Vacinas invocam o que há de pior na humanidade: medo de agulhas, teorias da conspiração e questões de vestibular.
1. COMO SURGIU A VACINA?
Para entender a vacina e como ela vai cair no seu vestibular, vamos falar sobre seu surgimento?
A varíola foi uma das doenças mais devastadoras que a humanidade já enfrentou, e era responsável por 10% dos óbitos na Inglaterra do século XVIII.
No início do século XVIII, começaram práticas de inocular crianças com o vírus vivo da varíola, recolhendo pus das pústulas causadas pela doença e, com algodão, introduziam o vírus em uma pequena ferida. O sistema imune, então, teria contato com o vírus mais cedo e teria uma resposta melhor, e certamente era uma opção bem mais lucrativa que apanhar varíola por contágio pulmonar, com 40% de mortalidade.
Entra em cena o médico britânico Edward Jenner, em 1796, que fez uma observação interessante.
Jenner (o médico) observou, nas tetas das vacas, feridas semelhantes às que eram causadas pela varíola em humanos, e observou também que as mulheres que ordenhavam estas vacas não eram afetadas pela varíola humana, mas sim pela bovina. O médico então pegou um pouco de material dessas feridas das vacas e passou em arranhões no braço de um menino, filho de seu jardineiro, e observou que o jovem apresentou leves lesões e um pouco de febre, mas logo ficou curado. Então, Jenner pegou material da versão humana da doença e fez o mesmo procedimento na criança, que não apresentou sintomas. Esse procedimento foi testado em diversas outras crianças, com o mesmo resultado, surgindo assim a primeira vacina.
2. COMO A VACINA FUNCIONA?
A vacina contém um agente que se parece com o micro-organismo causador da doença que ela quer combater, como uma forma enfraquecida ou morta do patógeno. Ao ser injetado no corpo, esse material estimula o sistema imune do paciente, para que ele reconheça esse material como um corpo estranho e o destrua, sem que o paciente sofra os sintomas da doença. Após a destruição do material da vacina, o organismo mantém um “registro” daquele agente infeccioso, e, se for infectado por ele novamente, pode combate-lo rapidamente.
Vamos para um exemplo mais prático. Todos devem lembrar-se do H1N1, não? Pois bem, o governo distribuiu vacinas para grupos mais suscetíveis, como gestantes ou idosos. A vacina aumenta a imunidade das pessoas ao vírus… Por que?
Por apresentar uma forma enfraquecida do vírus, o corpo pode combatê-lo sem riscos em sua primeira resposta imune. Depois disso, haverá memória imunológica, e se o indivíduo entrar em contato com o vírus, uma segunda resposta imune, mais eficaz, entrará em ação.
3. VACINAS E SOROS SÃO PARECIDOS?
Essa é a resposta mais sutil possível:
Tatue um “NÃO” vermelho bem grande na testa e se olhe no espelho toda vez que essa dúvida tenebrosa passar pela sua cabeça. É sério. Há um abismo de diferença entre vacinas e soros.
Já discutimos o conceito das vacinas, e ficou claro que são medidas profiláticas, ou seja, preventivas. O objetivo de uma vacina é prevenir a manifestação da doença, mesmo que o patógeno infecte o indivíduo. Elas estimulam a produção de anticorpos, ou seja, são medidas de imunização ativas.
O soro, por outro lado, é produzido no corpo de outro animal. Por exemplo, o soro antiofídico (contra veneno de cobras), é produzido a partir dos anticorpos produzidos pelo cavalo, no qual injetaram pequenas quantidades do veneno que se quer combater. É uma medida mais imediata, usada para a cura de algum problema, e promove imunização passiva.
Portanto, vacinas:
- Medida preventiva
- Imunização ativa
- Antígeno enfraquecido ou inativado
E soros:
- Medida imediata
- Imunização passiva
- Anticorpos previamente produzidos por outro organismo
Essas diferenças são prato-cheio pra montagem de questão, pode acreditar.
4. VACINAS DO HPV
Em 2014, o governo começou a disponibilizar vacinas de HPV, tendo como seu alvo meninas de 10 a 13 anos. O HPV (inglês para papilomavírus humano) é o vírus de uma doença sexualmente transmissível, que pode infectar pele e mucosas. Não só causa verrugas extremamente dolorosas (muitas vezes afetando a região ano-genital), como pode também causar câncer no colo do útero. Existem diversos tipos de HPV, e a vacina é contra alguns dos mais agressivos (lembrem-se, vacinas produzem anticorpos específicos!).
Há dois motivos para meninas tão jovens serem os maiores alvos para essa vacina:
a) É improvável que meninas tão jovens tenham tido relações sexuais, portanto, não teriam sido expostas ao vírus. Vacinas são medidas profiláticas, ou seja, preventivas. O vírus muitas vezes é assintomático, logo, o portador nem ao menos sabe que está infectado. Uma menina previamente infectada pelo vírus que tome a vacina pode, posteriormente, vir a manifestar a doença. Isso significa que a vacina era um placebo? Não. Significa que ela já tinha o vírus antes de ser imunizada.
b) Pesquisas indicam que, nessa faixa etária, o sistema imune reage melhor a vacinações.
Isso significa que, depois de imunizada, o preservativo torna-se desnecessário nas relações sexuais que aquela moça virá a ter? É óbvio que não. HPV não é a única DST, e nem ao menos é a pior.
Considerando que a vacina saiu esse ano e deu o que falar, é bem capaz de se tornar questão no ENEM, fiquem ligados.
5. FEBRE AMARELA
Transmitida por mosquitos do gênero Aedes (te soa familiar?), ela segue o mesmo esquema da dengue: a fêmea do mosquito Aedes serve de vetor para o vírus após ingerir sangue de um primata contaminado. A maioria dos casos é de uma infecção leve com febre, dor de cabeça, calafrios, dor nas costas, náuseas e vômitos. Dura só de 3 a 4 dias, em geral. No entanto, 15% dos casos evoluem para uma forma tóxica, o paciente adquire um tom de pelo amarelado, por danos hepáticos, e dor abdominal. As febres ficam mais fortes e o paciente começa a vomitar sangue, e 1 em cada 5 casos da fase tóxica é letal. Sobreviver à infecção leva a uma imunidade permanente e geralmente não há danos permanentes aos órgãos em decorrência da doença.
A vacina é feita com o vírus atenuado e só tem efeito 10 dias após a aplicação, e é recomendado que mulheres amamentando adiem a vacinação até que a criança complete seis meses. A vacina tem altíssima eficácia e validade de 10 anos, e faz parte do plano básico de vacinação na infância nos estados onde a doença é endêmica. Por ser uma doença vacinável do Brasil, diversos vestibulares fizeram uso dela em questões.
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