Até 40 anos atrás, nosso país importava a maior parte dos alimentos de origem agropecuária que consumimos.
O jogo virou e hoje, além de ter ocorrido uma significativa redução no preço da cesta básica, o Brasil se tornou um dos maiores exportadores agropecuários do mundo.
“A terra não gira: ela capota”, diriam alguns sábios na internet. Mas, infelizmente, essa mudança no perfil da participação do país na economia e na divisão internacional do trabalho (DIT) global é um pouquinho mais complexa que isso.
Hoje eu e você vamos conversar sobre os principais aspectos da agropecuária brasileira.
Voltaremos um cadinho na história do país (olhe a interdisciplinaridade que o Enem adora aí!) para entender as bases de todo esse processo e assim (e te prometo) compreenderemos, ao final, porque que a coisa está como está.
Aliás, como ela está? É sobre isso nosso papo. Bora lá?!
Breve história da agropecuária brasileira
Novamente: para entendermos como chegamos ao patamar de sermos, por exemplo, o terceiro maior exportador de alimentos do mundo (e também porque mesmo assim ainda há fome no campo) precisamos compreender como o processo de formação socioespacial brasileira conduziu – e foi conduzido pela – a agropecuária.
A agropecuária brasileira no período colonial
E o primeiro passo é voltarmos ao “pecado original”: a formação colonial.
Você sabe certamente que em 1500 os portugueses não chegaram aqui de avião e aportaram no meio do Mato Grosso. Eles vieram com suas estonteantes caravelas e aportaram no litoral atlântico, evidentemente.
E aqui fizeram a primeira divisão de terras: desigual e elitizada. Não mudou muuuuita coisa em termos de concentração de posse de terras de lá para cá.
Quer dizer, a posse da terra (especialmente das boas, férteis) no Brasil continua nas mãos de poucos (e ricos, muito ricos).
Um breve spoiler só para você ter uma ideia: atualmente, 45% de toda a área rural do país está ocupada por grandes propriedades. Estas grandes propriedades que representam apenas 0,91% do total dos estabelecimentos rurais brasileiros.
Por outro lado, os estabelecimentos com área inferior a dez hectares (47% do total de estabelecimentos) ocupam menos de 2,3% da área total.
Aí o tempo passou e uma série de “ideologias geográficas”, isto é, de políticas espaciais ideológicas, são utilizadas como discursos por diferentes governos para justificar uma suposta necessidade para determinados projetos.
Agropecuária do Brasil Império ao século XX
Assim, quando D. Pedro II declara nossa independência o discurso era: “vamos construir país!”.
Construir o país significava levar a “civilização” ao sertão, ou seja, ao interior (não o sertão nordestino). A civilização nesse caso era, na verdade, a apropriação de terras e submissão dos povos tradicionais do interior da nação que nascia.
Da colonização até quase meados do século passado, mesmo tendo nos tornado “civilizados”, nos mantivemos como uma economia essencialmente agroexportadora.
O que isso significa? Significa que o nosso papel na Divisão Internacional do Trabalho consistia em exportar produtos primários, sobretudo, agropecuários.
Significa também que a economia do país girava em torno de produtos agrários: cana-de-açúcar, algodão, café, tabaco…
Dando um salto triplo-mega-ultra-mortal, chegamos ao século XX onde a ideologia da modernização que vinha das cidades foi chegando aos campos.
Modernização essa àquela época feita com a grana que vinha dos campos!
É, cara! O dinheiro que vinha do primeiro “ouro negro” do Brasil: o café. Que estava entrando em crise. Uma derradeira crise.
Contudo, toda aquela grana gerada pelo café e o aporte de infraestrutura que esse mesmo capital permitiu (portos, ferrovias, etc), somados à chegada ao poder de um grupo político liderado por um cara de aproximadamente 1,60m (é sério!) conduz o país a uma nova etapa da sua economia: a industrialização.
A agropecuária e a Era Vargas
E essa mesma industrialização, pouco a pouco, vai influenciar diretamente numa série de transformações na agropecuária brasileira.
Estamos falando do início das famosas Era Vargas (1930-1945) e industrialização brasileira (clique nos hiperlinks e reveja ou aprofunde seus conhecimentos sobre elas). Naquele período, 80% da população ainda vivia do e no campo e aproximadamente 60% do PIB vinha de lá.
A agropecuária e Juscelino Kubitschek
Com JK (1956-61) sob a ideologia do desenvolvimentismo produziu o afamado Plano Metas que, de maneira resumida, leva a um boom da produção industrial. É nesse momento que o Brasil se torna um país urbano: ou seja, a maior parte da população passa a viver nas cidades.
É importante destacar que todas essas modernizações não atingia igualmente todas regiões do país. Assim, grandes migrações para o Centro-Sul do país (onde se concentravam as principais cidades e indústrias) ocorreram nesse momento.
E a agropecuária com isso? Exemplo de também. Isso porque JK que costumava dizer que o “automóvel é o motor do país”, de certa maneira, ele não mentiu.
Porque, cara, trator também é automóvel. E o que vai parar de trator nos pastos e plantações do Brasil não está no gibi! Não esqueçamos que a mecanização da agricultura era uma das metas do (perdoem-me a redundância) Plano de Metas.
