – 12), o emprego do verbo ter é marca do registro culto da língua, utilizado preferencialmente na modalidade escrita.
d) Em: “Vai ter presente pra Chiquinha” (Texto II, linha 12), o nome “Chiquinha” exemplifica o uso do registro informal, utilizado, sobretudo, em documentos oficiais e sermões religiosos.
e) No verso: “Posso até adivinhar a cara que ela faz” (Texto IV, linha 16) a palavra cara exemplifica uma variação de registro linguístico predominante em situações formais.
2. Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.
Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.
De acordo com o texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão se comporta de modo
a) inovador.
b) restritivo.
c) transigente.
d) neutro.
e) aleatório.
3.
Sobre a linguagem utilizada entre marido e mulher no texto, considere as afirmativas a seguir.
I. As personagens tratam-se de forma cerimoniosa, a começar pelo pronome de tratamento.
II. A linguagem é artificial e caracteriza uma fase específica da história republicana no Brasil.
III. O uso do vocativo “senhora” mostra uma forma pouco usada, atualmente, nas relações conjugais.
IV. A pessoa do discurso é um elemento que sugere distanciamento.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
4.
Calvin apresenta a Haroldo (seu tigre de estimação) sua escultura na neve, fazendo uso de uma linguagem especializada. Os quadrinhos rompem com a expectativa do leitor, porque
a) Calvin, na sua última fala, emprega um registro formal e adequado para a expressão de uma criança.
b) Haroldo, no último quadrinho, apropria-se do registro linguístico usado por Calvin na apresentação de sua obra de arte.
c) Calvin emprega um registro de linguagem incompatível com a linguagem de quadrinhos.
d) Calvin, no último quadrinho, utiliza um registro linguístico informal.
e) Haroldo não compreende o que Calvin lhe explica, em razão do registro formal utilizado por este último.
Gabarito
1. B
Ao contrário do que se afirma em [A] e [C], o uso do pronome “se” e do verbo “ter” indica marcas de oralidade, típicas da linguagem informal, demonstrativa do cotidiano simples que o poema pretende retratar. Para se adaptarem ao registro culto, recomendado pelas regras da gramática normativa, as expressões em que estão inseridos deveriam ser substituídas por nós vamo-nos balançar ou nós vamos balançar-nos e não há quem não caia. Diminutivos e expressões idiomáticas não fazem parte do registro formal da língua, usado em documentos oficiais ou sermões religiosos, o que invalida também as afirmações em [D] e [E]. Assim, é correta a opção [C], pois a grafia da palavra “veia” reproduz a pronúncia comum em algumas regiões do Brasil, o que exemplifica uma variação fonética.
2. B
De todas as variedades de um idioma, a língua padrão comporta-se de forma restritiva, pois confere valor de prestígio a quem faz uso dela, deprecia as outras modalidades e limita a variação linguística: “Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.”
3. E
O pronome pessoal “vós” corresponde gramaticalmente à segunda pessoa do plural e pode ser dirigido a um grupo de pessoas ou a um interlocutor apenas quando se trata de um plural majestático (que exprime uma atitude de respeito e distanciamento para com o interlocutor), como se observa na tirinha de Laerte. O fato de os personagens pertencerem à aristocracia justifica o vocativo “senhora”, usado pelo marido, tratamento pouco usado atualmente entre cônjuges. Assim, são válidas as afirmativas I, III e IV assinaladas na opção [E].
4. D
A última frase de Calvin rompe com a expectativa do leitor, pois o uso da locução interjetiva “qual é!”, típica da linguagem informal, contrasta com o registro linguístico altamente especializado que vinha usando até o momento.
LISTA DE EXERCÍCIOS
Texto I
Foi na estância dos Lagoões, duma gente Silva, uns Silvas mui políticos, sempre metidos em eleições e enredos de qualificações de votantes.
A estância era como aqui e o arroio como a umas dez quadras; lá era o banho da família. Fazia uma ponta, tinha um sarandizal e logo era uma volta forte, como uma meia-lua, onde as areias se amontoavam formando um baixo: o perau era do lado de lá. O mato aí parecia plantado de propósito: era quase que pura guabiroba e pitanga, araçá e guabiju; no tempo, o chão coalhava-se de fruta: era um regalo!
