Sabia que existem 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais com alguma deficiência no Brasil? 70% delas mal têm o ensino fundamental. Só essedado do IBGE já justifica a importância de se estudar educação inclusiva. Mas não apenas este.
Veja, a Unicef também divulgou que existem, no mundo, 240 milhões de Pessoas com Deficiência (PcD). Ou seja, é bastante óbvio que a sociedade é diversa e precisa aprender a se adaptar às diferentes necessidades.
É por isso que o estudo sobre a educação inclusiva é essencial, não apenas pra professores que já atuam na área e querem se profissionalizar, mas também pra profissionais de outros setores que gostariam de se aprofundar nesse assunto.
Por isso, se você quer entender os principais fundamentos sobre o tema, neste conteúdo vamos explicar o conceito de educação inclusiva, o cenário brasileiro, a ênfase na educação infantil, o papel do professor e da escola, e muito mais. Então, bora aprender!
1. O que é educação inclusiva?
Em linhas gerais, educação inclusiva tem a concepção de garantir o direito à educação a todos e todas. Isso posto, ela precisa assegurar a igualdade de oportunidades de maneira a contemplar todas as diversidades sociais, culturais, étnicas, sensoriais, físicas e de gênero.
Em outras palavras, os desafios pra um professor que trabalha com educação inclusiva incluem transformar e nortear a cultura e as políticas do sistema de ensino. O objetivo é certificar que todos consigam acessar e participar do processo de aprendizagem. Todos, sem exceção.
Como ela faz isso? Você vai entender essa resposta em detalhes no decorrer deste conteúdo, mas podemos adiantar que a educação inclusiva elimina barreiras que impedem a inclusão e participação de todos os cidadãos na jornada escolar.
Fundamentos
Esta é uma informação valiosa não apenas pro professor, que está estudando sobre os desafios da educação inclusiva, mas pra pais de alunos que estão em busca de escolas que se preocupam com essa modalidade de ensino.
Por isso, é pertinente questionar: como saber se a educação da instituição é realmente inclusiva? Simples, verifique se ela tem na cabeceira esses 5 fundamentos:
- Toda pessoa tem o direito de acesso à educação;
- Toda pessoa aprende;
- O processo de aprendizagem de cada pessoa é singular;
- O convívio no ambiente escolar comum beneficia todos;
- A educação inclusiva diz respeito a todos.
A gente negritou o último item de caso pensando, que é pra você saber que esse é o coração e o fundamento-base da educação inclusiva: ela precisa ser pra todo mundo.
Mas será que é assim que funciona no Brasil? Vamos entender melhor como estão as coisas por aqui.
2. A educação inclusiva no brasil
Veja bem, de acordo com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o Brasil tem um fator agravante quando o assunto é educação inclusiva: as desigualdades sociais. Segundo a Organização, isso afeta diretamente o acesso de jovens e adultos à escola.
Estudos mostram que, por aqui, os mais excluídos do processo educacional são os grupos étnico-raciais, a população mais pobre do campo, os jovens e adultos que não concluíram a educação dentro do período padrão, além de crianças e pessoas com deficiência.
Ainda, segundo a Unicef, em todo o país, 34,1% das crianças que não frequentaram a escola em 2020 eram indígenas. Outras 18,5% eram pretas e 16,7%, pardas. Portanto, as estatísticas mostram que a questão racial é um fator determinante pra exclusão.
História
Em outras épocas, lá no período colonial, as Pessoas com Deficiências (PcDs) eram confinadas à família, desde que não representassem um problema pra ordem pública. Nesse caso, eram recolhidas às Santas Casas – os antigos manicômios – ou até prisões.
Felizmente, o cenário mudou e a sociedade começou a perceber que PcDs também podem gozar dos mesmos direitos de todo o cidadão, incluindo o acesso ao conhecimento. Por isso, em 1854 foi criada a instituição “Imperial Instituto Meninos Cegos”, que deu início à educação inclusiva.
Três anos depois, foi inaugurado o Instituto dos Surdos Mudos – hoje, Instituto Nacional da Educação dos Surdos. Por outro lado, foi só a partir da década de 1950 que surgiram os movimentos sociais que lutavam contra políticas de segregação.
A partir desse momento, entendeu-se a importância da integração de pessoas com deficiência no processo de educação. E isso não apenas beneficia PcDs, mas principalmente a sociedade. Na verdade, é ela que tem deficiências que precisam ser adaptadas pra incluir todos os seus cidadãos.
O que diz a Lei?
