Em 1945, ao adentrar no território polonês, o Exército Vermelho descobriu um grande complexo de campos de concentração e extermínio. Apesar de conseguirem salvar milhares de sobreviventes, outros milhões já haviam morrido ao longo dos anos.
Desta forma, a vida dos grupos que sofreram com o holocausto jamais foi a mesma. Não apenas pelos traumas psicológicos que se perpetuaram, mas também pela miséria, perseguição, perda de seus lares e familiares. Conheça agora algumas das consequências do holocausto para os grupos que sofreram com um dos maiores genocídios da história.
O que foi o holocausto
O Holocausto foi o genocídio comandado pelo regime nazista contra a população judaica de países europeus, como Alemanha, Áustria, Polônia, Holanda, Checoslováquia, entre outros.
Além de judeus, também foram perseguidos e enviados para campos de concentração e extermínio alguns grupos que eram minorias como ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes físicos, negros, povos de etnias eslavas, entre outros.
O alto número de mortos
Durante a Segunda Guerra, milhões de pessoas foram mortas nos campos de batalha, lutando pelos seus países. No entanto, um grande número de pessoas também acabou sendo vítima deste cenário sem nunca pegar em armas. Esse foi o caso do holocausto, que vitimou cerca de 9 milhões de pessoas dentro de campos de concentração e extermínio.
Dentre eles, Judeus, Ciganos, Comunistas, Anarquistas, Russos, Testemunhas de Jeová, deficientes físicos, poloneses e homossexuais foram as principais vítimas. Muitas vezes não havia contagem e, no final da guerra, o processo se tornou ainda mais intenso. Por isso, os números até hoje ainda são imprecisos e aproximados, sendo certamente superiores aos levantados por historiadores.
Para registrarmos esse horror e construirmos a memória dessas vítimas, é necessário quantificar e identificar esses mortos, portanto, podemos estimar alguns números:
Grupo | Número de mortes |
Judeus | 6 milhões |
Civis soviéticos | Cerca de 7 milhões (incluindo judeus) |
Militares soviéticos | Cerca de 3 milhões (incluindo judeus) |
Civis poloneses não-judeus | Cerca de 1.8 milhões |
Civis sérvios (territórios da Croácia, Bósnia e Herzegovina) | 312.000 |
Pessoas com deficiências que viviam em instituições para lá serem cuidadas | Até 250.000 |
Roma (Ciganos) | Até 250.000 |
Testemunhas de Jeová | Cerca de 1.900 |
Criminosos reincidentes e os denominados antissociais | Pelo menos 70.000 |
Alemães oponentes políticos e ativistas dos movimentos de resistência dentro dos territórios ocupados pelos países do Eixo | Número indeterminado |
Homossexuais | Centenas, possivelmente milhares (presumivelmente agregados de forma parcial dentre os criminosos reincidentes e aqueles denominados como anti-sociais, acima mencionados) |
Fonte: United States Holocaust Memorial Museum
Percebe-se, portanto que as maiores vítimas do holocausto foram os indivíduos de origem judaica. Estima-se que no período viviam na Europa cerca de 9 milhões de judeus. Portanto, cerca de 2/3 deles foram vítimas do Holocausto. Dentre eles, encontram-se mais de 1 milhão de crianças, mais de 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens.
A miséria e as migrações forçadas pós-holocausto
Após a libertação dos campos de concentração, em 1945, os antigos prisioneiros carregaram eternamente os traumas do holocausto. Inicialmente, muitos não puderam retornar para os seus lares, destruídos pela guerra e passaram a conviver novamente com a miséria, o luto e a fome.
Atualmente, muitas pesquisas revelam as consequências psicológicas do holocausto. Muitos dos sobreviventes desenvolveram diversas síndromes, depressão e transtornos psicológicos. Outros, graças aos trabalhos e a subnutrição passaram o resto da vida com as marcas da dor em suas peles. Muitos jamais voltaram à Europa ou à Alemanha, preferindo migrar e começar uma nova vida longe de tudo.
