Blog Descomplica

UFF 2010 – Prova de História

Atualizado em

Compartilhe

Boa noite, meus nerds favoritos! 🙂

Sei que está todo mundo curtindo o final de semana e não quer nem pensar em estudar, mas oDesconversa não para nunca e por isso hoje tem mais um post para vocês!

Na última postagem fizemos uma atividade diferente e hoje vamos repetir a dose. Dessa vez, o foco será na prova específica de história de 2010 da UFF (Universidade Federal Fluminense). O vídeo abaixo mostra a resolução apenas da primeira questão, que tematiza a colonização européia na América, mas se quiser conferir todas as outras é só entrar no Descomplica e aprender muito com o professor Bob.

E aí, preparados para a viagem no tempo? Então, vamos lá! 😀

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=wycfp1fgSi8[/youtube]

00:00 – História

UFF 2010 – Específica – Questão 1

Professor: Bob

– Questão 1 – História (Prova Específica) – UFF 2010 –

‘’O advento da Modernidade trouxe uma nova visão sobre povos e culturas. O encontro com o Novo Mundo americano e o reencontro com as culturas orientais refizeram teorias e produziram preconceitos. Esses preconceitos adquiriram ao longo dos séculos seguintes ao século XVI sentidos políticos e sociais capazes de torná-los parte das políticas de Estado dos países europeus.

Com base nessa afirmação:

a) explique o significado de eurocentrismo no período dos séculos XVI e XVII;

b) analise a opção dos europeus pela escravidão dos negros africanos no contexto do mercantilismo.’’

00:15 UFF, 2010. Vamos trabalhar a primeira questão, na qual os dois itens, letra A e letra B, tematizam sobre a colonização européia na América. A letra A trata de um assunto que muitas das vezes não é colocado em provas, o que deve ter assustado alguns candidatos na época em que estavam fazendo, que é o conceito de eurocentrismo.

00:40 É um conceito que está embutido em todas as aulas de história, a começar pelo fato de que muitos livros didáticos, até hoje, começam a história da América, ou começam a história do Brasil, a partir da chegada dos portugueses e espanhóis a América, como se antes disso não houvesse absolutamente nada e nem ninguém aqui no continente. Essa idéia do eurocentrismo é exatamente uma fixação da cultura européia, ou seja, a idéia de que a Europa é o centro. A Europa veio colonizar, ou seja, os portugueses e espanhóis vieram colonizar o Brasil e o resto da América, então, eles vieram para essa colonização trazendoseus valores culturais, que seriam superiores aos dos selvagens e indígenas, ou dos escravos africanos. Esses valores vão estar representados dentro da colonização o tempo inteiro. Vão estar representados, por exemplo, na arquitetura das cidades. Se você anda um pouco pelo centro do Rio de Janeiro, principalmente no chamado centro antigo do Rio de Janeiro, ali pela praça XV, você verá claramente a influência portuguesa na nossa arquitetura. O Arco do Teles, por exemplo, na praça XV, é um grande exemplo disso. Aquela é uma arquitetura tipicamente portuguesa.

02:05 Como também teremos a influência da moda francesa, que vai entrar aqui via corte portuguesa. Quando a corte vem para cá em 1808, ela traz consigo boa parte da cultura portuguesa, que já estava aqui e que vai ser consolidada, mas traz também a cultura francesa, que pode ser retratada na vinda da missão artística francesa pra cá, que vai trazer pintores, como Debret, mas vai trazer também cientistas, botânicos e etc. Então, essa questão do eurocentrismo está colocada na questão da arte, da arquitetura, e desses valores culturais que seriam superiores ao dessas populações. É necessário que se entenda cultura de uma forma bastante ampla, ou seja, até mesmo da forma como se come, como se comporta. O modo de vida europeu era considerado civilizado e o modo de vida africano e das populações ameríndias seria considerado como selvagem. Óbvio que isso é discutível, mas a questão não estava pedindo uma análise crítica, ela queria que se fizesse uma análise sobre o que era esse eurocentrismo. Esse eurocentrismo, na verdade, é essa imposição, e mais até do que a imposição, é, na verdade, a valorização da cultura européia se comparada à cultura dos povos que aqui viviam.

03:35 A letra B já é uma questão bastante clássica. Ou seja, os motivos que levaram Portugal a optar pela escravidão negra e pelo tráfico negreiro. Pra gente não só responder a questão, mas também poder pensar um pouco e desdobrar em outras possibilidades de questôes que possam aparecer, vamos lembrar uma coisa que é importante e que hoje em todos os livros didáticos começam a aparecer, que é a análise de que o Brasil não teve só escravidão negra. Na verdade, até o início do século XVII, preponderantemente, a nossa escravidão era indígena.