Criada em 2015, a Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, traz avanços importantes pro setor da educação. Dessa forma, esta lei, por exemplo, proíbe que as escolas cobrem valores adicionais do aluno na hora de se adaptar à acessibilidade.
Mas não apenas isso, um ponto controverso da legislação cita que os alunos devem ser incluídos em todos os níveis. Por outro lado, não aborda se PcDs devem ser matriculados em escolas regulares – junto com estudantes sem deficiência – ou em escolas especiais.
É por isso que esse assunto tem gerado grandes debates, já que existem movimentos defendendo que a educação inclusiva não pode separar estudantes sem deficiências de PcDs. Além disso, nessa modalidade de educação, espera-se que a grade curricular seja a mesmapra que não haja discriminação.
É claro que a proposta não é abandonar PcDs estudantes à própria sorte. Existe a presença do professor auxiliar, mas este é um assunto que vamos abordar mais abaixo. Antes, é preciso falar dos desafios da educação inclusiva no Brasil.
Desafios
A preocupação em incluir todas as pessoas no processo de aprendizagem é algo que deve ser constante. Até porque, regularmente aparecem sugestões de leis e regras pra separar novamente as PcDs do convívio com a sociedade, tal qual acontecia no período colonial.
Mas existem questões pontuais no Brasil que dificultam que a educação seja efetivamente inclusiva. Vamos citar alguns:
Falta de infraestrutura
Vamos concordar que, sem estrutura, fica difícil promover a acessibilidade que o estudante necessita pra aprender. Portanto, a instituição deve estar equipada como todo o aparato necessário. Veja alguns exemplos:
- rampas de acesso;
- piso adaptado;
- banheiros acessíveis;
- equipe capacitada.
Infelizmente, nem toda escola consegue cumprir os requisitos básicos de acessibilidade. Aliás, essa é uma realidade bastante comum em escolas públicas.
Escola e pais despreparados
Quando a comunidade escolar não está preparada pra lidar com uma PcD, a inclusão fica mais difícil. Veja o exemplo da Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS. Ela é reconhecida como nossa segunda linguagem e, no entanto, não é ensinada pra quem não tem deficiência.
Isso significa que quando pessoas com deficiências entram em contato com estudantes sem essas condições, não haverá interação. Ou seja, não há inclusão aqui, e esse é um ponto de atenção no sistema escolar.
Ausência de profissionais qualificados
Esse tópico é continuação do anterior, uma vez que a falta de capacitação da equipe pedagógica é outro desafio para a educação inclusiva, principalmente no Brasil. Até porque, toda escola deveria ter um professor especializado em educação especial.
É esse profissional que vai dar o suporte ao aluno com deficiência, seja em sala de aula ou no contraturno. Mas não apenas isso, o professor especializado em educação inclusiva vai auxiliar toda a instituição de ensino; da equipe pedagógica até a estrutura das disciplinas
Em outras palavras, esse professor capacitado vai se preocupar com a educação, mas também com a estrutura da instituição sob o viés da acessibilidade.
Preconceito
Infelizmente, não tem como a gente deixar esse elemento de fora. O preconceito e a falta de conhecimento têm influência direta sobre os desafios da educação inclusiva. Existe um termo relativamente novo que vem nomeando a discriminação contra PcDs: o capacitismo. Já ouviu falar?
Grosso modo, uma atitude capacitista é quando alguém dá a entender que uma Pessoa com Deficiência é inferior. Isso pode acontecer na forma de comentários, piadas e expressões, até a exclusão em seleções. Essa falta de conhecimento atrasa todo o processo de inclusão.
Do mesmo modo, não são apenas PcDs adultas que sofrem discriminação. As crianças também podem ser vítimas de preconceito. É por isso que a educação inclusiva precisa ser pensada também na perspectiva da educação infantil. É disso que vamos tratar agora.
3. Educação inclusiva na educação infantil
Bem, você já sabe que a escola tem a obrigação de preparar todos os estudantes pra que convivam com a diversidade. Pra isso, ela deve se preocupar em considerar todas as diferenças e características individuais dos alunos.
O mesmo vale praeducação infantil, pois ela é a porta de entrada de crianças com deficiência. Mais que isso, a educação infantil precisa ser inclusiva a ponto de comportar todas as crianças, não importando suas condições físicas, emocionais, linguísticas e outras.
Também, está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação que é de responsabilidade do poder público garantir matrícula preferencial a esses estudantes na rede regular de ensino. E isso, assegurando apoio especializado.