Já vê… o banheiro não era longe, podia-se bem ir lá, de a pé, mas a família ia sempre de carretão, puxado a bois, uma junta, mui mansos, governados de regeira por uma das senhoras-donas e tocados com uma rama por qualquer das crianças.
Eram dois pais da paciência, os dois bois. Um se chamava Dourado, era baio; o outro, Cabiúna, era preto, com a orelha do lado de laçar branca, e uma risca na papada.
Estavam tão mestres naquele piquete, que, quando a família, de manhãzita, depois da jacuba de leite, pegava a aprontar-se, que a criançada pulava para o terreiro ainda mastigando um naco de pão e as crioulas apareciam com as toalhas e por fim as senhoras-donas, quando se gritava pelo carretão, já os bois havia muito tempo que estavam encostados no cabeçalho, remoendo muito sossegados, esperando que qualquer peão os ajoujasse.
(LOPES NETO, Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 65-66.)
Texto II
O tempo fecha.
Sou fiel aos acontecimentos biográficos.
Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitos
que não largam! Minhas saudades ensurdecidas
por cigarras! O que faço aqui no campo
declamando aos metros versos longos e sentidos?
Ah que estou sentida e portuguesa, e agora não
sou mais, veja, não sou mais severa e ríspida:
agora sou profissional.
(CESAR, Ana Cristina. A teus pés. 6. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, s/d. p. 9.)
Texto III
Bom-Crioulo não pensou em dormir, cheio, como estava, de ódio e desespero. Ecoavam-lhe ainda no ouvido, como um dobre fúnebre, aquelas palavras de uma veracidade brutal, e de uma rudez pungente: “Dizem até que está amigado!”
Amigado, o Aleixo! Amigado, ele que era todo seu, que lhe pertencia como o seu próprio coração: ele, que nunca lhe falara em mulheres, que dantes era tão ingênuo, tão dedicado, tão bom!… Amigar-se, viver com uma mulher, sentir o contacto de outro corpo que não o seu, deixar-se beijar, morder, nas ânsias do gozo, por outra pessoa que não ele, Bom-Crioulo!…
Agora é que tinha um desejo enorme, uma sofreguidão louca de vê-lo, rendido, a seus pés, como um animalzinho; agora é que lhe renasciam ímpetos vorazes de novilho solto, incongruências de macho em cio, nostalgias de libertino fogoso… As palavras de Herculano (aquela história do grumete com uma rapariga) tinham-lhe despertado o sangue, fora como uma espécie de urtiga brava arranhando-lhe a pele, excitando-o, enfurecendo-o de desejo. Agora sim, fazia questão! E não era somente questão de possuir o grumete, de gozá-lo como outrora, lá cima, no quartinho da Rua da Misericórdia: – era questão de gozá-lo, maltratando-o, vendo-o sofrer, ouvindo-o gemer… Não, não era somente o gozo comum, a sensação ordinária, o que ele queria depois das palavras de Herculano: era o prazer brutal, doloroso, fora de todas as leis, de todas as normas… E havia de tê-lo, custasse o que custasse!
Decididamente ia realizar o seu plano de fuga essa noite, ia desertar pelo mundo à procura de Aleixo.
Inquieto, sobre-excitado, nervoso, pôs-se a meditar. O grumete aparecia-lhe com uma feição nova, transfigurado pelos excessos do amor, degenerado, sem aquele arzinho bisonho que todos lhe admiravam, o rosto áspero, crivado de espinhas, magro, sem cor, sem sangue nos lábios… Pudera! Um homem não resiste, quanto mais uma criança! Aleixo devia de estar muito acabado; via-o nos braços da amante, da tal rapariga – ele novo, ela mocinha, na flor dos vinte anos -, via-o rolar em espasmos luxuriosos, grudado à mulher, sobre uma cama fresca e alva – rolar e cair extenuado, crucificado, morto de fraqueza… Depois a rapariga debruçava-se sobre ele, juntava boca à boca num grande beijo de reconhecimento. E no dia seguinte, na noite seguinte, a mesma cousa.
(CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. São Paulo: Ediouro, s/d. p. 73-74.)