04:20 Existem estudos bem recentes disso que mostram engenhos de açúcar, por exemplo, na Bahia. Em uma pesquisa que foi feita nessa região a partir de testamentos e de documentos de propriedade de escravos, se percebeu lá que 80% dos escravos que trabalhavam naqueles engenhos de açúcar eram índios, e não negros. Então, não podemos desconsiderar a escravidão indígena. Ela existiu e pelos menos até o inicio do século XVII ela foi majoritária, e nunca deixou de existir. Só que a partir do século XVII a escravidão negra vai ser maior do que a indígena. Mas a escravidão indígena, no inicio da colonização, chegou a ser bem maior. Então, esse é um dado que a gente não pode desconsiderar quando se fala em escravidão.

05:10 Outro cuidado que se deve ter em relação a qualquer questão que aparecer sobre escravidão no tráfico, é o de evitar aqueles dogmas que carregam muito preconceito e que infelizmente alguns livros ainda reproduzem. Aquela idéia de que se optou pelo negro porque o índio não se adaptou pelo trabalho e o negro se adaptou. Essa visão, na verdade, carrega dois preconceitos: O primeiro de que o índio é preguiçoso, que ele não se adaptou ao trabalho, porque ele não trabalha, o que não é verdade, visto que a gente acabou de falar que inclusive ele foi escravizado, mas isso carrega um preconceito. O outro é dizer que o negro se adaptou ao trabalho. Significa dizer que o negro se adaptou, não reagiu, gostou de trabalhar como escravo? Óbvio que não, ninguém gostaria. Então, evitem esse tipo de comentário ou de expressão quando vocês responderem qualquer questão de escravidão.

06:10 Bom, em relação ao tráfico, por que a opção pelo tráfico? Um elemento que eu colocaria, que no gabarito oficial nem está, mas eu acho que tem de ser colocado, em função até dessa questão da escravidão indígena, é de que a opção pelo tráfico negreiro vem exatamente quando a mão de obra indígena começa a ficar escassa. Ela começar a ficar escassa por conta de doenças, visto que os índios vão morrer através das doenças trazidas pelos portugueses, além da reação dos índios a escravidão, visto que os índios não aceitaram passivamente essa escravidão, e acabaram fugindo, até porque pro índio fugir era muito melhor e muito mais simples, pois estava dentro de sua própria terra e a conhecia bem, ou seja, a fuga do índio era relativamente mais fácil do que a do negro, por exemplo.

07:00 Então, esse é um dado que tem de ser levado em conta. A dificuldade de pegar esses índios, capturas esses índios, à medida que as tribos indígenas começam a ir para o interior, protegidas pelos jesuítas, o que é outra questão também, essa oposição dos padres jesuítas a escravização dos índios que também é responsável por dificultar a escravização indígena.Então, esse é um ponto que a gente tem que levar em conta para entender a opção pelo tráfico negreiro.

07:25 E o segundo ponto é aquele tradicional. Ou seja, o tráfico negreiro é um comércio. Nós estamos no período da transição do feudalismo pro capitalismo, onde os estados europeus adotam uma política mercantilista, na qual a atividade mais lucrativa era o comércio. E o que era o tráfico negreiro? Era um comércio. Um comércio de pessoas, de gente. Um comércio que começou na verdade a ser feito enquanto tráfico na África, o que também é outro ponto importante, e que recentemente a história tem feito a reavaliação. Esqueçamos aquela ideia de que os portugueses e os ingleses, que também fizeram tráfico, foram pra África capturar os negros. Na verdade, existiam tribos bastante fortes africanas, algumas até economicamente, que faziam o tráfico, que já usavam a escravidão e que negociaram escravos com os traficantes portugueses e ingleses, sendo esses negros trazidos pelos traficantes portugueses para o Brasil e negociados nos mercados de escravos.

08:30 No caso do Brasil, o tráfico era legalizado. Sendo legalizado como comércio, o Estado também poderia cobrar impostos. Então, o tráfico, na verdade, era lucrativo para dois tipos de pessoas, para dois elementos: Primeiro, era lucrativo para quem fazia, no caso o traficante, que acumulava capital, naquela ideia do comércio, do mercantilismo, ou seja, era interessante e lucrativo para ele. E era lucrativo também pro Estado, visto que o mesmo arrecadava impostos. Já que era uma atividade legal, eram cobrados impostos sobre o tráfico negreiro, sobre esse comércio de pessoas.

*

E aí, galera, descomplicou ou não?  Esse tal de professor Bob é fera mesmo, hein! 😀

Aproveitem para conferir também a resolução das outras quatro questões dessa prova aqui. Vale lembrar que a prova de história da UFF sempre foi uma referência nacional e merece uma atenção especial! 😉

Bons estudos e até a próxima! 🙂

Comentários

ícone de atenção ao erroícone de atenção ao erroícone de atenção ao erro

Hora do Treino de História - Ciências Humanas e suas Tecnologias

Últimos posts

Quer receber novidades em primeira mão?
Prontinho! Você receberá novidades na sua caixa de entrada.

Veja também

Separamos alguns conteúdos pra você