Oi, pessoal!
É hora de nos prepararmos para o último desafio do vestibular do Rio em 2010: a prova daUFF! Esta banca costuma ser bem eclética, e normalmente dá ao candidato, pelo menos, três “propostas” diferentes de redação, para que ele escolha uma. Se até agora vocês estavam acostumados a elaborarem somente dissertações argumentativas, podem respirar um pouco mais aliviados. A UFF dá algumas outras opções de texto, como a carta argumentativa, a narração, o artigo de opinião e até mesmo a descrição e o relato pessoal. Basta escolher aquele que vocês se sentem mais a vontade.
O texto que trouxe hoje é um artigo de opinião. A maior diferença dele para a dissertação argumentativa é o fato de que, no artigo, vocês podem usar a primeira pessoa do singular: “eu acho”, “eu penso”, “eu acredito”. No entanto, ele continua sendo um texto mais formal que a crônica, e ainda com a intenção de persuadir, convencer o leitor, que é genérico. Observem, postem suas dúvidas, e não se esqueçam de praticar!
Esta é a proposta 3 do vestibular UFF 2009, e o tema era: “A relação do homem com o dinheiro: a especulação, a produção, e o trabalho”.
RELACIONAMENTO ABERTO
Em uma de suas mais célebres obras, “Desejo”, o poeta e romancista francês Victor Hugo disse que, pelo menos uma vez por ano, devemos colocar parte do nosso dinheiro na nossa frente e dizer: “Isto é meu”, para ficar bem claro quem é o dono de quem. No entanto, nos dias atuais, é bem possível que essa relação tenha se invertido. Em um relacionamento instável, passional e dominador, é dinheiro que se vira para nós, homens, e diz: você é meu. Todo meu.
As sociedades capitalistas atuais têm suas normas e preceitos baseados na especulação. Parte integrante delas que somos, ingressamos em todo e qualquer negócio visando os lucros. Tal fato não ocorre sem razão, pois é reflexo da doutrina materialista que nos cerca. Somos mais valorizados – e valorizamos – o que temos e não o que somos, criando rótulos superficiais e perpetuando o círculo vicioso que afirma que nossa importância no mundo é diretamente proporcional ao número de zeros e casas decimais em nosso extrato bancário.
Além dos rótulos criados em cima de nós mesmos, formamos verdades absolutas que, na verdade, são frágeis. A produção de bens materiais visa à maximização dos lucros, o que pode passar por cima de critérios como necessidade e utilidade. Profundamente influenciados por uma mídia de massa que dita o que deve ser consumido, usado, comprado, vestido, acabamos por nos acreditar na idéia de que precisamos de um celular que toca a música do artista do momento, embora ele exerça exatamente as mesmas funções do aparelho que já temos no bolso.
Tal frenesi em torno do dinheiro nos cega para os mais simples princípios. Queremos ter, mas que isso não signifique muito esforço. Casos de corrupção e desvios de verbas estampam os jornais de todo o mundo, o que demonstra que muitos optam pelo jeito mais fácil para se ganhar dinheiro, confirmando o comodismo inerente ao homem. Se posso tê-lo de maneira fácil, por que vou percorrer o caminho mais difícil? Poucos ainda procuram enriquecer por meio do trabalho, de forma digna.
Assim, creio que, hoje, a relação do homem com o dinheiro é tão pouco saudável quanto aquela entre um casal de namorados possessivos. Um quer ser o dono do outro, quer dominar e não ser dominado, enxergando o outro como posse, como objeto. No entanto, precisamos compreender que, sendo inanimado, o dinheiro não pode nos dominar. Sem hipocrisias, é necessário que tenhamos dinheiro, mas que seja o suficiente para vivermos com conforto, sabendo que somos os donos dele, e não o contrário. Esse relacionamento, para durar, deve existir em liberdade.