Neste cenário, os campos para refugiados gerenciados pela Administração das Nações Unidas para Assistência e Reabilitação (UNRRA) se tornou uma opção. Entretanto, muitos dos que tentaram retornar para os seus lares encontraram ainda o preconceito e a violência. O antissemitismo não havia acabado com a derrota nazista, pois existe há milênios e continuou persistindo. Logo, milhares de judeus sobreviventes continuaram sendo perseguidos ainda em 1946.
Os ataques antissemitas, chamados de pogroms foram constantes em regiões do leste europeu e da Polônia. Em 1946, por exemplo, na cidade polonesa de Kielce, 42 judeus foram espancados e mortos ao tentarem retomar suas vidas.
Desta forma, muitos precisaram migrar para longe de seus territórios natais, apostar em uma nova vida como imigrante. A Europa ocidental e a América foram os principais refúgios, principalmente para os Judeus. Organizações como a Sh’erit Hapleitah (“sobreviventes”, em hebraico) ainda tentaram apoiar uma rede de imigrantes, para que tivessem novas oportunidades.
Neste cenário, muitos judeus sobreviventes retomaram o projeto sionista, com migrações para a região da Palestina. O local, considerado sagrado pelos Judeus, era reivindicado há anos por esse grupo. Assim, após o holocausto, a pressão para a criação de um Estado judaico na região aumentou, dando origem, assim, em 1848, ao Estado de Israel.
A formação do Estado de Israel
A terra sagrada
O território conhecido pelos Judeus como Eretz Israel é considerado sagrado desde a antiguidade. Segundo a cosmogonia judaica, a terra teria disso prometida por Deus aos patriarcas judaicos. Entretanto, ao longo do tempo, as invasões de assírios, babilônios, romanos e até mesmo do Império Turco-Otomano (1517) provocou a expulsão dos judeus de Israel.
Durante os séculos de Idade Média e Moderna, a presença judaica na região sempre foi oscilante. Muitas vezes, a pequena comunidade judaica se viu em conflitos com a maioria muçulmana da região e até mesmo com os católicos que lá viviam. Apenas no século XIX que, lentamente, a população judaica passou a aumentar na região.
As migrações judaicas
Neste período, as 4 cidades sagradas: Jerusalém, Hebrom, Safed e Tiberíades passaram a contar com uma considerável população judaica. Alguns registros revelam que uma grande onda migratória, conhecida como a 1ª Aliyah (1881) teria sido fundamental para o aumento dessa ocupação de judeus na Palestina.
Uma segunda onda migratória importante teria ocorrido entre 1904 e 1914. Nesta onda, estima-se que cerca de 40.000 judeus tenham migrado para a Palestina, fugindo principalmente das perseguições.
Esse movimento migratório também foi influenciado pela maior circulação do pensamento sionista. Este, influenciado pela onda nacionalista, pretendia construir um Estado judaico na terra sagrada de Israel. Assim, novas ondas migratórias passaram a ampliar a quantidade de judeus na região e a luta pela construção do Estado.
Entre 1919 e a década de 1930, com a ascensão do nazismo, mais 3 Aliyah ocorreram. Essas ondas levaram para a Palestina, agora sob domínio britânico, cerca de 350.000 judeus. Com este cenário, cerca de 33% da população da Palestina era judaica e passou a conviver em constante conflito com os muçulmanos.
A formação do Estado
Com o término da guerra e toda a situação causada pelo holocausto e pelas disputas entre árabes e judeus, soluções foram tomadas. No dia 29 de novembro de 1947, a Resolução 181 foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A resolução dividiu o território da Palestina entre os judeus (33% da população) que receberam 56% do território e árabes, que receberam 44%.
Apesar da parcela árabe não ter aceitado o acordo, os judeus logo se armaram e garantiram a resolução. No dia 14 de maio de 1948, os judeus declararam a independência e a fundação do Estado de Israel. Os povos árabes, em resposta, organizaram uma aliança entre Egito, Síria, Líbano e Iraque que, no dia seguinte, ocuparam a Palestina.
O conflito trouxe ainda mais instabilidade para o Oriente Médio, levando milhares de pessoas a morte. Outras milhares foram forçadas a migrar, como cerca de 800 mil judeus que buscaram refúgio em Israel.