Texto IV
Mas quando todas as luzes da península se apagaram ao mesmo tempo, apagón lhe chamaram depois em Espanha, negrum numa aldeia portuguesa ainda inventora de palavras, quando quinhentos e oitenta e um mil quilómetros quadrados de terras se tornaram invisíveis na face do mundo, então não houve mais dúvidas, o fim de tudo chegara. Valeu a extinção total das luzes não ter durado mais do que quinze minutos, até que se completaram as conexões de emergência que punham em acção os recursos energéticos próprios, nesta altura do ano escassos, pleno verão, Agosto pleno, seca, míngua das albufeiras, escassez das centrais térmicas, as nucleares malditas, mas foi verdadeiramente o pandemónio peninsular, os diabos à solta, o medo frio, o aquelarre, um terramoto não teria sido pior em efeitos morais. Era noite, o princípio dela, quando a maioria das pessoas já recolheram a casa, estão uns sentados a olhar a televisão, nas cozinhas as mulheres preparam o jantar, um pai mais paciente ensina, incerto, o problema de aritmética, parece que a felicidade não é muita, mas logo se viu quanto afinal valia, este pavor, esta escuridão de breu, este borrão de tinta caído sobre a Ibéria, Não nos retires a luz, Senhor, faz que ela volte, e eu te prometo que até ao fim da minha vida não te farei outro pedido, isto diziam os pecadores arrependidos, que sempre exageram.
(SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p.35-36.)
1. Considere as afirmativas a seguir, relativas aos textos I, II, III e IV.
I. O texto I exemplifica a presença de expressões próprias da oralidade no texto literário, o que se comprova em “já vê…” e “de a pé”.
II. No texto II, a presença da oralidade em “[…] Minhas saudades ensurdecidas por cigarras! […]” é um recurso típico do modernismo português.
III. O texto III é um exemplo de variante histórica, pois traz marcas da norma padrão do português utilizado no Brasil do século XIX, como se nota em “cousa”.
IV. No texto IV, os vocábulos “quilómetros” e “acção” são marcas do português europeu, uma das variantes da língua portuguesa.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
2. Filme-enigma de Christopher Nolan gera discussões sobre significado e citações ocultas ou óbvias em sua trama onírica
Certa vez o sábio taoísta Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta. Ao acordar, entretanto, ele não sabia mais se era um homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que agora sonhava ser um homem.
Será que Dom Cobb está sonhando? Será que a vida real é esta mesma ou somos nós que sonhamos?
Alguns podem ir ao cinema para assistir “A Origem”, de Christopher Nolan (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”) e achar tão chato que vão sonhar de verdade, dormindo na fase de sono REM.
Mas outros estão sonhando acordados. Em blogs, sites e grupos de discussão, os já fanáticos pelo filme de Nolan apontam referências (de mitologia grega), veem citações (de “Lost”), tecem teorias malucas e conspiratórias (o sonho dentro do sonho).
Alguns acusam o diretor de copiar filmes os mais variados, de “Blade Runner” (1982) a “eXistenZ” (1999), de se inspirar em “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (1968) e até de roubar a ideia de um quadrinho do Tio Patinhas de 2002.
O fato é que Nolan acertou o alvo. E ele sabia do potencial “nerdístico” de seu filme. Tanto é que cogitou mudar a canção que toca no filme todo, “Non, Je Ne Regrette Rien”, com Edith Piaf, porque uma das atrizes escaladas, Marion Cotillard, havia vivido a cantora francesa em um filme de 2007.
(…)
Além da música, uma boa diversão de “A Origem” é identificar os objetos impossíveis deixados por Nolan ao longo do filme. A escada de Penrose, criada pelo psiquiatra britânico Lionel Penrose, aparece diversas vezes na tela – e também inspirou o quadro que tenta explicar facetas do longa.
Melhor ir ver o filme e não pensar em escadas… No que você está pensando agora?
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1908201010.htm)
O texto permite afirmar que o potencial “nerdístico” do filme
a) está associado às marcas de metalinguagem.
b) advém da trama onírica que induz ideias subliminares.
c) resulta das fortes referências intertextuais.
d) origina-se da mistura entre realidade e ficção.
e) decorre da associação entre o sonho e a escada de Penrose.