É aí também que explodem os movimentos pela reforma agrária.
Basicamente porquê (e essa história, já te aviso, se repetirá) a economia crescia, a produtividade agropecuária também, mas a população rural continuava vivendo em condições miseráveis.
A agropecuária na ditadura militar
Finalmente chegamos ao período ditatorial (1965-1985) no qual uma série de políticas alinhadas ao ideal da Revolução Verde elevam ainda mais o projeto de modernização da agricultura.
Com o objetivo de elevar a produtividade novas estruturas,técnicas e metodologias são introduzidas no campo. Isso significa ampliação da mecanização e do uso das biotecnologias.
Esse momento é marcado por uma intensa integração técnica agricultura e indústria.
Ou seja, uma integração entre a produção primária de alimentos e matérias primas e os ramos industriais afins. A esse processo damos o nome de “caificação”: formação dos CAI’s (Complexos AgroIndustriais), maiores aceleradores dos processos de modernização.
A introdução de todo aparato tecnológico trazido pelos pacotes da Revolução Verde tem como consequências uma enorme expansão da produção agropecuária.
Entre 1975 e 2017 o salto foi de aproximadamente seis vezes.
E assim o Brasil se tornou uma potência regional na produção das chamadas commodities, (matérias-primas para produtos industrializados comercializadas no mercado financeiro das bolsas de valores)
Maneirão, né?!
Mas aí vêm as contradições… Toda essa modernização e expansão da produtividade no país não foi acompanhada pela redução da concentração fundiária, nem por uma melhoria significativa da qualidade de vida das populações rurais e nem das desigualdades regionais.
Por isso, meu caro e minha cara, podemos dizer que tratou-se de uma modernização conservadora, porque não modificou as bases da estrutura agrária nacional, e concentrada, porque, como o nome sugere, não foi distribuída igualmente entre as regiões do país.
Principais características da agropecuária brasileira hoje
Diante de tudo isso, as décadas de 1990 a 2010, grosso modo foram marcadas por uma certa continuidade no ritmo de crescimento da produtividade no campo do Brasil.
Desse modo, é importante destacar que até hoje este país conserva bem uma tradição:ser um grande agroexportador de matérias-primas (ou commodities, para usar o termo correto).
É que aproximadamente 23% do PIB e 46% do valor da pauta de exportações vem desse setor. A produção de grãos atualmente é de aproximadamente 230 milhões de toneladas. Somos o terceiro maior exportador.
A entrada de empresas processadoras no mercado entre 1950 e 1970 permitiu um enorme crescimento da produção avícola do país.
No que tange a suinocultura, os melhoramento genéticos além de aumentarem a produtividade conduziu o país a quarta posição na produção mundial. Em termos de gado somos o segundo maior.
Pense o quanto isso não representa em termos de divisas. Tá fraco não, né?!
Mas é aqui moram as contradições.
Contada essa produtividade é preciso elencar algumas questões inerentes à agropecuária brasileira. Vamos falar sobre isso!
Questões importantes sobre a agropecuária no Brasil
Reforma Agrária
A enorme concentração de terras no Brasil vem desde a colonização. Superar esse pecado inicial é necessário pois ele é uma das maiores raízes dos conflitos no campo no país.
Há muita terra com pouca gente e muita gente com pouca terra. Esse cenário gera muita instabilidade e violência no campo, que, muito além dos efeitos disso para o PIB do país, agrava as desigualdades.
Avanço da fronteira agrícola e os danos ambientais
O avanço da fronteira agrícola em direção ao Cerrado e a Amazônia têm enormes consequências ambientais.
A supressão da vegetação original além de reduzir a biodiversidade, agrava problemas e intensifica o aquecimento global.
Além disso, o uso de insumos agrícolas (agrotóxicos, fertilizantes químicos) é responsável pela contaminação do solo e das águas.
Isso sem mencionar os efeitos destes e dos transgênicos para a saúde humana!
Atenção aos povos e comunidades tradicionais
Os problemas ambientais e o avanço da fronteira agrícola esbarram nos modos de vida dos povos e comunidades tradicionais do interior do Brasil.
Estes, que além de possuírem práticas milenares de subsistência e harmonia com a natureza, são acuados e expropriados de suas terras na medida em que fronteira avança.
Muitas vezes esse processo é acompanhado de episódios de violência.
Valorização da agricultura familiar
Uma das maiores contradições da modernização da agropecuária nacional é que esta provocou um enorme desemprego estrutural no campo na medida em que máquinas e técnicas foram sendo introduzidas.
Ademais, os pacotes tecnológicos advindos da Revolução Verde subordinaram os pequenos agricultores, que se endividaram e muitas vezes ficam expostos ao uso de insumos químicos sem a proteção adequada dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).
Assim, a valorização da agricultura familiar é fundamental, pois, a maior parte da produção de alimentos consumidos internamente no país vêm desta modalidade e não dos latifúndios.
Dessa maneira, políticas de incentivo e facilitação de acesso ao crédito, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), são imprescindíveis.
São inúmeros os desafios da agropecuária nacional.
Ela é uma das principais forças motrizes do país, mas, tais contradições limitam um crescimento que vá na direção da sustentabilidade ambiental, social e econômica.
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