4. A função do Estado na educação inclusiva
No início deste conteúdo, a gente trouxe um dado preocupante do IBGE: 70% das PcDs em idade escolar não têm sequer o ensino fundamental completo. Bem, considerando que boa parte desses estudantes são da escola pública, não fica difícil entender a importância do poder público nessa questão.
O que a gente quer dizer é que os governos têm o poder e a obrigação de criar políticas públicas de inclusão. Além disso, é papel do Estado – poderes municipal, estadual e federal – fiscalizar a aplicação das leis que defendem a inclusão de Pessoas com Deficiência.
Pra resumir, em um país carregado de desigualdades, sem a interferência do poder público, não haverá chances de inclusão a pessoas com diferentes demandas e necessidades. Isso significaria uma sociedade cada vez mais desigual e excludente.
5. O papel da escola na educação inclusiva
Na ordem natural das coisas, chegamos ao papel da escola no processo de educação inclusiva. Na verdade, a gente já deu algumas pinceladas sobre isso até aqui, mas separamos esse capítulo especial. Afinal, é na escola que começa toda essa revolução.
Tudo o que colocamos até agora precisa ser alinhado, planejado e colocado em prática. E é função da escola alinhar as estratégias pra chegar nesse objetivo. Muitas vezes, isso é definido junto a órgão governamentais, amparado pelas leis vigentes ou através de cartilhas.
De todo modo, é a unidade escolar que vai ajudar o professor a definir as estratégias pra que a educação inclusiva aconteça. Também, é ela que se preocupa em incluir essa necessidade em seu Plano Político Pedagógico, definindo os investimentos necessários pra alcançar esse fim.
Importância da tecnologia na educação inclusiva
E falando em investimentos, a gente já comentou que as instituições precisam adaptar a estrutura pra que seja acessível. Mas não só isso. A escola que quer promover a inclusão precisa investir em tecnologia.
Quer exemplos práticos? Os materiais didáticos e paradidáticos em braile, notebook com sintetizador de voz, programas pra comunicação alternativas, apps acessados pelo movimento dos olhos, entre outros.
Por outro lado, também astecnologias de informação, já presente nas escolas, precisam estar sempre atualizadas. Estamos falando de aparatos tecnológicos como computadores, internet, TV, rádio digital, Voip e etc.
A ideia aqui é facilitar o processo de educação,permitindo que alunos com uma ou várias deficiências possam lançar mãos dessas ferramentas pra decodificar e compreender o conhecimento que o professor está repassando.
6. O lugar do professor na educação inclusiva
De um lado, a gente já falou que sem um Estado forte fica difícil que as escolas, principalmente as públicas, consigam investir pesado em educação inclusiva. De outro, reafirmamos a necessidade de as escolas comprarem essa ideia.
Mas existe mais uma peça-chave que é parte importante desse processo. Estamos falando dos professores. Na verdade, considerando a falta de educadores capacitados pra educação inclusiva, precisamos comemorar cada profissional da educação que decide se especializar nessa área.
Veja, a Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê que os estudantes podem contar com o auxílio do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Em outras palavras, esse profissional age em parceria com o professor da sala. Juntos, eles analisam a evolução do aluno e definem as estratégias pra cada estudante.
Plano Educacional Individualizado
O PEI, ou Plano Educacional Individualizado é, basicamente, um planejamento de aula, só que específico pra necessidade do aluno com deficiência. Geralmente, esse documento é elaborado pelo professor com base na avaliação do estudante.
A ideia é descobrir as necessidades educacionais específicas de cada aluno. E isso é feito a partir de uma análise, normalmente realizada com o auxílio de um núcleo de apoio às pessoas com necessidades educacionais específicas, desenvolvido pelagestão da escola.
Ou seja, com esse planejamento, a equipe pedagógica fica por dentro dos conhecimentos prévios, necessidades e habilidades de cada aluno com deficiência. Isso também vale pra estudantes com transtornos globais de desenvolvimento, altas habilidades ou dificuldade de aprendizado.
Uma vez concluído, esse PEI deve ser aprovado pelo aluno ou por seu responsável, caso o estudante seja menor de idade. Desta forma, o professor consegue acompanhar o desenvolvimento do estudante e alterar a estratégia de ensino se achar necessário.
Atividades para a educação inclusiva
Promover atividades inclusivas significa construir estratégias pedagógicas pra permitir que todos em sala de aula aprendam. E isso, promovendo a interação entre as crianças, sempre levando em consideração as particularidades dos alunos e o grau de dificuldade da tarefa.
