Tema de Redação: A música brasileira sob uma perspectiva de pureza cultural
O Tema de Redação da Semana 44 já está liberado! Quer saber qual é? Confira abaixo o tema e a proposta de redação, com a coletânea de textos, para você treinar a sua escrita e garantir uma boa nota do vestibular!
Vai ficar de fora? Confira o tema A música brasileira sob uma perspectiva de pureza cultural
Confira, abaixo, a proposta de redação.
Na última Flip, em 2016, José Ramos Tinhorão, importante jornalista e um dos mais respeitados pesquisadores da música brasileira, fez duras críticas àquela que acreditamos ser a nossa identidade: a MPB. Dentre diversas falas polêmicas, afirmou sentir pena de Tom Jobim, pois “ele tinha um equívoco fundamental: achava que compunha música brasileira”. De acordo com o crítico, a nossa música, por toda a sua mistura e influência, é uma farsa.
Com base neste recorte, produza um texto dissertativo-argumentativo – claro, coerente e bem fundamentado – discutindo a música brasileira sob uma perspectiva de pureza cultural. Você deverá, em cerca de 25 linhas, contextualizar o tema, explicar posições e manifestar seu ponto de vista. A seleção de textos a seguir tem por objetivo discordar da visão de Tinhorão e, assim, ajudar você, candidato, a desenvolver suas próprias ideias a respeito da questão abordada. Alguns desses textos podem ser reproduzidos, em parte, na sua produção textual, mas em forma de DISCURSO INDIRETO ou PARÁFRASE, com as devidas fontes mencionadas na redação. Coloque um título em seu texto. NÃO ASSINE.
Texto 1
Se fosse nacional só o que é ameríndio, também os italianos não podiam empregar o órgão que é egípcio, o violino que é árabe, o cantochão que é grecoebraico, a polifonia que é nórdica, anglo-saxônica flamenga e o diabo. Os franceses não podiam usar a ópera que é italiana e muito menos a forma-de-sonata que é alemã. E como todos os povos da Europa são produto de migrações pré-históricas se conclui que não existe arte européia…
Mário de Andrade, em Ensaio sobre a música brasileira.
Texto 2
Essa história nossa do samba é fascinante porque se enriqueceu e mudou muito. Os movimentos que vinham surgindo na música brasileira, desde a bossa nova na década dos 50, já propunham uma abordagem diferente daquilo que se fazia tradicionalmente com o samba. As escolas de samba mudaram de ano para ano e elas incorporaram muita coisa nova também. Você pode dizer que o samba tem origem na África, com elementos da cultura portuguesa, com grandes influências aqui no Brasil, mas você vê que o povo foi antropofágico, pegou tudo e o devolveu de outra maneira. Nesses cem anos sempre houve experimentações, desconstruções, jovens talentos trazendo coisas novas… E essa linha rítmica, tão forte, só não desapareceu por um motivo: porque o povo não deixou. Já no começo dos anos 1970, eu ouvia produtores dizer: “Ihh, a gente tem que acabar com essa velharia aí”. Se um produtor diz isso tem um peso, mas as pessoas não deixaram de tocar, artistas gravavam sambas antigos e novos, incorporaram novas tecnologias, usaram um instrumental diferente, construíram versos de outra maneira… Tudo foi mudando, mas se fosse pelo mercado, o samba não seria o que hoje é.
Paulinho da Viola, em entrevista a María Martín, do jornal ElPaís Brasil, sobre o centenário do samba e suas origens.
Texto 3
Ora, a música brasileira se moderniza e continua brasileira, à medida que toda informação é aproveitada (e entendida) da vivência e da compreensão da realidade cultural brasileira. Realmente, o mais importante no momento é a criação de uma organicidade de cultura brasileira, uma estruturação que possibilite o trabalho em conjunto, inter-relacionando as artes e os ramos intelectuais. Para isto, nós da música popular devemos partir, creio, da compreensão emotiva e racional do que foi a música popular brasileira até agora; devemos criar uma possibilidade seletiva como base de criação. Se temos uma tradição e queremos fazer algo de novo dentro dela não só teremos de senti-la, mas conhecê-la. E é este conhecimento que vai nos dar a possibilidade de criar algo novo e coerente com ela.
Só a retomada da linha evolutiva pode nos dar uma organicidade para selecionar e ter um julgamento de criação. Dizer que samba só se faz com frigideira, tamborim e um violão sem sétimas e nonas não resolve o problema. Paulinho da Viola me falou há alguns dias da sua necessidade de incluir contrabaixo e bateria em seus discos. Tenho certeza que, se puder levar essa necessidade ao fato, ele terá contrabaixo e terá samba, assim como João Gilberto tem contrabaixo, violino, trompa, sétimas, nonas e tem samba. Aliás João Gilberto para mim é exatamente o momento em que isto aconteceu: a informação da modernidade musical utilizada na recriação, na renovação, no dar um passo à frente da música popular brasileira. Creio mesmo que a retomada da tradição da música brasileira deverá ser feita na medida em que João Gilberto fez. Apesar de artistas como Edu Lobo, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Maria da Graça (que pouca gente conhece) sugerirem esta retomada, em nenhum deles ela chega a ser inteira, integral.
Caetano Veloso, em mesa redonda para a Revista de Civilização Brasileira, em maio de 1966.
Texto 4
Porque, principalmente depois da bossa nova, tem a influência negra, é filha do samba, mas com um toque de jazz, um toque harmônico. E também tem influência dos grandes compositores da música clássica. Veja: Tom Jobim, nosso grande mestre, era um conhecedor profundo de Chopin e Debussy, dos impressionistas, entre muitos outros. E tudo isso está em nossa música, misturado, junto com os boleros cubanos e os ritmos mexicanos. O Brasil não exclui, assimila. O resultado foi complexo, rico e único.
Chico Buarque, em resposta à pergunta “por que a música brasileira é tão aceita,tão apreciada?”, feita durante entrevista de Antonio Jiménez Barca, do jornal ElPaís Brasil.
Texto 5
No samba tradicional, os instrumentistas não improvisavam, em geral as harmonias eram rígidas, as formações eram standard. Com a influência do jazz, abriu tudo isso, você podia introduzir qualquer instrumento num conjunto de samba, os instrumentistas improvisavam, as harmonias melhoraram muito e se enriqueceram, os instrumentistas tornaram-se excelentes e conheciam profundamente seus instrumentos, como é o caso de Baden e Tom. A influência foi benéfica porque houve uma descaracterização de nossa música. O samba estava sempre presente na bossa-nova. Além disso, a bossa-nova trouxe mais alegria e bom humor à nossa música, que andava muito voltada para a tristeza, a dor de corno, a fossa, naquela época do Antônio Maria. Com a bossa-nova a coisa ficou mais sadia, mais otimista, os sentimentos eram mais de comunicação, mais legais.
Vinicius de Moraes, em entrevista a Narceu de Almeida Filho, em 1979, publicado no livro As entrevistas de ele ela.