Enfim, em 1949, o Estado de Israel garantiu a vitória nesses conflitos e sua sobrevivência. Apesar desse primeiro momento, a comunidade judaica ainda estava abalada pelo holocausto e ainda passaria por mais combates nos anos seguintes.
O julgamento pelos crimes de guerra
No Tribunal de Nuremberg, foram julgados, entre 1945 e 1949 diversos colaboradores do nazismo. Dentre eles, oficiais militares, advogados, médicos, empresários e políticos.
Os acusados foram capturados no final da guerra e foram julgados com base na Carta de Londres, criada pelos aliados:
- Crimes contra a paz;
- Crimes de guerra;
- Crimes contra a humanidade.
Este julgamento foi um marco para o direito internacional e para a constituição da Corte Internacional de Justiça. Dentre os principais acusados estavam:
- Hermann Goering (herdeiro indicado por Hitler);
- Rudolf Hess (vice-líder do Partido Nazista);
- Joachim von Ribbentrop (ministro das relações exteriores);
- Wilhelm Keitel (chefe das forças armadas);
- Wilhelm Frick (ministro do interior);
- Ernst Kaltenbrunner (chefe das forças de segurança);
- Hans Frank (governador-geral da Polônia ocupada);
- Konstantin von Neurath (governador da Boêmia e da Morávia);
- Erich Raeder (chefe das forças navais);
- Karl Doenitz (sucessor de Raeder);
- Alfred Jodl (comando das forças armadas);
- Alfred Rosenberg (ministro dos territórios ocupados do leste);
- Baldur von Schirach (chefe da Juventude Hitleriana);
- Julius Streicher (nazista, editor antissemita radical);
- Fritz Sauckel (chefe da alocação de trabalhadores escravos);
- Albert Speer (ministro de armamentos);
- Arthur Seyss-Inquart (comissário para a Holanda ocupada);
- Martin Bormann (ajudante de Hitler) foi julgado in absentia.
Assim, dos réus que foram julgados e receberam suas sentenças. Dentre eles, 12 foram condenados à morte:
- Goering;
- Ribbentrop;
- Keitel;
- Kaltenbrunner;
- Rosenberg;
- Frank;
- Frick;
- Streicher;
- Sauckel;
- Jodl;
- SeyssInquart;
- Bormann.
Três à prisão perpétua:
- Hess;
- Walther Funk;
- Raeder.
Quatro receberam penas de 10 a 20 anos:
- Doenitz;
- Schirach;
- Speer;
- Neurath.
Três foram absolvidos:
- Hjalmar Schacht;
- Franz von Papen
- Hans Fritzsche
Um dos mais importantes processos foi o de Adolf Eichmann, que ajudou a deportar e executar milhões de judeus. Eichmann foi julgado anos depois, em Israel e após ser declarado culpado, foi executado em 1962.
A construção da memória do holocausto
A construção de memórias sobre os eventos do holocausto também foi um processo conturbado. Muitas das fontes e informações sobre o genocídio foram apagadas pelos próprios nazistas no final da guerra. Assim, a quantificação dos mortos ou a descrição do funcionamento dos campos e perseguições, muitas vezes, foram feitos através de relatos.
Entretanto, muitos dos ex-prisioneiros se encontravam após a guerra em estados de luto profundo. Além do mais, muitos perderam suas identidades, seus lares e nacionalidades, tornando-se praticamente invisíveis. Assim, tocar na ferida que era o holocausto e nas memórias dos campos, nas primeiras décadas, ainda era algo delicado.
Desta forma, até hoje, muitos relatos e documentos ainda são descobertos sobre o cotidiano e a violência nos campos de concentração. Desta forma, muitas pesquisas são produzidas em grandes centros espalhados pelo mundo. Esses estudos, atualmente, destacam não apenas as barbaridades do holocausto, como visam combater o pensamento negacionista e fascista.
É importante também destacar que muitos museus, centros de pesquisas, monumentos e eventos de memória são produzidos pela comunidade judaica. Esta, graças ao apoio de muitos líderes mundiais, banqueiros e empresários, consegue financiar mundialmente a produção de memória. Essa produção tem sido tão importante que no dia 27 de janeiro é celebrado mundialmente o dia da Memória do Holocausto.
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