O que queremos dizer é que, com a atividade certa, é possível que o professor consiga unir as singularidades de cada aluno, aproveitando as experiências individuais pra, de fato, promover a educação inclusiva em seu potencial máximo. Veja alguns exemplos de atividades:
Contação de histórias
Não é novidade que contar história conecta nos interlocutores. Isso também funciona perfeitamente em sala de aula. Veja, ao usar esse recurso pedagógico, o professor pode explorar temas relevantes pra sociedade.
Dentro da história, também dá pra trabalhar conceitos como formas, cores, texturas e audiovisual. Isso também é importante pra estimular a imaginação, sempre considerando a necessidade do estudante.
Por exemplo, ao contar uma história pra crianças com deficiência visual, é preciso que o professor use recursos de acessibilidade, como a audiodescrição.
Livros falados
Excelente recurso pra estudantes com deficiência visual, essa maneira de ensinar também pode ser usada pelas famílias, dentro de casa. Os livros falados também são ótimos pra crianças com limitações motoras, cognitivas ou intelectual, ou pra crianças sem nenhum tipo de limitação.
Ou seja, esses audiolivros permitem que qualquer estudante tenha acesso ao conhecimento, usando a imaginação pra aprender com as histórias.
Livros em Libras
Por outro lado, alunos com deficiência auditiva podem contar com versões literárias escritas na Língua Brasileira de Sinais. Além dos materiais impressos que o professor pode levar pra sala de aula, é possível reescrever as histórias em LIBRAS.
Esse exercício pode e deve ser feito junto com os demais estudantes da turma. Desta forma, todos aprendem juntos a melhor maneira de se comunicar. E este é mais um passo importante pra ampliar aeducação inclusiva na escola.
Explorar o ambiente
Além dessas dicas, a equipe pedagógica pode promover momentos de saídas da sala de aula. Em outras palavras, levar os estudantes a explorar novos ambientes, interagindo com fontes de conhecimento do meio social e natural, como parques, hortas e praças, também é uma ótima atividade.
Por outro lado, se não quiserem sair da escola, também é possível que o professor use a criatividade pra criar espaços cênicos, improvisando com móveis e objetos que a escola já possui. Tudo isso pode ser feito pra estimular o imaginário dos estudantes e promover a interação.
Bônus: livros e filmes sobre educação inclusiva
Pois bem, agora que você conhece todos os desafios e detalhes que um profissional precisa saber sobre educação inclusiva, pode estar sentindo necessidade de saber um pouco mais sobre essa nobre função.
Pensando nisso, a gente separou um capítulo bônus especialmente pra inspirar você antes de decidir os próximos passos nessa profissão. Veja a seguir!
3 filmes sobre educação inclusiva
- “Tamara”: Animação curta-metragem de 2016, este é um filme pra todas as idades. Ele conta a história de uma garota surda que sonha em ser bailarina. Ótimo pra trabalhar em sala de aula.
- “Hoje eu quero voltar sozinho”: Filme de 2014, com classificação indicativa de 12 anos, esta obra conta a história de um estudante cego que luta pra ser independente.
- “Atypical”: Série gravada entre 2017 e 2021, não recomendada pra menores de 14 anos, essa história fala de um jovem autista e os desafios que enfrenta ao interagir com a sociedade, abordando a educação inclusiva.
3 livros sobre educação inclusiva
- “Pedagogia da autonomia”: clássico pra quem estuda educação inclusiva, nesta obra, Paulo Freire mostra que o ato de ensinar é capaz de criar uma ação transformadora e libertadora ao aluno.
- “Inclusão na prática: estratégias para uma educação inclusiva”: este livro de Rossana Ramos, reúne experiências e testemunhos sobre o processo de ensino-aprendizagem da educação inclusiva.
- “Educação inclusiva na prática”: obra organizada por Rodrigo Hübner Mendes, o livro mostra a relação de ensino e aprendizagem de PcDs na escola comum.
Pronto! Agora você tem o conhecimento necessário pra decidir os próximos passos que vai seguir na sua jornada profissional. Já sabe o cenário da educação inclusiva no Brasil, as necessidades, os objetivos e os desafios de incluir pessoas com deficiências.
Com isso, já percebeu a importância de profissões especializadas nessa modalidade de educação, que tem um espaço amplo e aquecido pra receber novos profissionais. Agora, o que acha queconhecer os detalhes da Pós-Graduação em Educação Inclusiva do Descomplica?