3.
As diferentes esferas sociais de uso da língua obrigam o falante a adaptá-la as variadas situações de comunicação.
Uma das marcas linguísticas que configuram a linguagem oral informal usada entre avô e neto neste texto é
a) a opção pelo emprego da forma verbal “era” em lugar de “foi”.
b) a ausência de artigo antes da palavra “árvore”.
c) o emprego da redução “tá” em lugar da forma verbal “está”.
d) o uso da contração “desse” em lugar da expressão “de esse”.
e) a utilização do pronome “que” em início de frase exclamativa.
4. S.O.S Português
Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse aspecto da língua com base em duas perspectivas. Na primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que restringe o ensino da língua ao código. Dai vem o entendimento de que a escrita e mais complexa que a fala, e seu ensino restringe-se ao conhecimento das regras gramaticais, sem a preocupação com situações de uso. Outra abordagem permite encarar as diferenças como um produto distinto de duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A questão e que nem sempre nos damos conta disso.
S.O.S Português. Nova Escola. São Paulo: Abril,
Ano XXV, n.° 231, abr. 2010 (fragmento adaptado).
O assunto tratado no fragmento e relativo à língua portuguesa e foi publicado em uma revista destinada a professores. Entre as características próprias desse tipo de texto, identificam-se as marcas linguísticas próprias do uso
a) regional, pela presença de léxico de determinada região do Brasil.
b) literário, pela conformidade com as normas da gramática.
c) técnico, por meio de expressões próprias de textos científicos.
d) coloquial, por meio do registro de informalidade.
e) oral, por meio do uso de expressões típicas da oralidade.
5.
Pela evolução do texto, no que se refere à linguagem empregada, percebe-se que a garota
a) deseja afirmar-se como nora por meio de uma fala poética
b) utiliza expressões linguísticas próprias do discurso infantil.
c) usa apenas expressões linguísticas presentes no discurso formal.
d) se expressa utilizando marcas do discurso formal e do informal.
e) usa palavras com sentido pejorativo para assustar o interlocutor.
6. Mostre que sua memória é melhor do que a de computador e guarde esta condição: 12x sem juros.
Campanha publicitária de loja de eletroeletrônicos. Revista Época. N.° 424, 03 de jul. 2006.
Ao circularem socialmente, os textos realizam-se como práticas de linguagem, assumindo configurações específicas, formais e de conteúdo. Considerando o contexto em que circula o texto publicitário, seu objetivo básico é:
a) influenciar o comportamento do leitor, por meio de apelos que visam à adesão ao consumo.
b) definir regras de comportamento social pautadas no combate ao consumismo exagerado.
c) defender a importância do conhecimento de informática pela população de baixo poder aquisitivo.
d) facilitar o uso de equipamentos de informática pelas classes sociais economicamente
a) desfavorecidas.
e) questionar o fato de o homem ser mais inteligente que a máquina, mesmo a mais moderna.
7. Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu… Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se
a) na fonologia.
b) no uso do léxico.
c) no grau de formalidade.
d) na organização sintática.
e) na estruturação morfológica.
8. O texto a seguir é um trecho de uma conversa por meio de um programa de computador que permite comunicação direta pela Internet em tempo real, como o MSN Messenger. Esse tipo de conversa, embora escrita, apresenta muitas características da linguagem falada, segundo alguns linguistas. Uma delas é a interação ao vivo e imediata, que permite ao interlocutor conhecer, quase instantaneamente, a reação do outro, por meio de suas respostas e dos famosos emoticons (que podem ser definidos como “ícones que demonstram emoção”).
João diz: oi
Pedro diz: blz?
João diz: na paz e vc?
Pedro diz: tudo trank ☺
João diz: oq vc ta fazendo?
[…]
Pedro diz: tenho q sair agora…
João diz: flw
Pedro diz: vlw, abc
Para que a comunicação, como no MSN Messenger se dê em tempo real, é necessário que a escrita das informações seja rápida, o que é feito por meio de
a) frases completas, escritas cuidadosamente com acentos e letras maiúsculas (como “oq vc ta fazendo?”).
b) frases curtas e simples (como “tudo trank”) com abreviaturas padronizadas pelo uso (como “vc” — você —“vlw” — valeu!).
c) uso de reticências no final da frase, para que não se tenha que escrever o resto da informação.
d) estruturas coordenadas, como “na paz e vc”.
e) flexão verbal rica e substituição de dígrafos consonantais por consoantes simples (“qu” por “k”).
9. De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser o menor. Tem bico redondo e rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três filhotes, cada um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando. O menino levou-os para casa, inventou comidinhas para eles; um morreu, outro morreu, ficou um.
Rubem Braga
Das afirmações sobre o verbo destacado em “que tem no Brasil”, qual a única incorreta?
a) É um uso típico da variante popular da língua.
b) Pode ser corretamente substituído por há.
c) Seu valor semântico difere daquele que apresenta nas demais ocorrências.
d) É um verbo impessoal cujo objeto direto é o pronome que.
e) Pode ser corretamente substituído por existe.
Gabarito
1. E
A afirmativa II está errada, pois não existem marcas de oralidade no trecho em “[…] Minhas saudades ensurdecidas/ por cigarras! […]” e é inadequado o uso de uma autora brasileira como exemplo de características do Modernismo português. Todas as demais afirmações são corretas.
2. C
O termo “nerd” caracteriza, de forma estereotipada, uma pessoa com inteligência acima da média e que exerce intensas atividades intelectuais. As inúmeras referências a que o filme de Nolan faz alusão, algumas explícitas como, por exemplo, a escada de Penrose e outras tecidas pela imaginação do público (“Blade Runner”, “eXistenZ”, “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, quadrinho do Tio Patinhas) permitem afirmar que o potencial “nerdístico” do filme resulta do interesse que provoca no mundo intelectual, como se afirma em [C].
3. C
Na opção a), o pretérito imperfeito reproduz um passado ainda presente no momento da enunciação, em b), o substantivo está sendo usado de uma forma genérica, o que torna pertinente a ausência do artigo. Em d), acontece a aglutinação da preposição com o pronome demonstrativo e em e), o pronome enfatiza a emoção do enunciador. Assim, a única opção que apresenta linguagem oral informal é c), pois é comum a redução das palavras no cotidiano do falar brasileiro, usando “tá” em vez de “está”.
4. C
O texto tematiza as diferentes formas linguísticas de expressão, sobretudo no que diz respeito às modalidades oral e escrita. Ao abordar o assunto em uma revista destinada a professores, o autor usa a função metalinguística da linguagem, já que usa o código para explicar o próprio código, ou seja, usa termos técnicos (“código”, “regras gramaticais”), típicos de textos científicos, para analisar a própria língua.
5. D
A formalidade do discurso da garota é interrompida no último quadro, quando usa a expressão “vai ter de tomar jeito”, típica da linguagem informal, para insinuar que, quando casar com Hamlet, Hagar deve melhorar o seu comportamento.
6. A
A mensagem é centrada no receptor e organiza-se de forma a influenciá-lo, ou chamar a sua atenção. O uso de verbos no imperativo (“mostre” e “guarde”) configura a função apelativa ou conativa da linguagem de maneira a persuadir o leitor e obter sua adesão ao consumo, sobretudo ao facilitar a forma de pagamento.
7. A
A Fonologia (do Grego phonos = som e logos = estudo) é o ramo da Línguística que estuda o sistema sonoro de um idioma. Ao comentar as variações que se percebem no falar de pessoas de diferentes regiões (“Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu… Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer”), a autora analisa as mudanças fonéticas características de cada região.
8. B
O candidato descartaria a alternativa A, porque a linguagem usada no MSN é elaborada a partir de um código próprio, diverso das frases cuidadosas, grandes, cujas palavras recebem acento.
A afirmação C está correta, mas é incompleta, tomando como referência a alternativa B e o enunciado.
A alternativa D está incorreta, porque essa estrutura coordenada não é exclusiva de uma mensagem rápida.
A flexão verbal não é rica, ao contrário, o uso das expressões verbais são coloquiais, como “oq vc ta fazendo?”, “tenho que sair agora”. Por isso não está correta a alternativa E.
9. E