Português: Exercícios de revisão
1. (ENEM-2006)
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele e quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquemáticas,
atropelam-me,
aturdem-me,
sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em:
a) situações formais e informais.
b) diferentes regiões dos pais
c) escolas literárias distintas.
d) textos técnicos e poéticos
2. (ENEM-2012)
Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois
a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.
b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.
c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.
d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação
3. (Unicamp-2010)
Na propaganda do dicionário Aurélio, a expressão “bom pra burro” é polissêmica, e remete a uma representação do dicionário. Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nessa propaganda.
4. (Unicamp-1992)
Ler adequadamente esta tira significa entender o que está subentendido no enunciado de Stock (“eu também”) e perceber que no último quadrinho existe a possibilidade de tal enunciado ser interpretado de duas maneiras diferentes:
a) Quais são as duas maneiras possíveis de interpretar o enunciado de Stock no último quadrinho
b) Qual a palavra da fala de Wood que é fundamental para que a última fala de Stock possa ser interpretada de duas maneiras?
5. (ENEM-2004)
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
― Sois cristão?
― Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
― Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
(Oswald de Andrade)
Esse texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é:
a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem.
b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira.
c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos.
d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas.
e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade.
6. (ENEM-2004)
A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do
a) poeta e do colonizador apenas.
b) colonizador e do negro apenas.
c) negro e do índio apenas.
d) colonizador, do poeta e do negro apenas.
e) poeta, do colonizador, do índio e do negro.
7. (ENEM-2004)
Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)
Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se
a) Metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
b) Intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
c) Ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
d) Denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
e) Prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.
8. (FUVEST-2010) Leia o seguinte texto:
Um músico ambulante toca sua sanfoninha no viaduto do Chá, em São Paulo.
Chega o “rapa” e o interrompe:
— Você tem licença?
— Não, senhor.
— Então me acompanhe.
— Sim, senhor. E que música o senhor vai cantar?
Reescreva o diálogo que compõe o texto, usando o discurso indireto. Comece com:
O fiscal do “rapa” perguntou ao músico…
9. (FUVEST-2002)
Diálogo ultra-rápido
— Eu queria propor-lhe uma troca de idéias …
— Deus me livre!
(Mário Quintana)
Transforme o diálogo anterior em um único período, utilizando apenas o discurso indireto e conservando o sentido do texto.
10. (FVG-SP-2007)
Pastora de nuvens, fui posta a serviço por uma campina
tão desamparada que não principia nem também termina,
e onde nunca é noite e nunca madrugada.
(Pastores da terra, vós tendes sossego, que olhais para o
sol e encontrais direção. Sabeis quando é tarde, sabeis
quando é cedo. Eu, não.)
Cecilia Meireles
Esse trecho faz parte de um poema de Cecília Meireles, intitulado Destino, uma espécie de profissão de fé da autora. A palavra desamparada é formada por:
a) derivação prefixal e sufixal.
b) derivação prefixal.
c) derivação parassintética.
d) composição por aglutinação.
e) composição por justaposição.
Checklist de português para colocar a matéria em dia
Gabarito
1. A
Resolução passo-a-passo:
Para resolver essa questão é preciso ter atenção ao enunciado. Um aluno desatento provavelmente relacionaria a “função emotiva”, citada no comando da questão, ao texto poético e poderia marcar a letra D . Uma leitura atenta, entretanto, nos mostra que o direcionamento que se quer dar ao usar a “função emotiva” é focar na vivência do eu-lírico, nas suas impressões. Observe que o poema começa em terceira pessoa e termina em primeira pessoa. No primeiro momento ele fala da dimensão da linguagem e depois usa o professor Carlos Gois para expressar a linguagem formal, com suas “figuras de gramática, esquipáticas”. Quando entra a primeira e pessoa (função emotiva), o eu-lírico começa a falar das suas experiências cotidianas, marcadas pelo uso informal da língua. Logo, fica claro que o poema explora o contraste no uso da língua em situações formais e informais.
2. B
Resolução passo-a-passo:
Trata-se de uma questão típica, daquelas que deixam o aluno em dúvida entre duas opções. Aqueles que simplesmente decoram as especificações de cada função, sem pensar sobre o contexto e sobre o foco comunicativo, certamente, marcariam a letra C. O simples uso do verbo no imperativo já configura um motivo para se pensar em uma função conativa.
O texto se inicia com “desculpem-me”, uma referência direta ao interlocutor, o que justificaria a confusão. Entretanto, está claro que, apesar de se dirigir a um interlocutor, o texto não o tem como foco, mas sim as angústias e os problemas do enunciador, ou seja, prevalece a função emotiva da linguagem. Portanto, a opção correta é a letra B.
Dica: Em questões sofre função da linguagem, você deve analisar com cuidado o objetivo comunicativo do texto e perceber qual função prevalece. Podem aparecer características de funções variadas, mas uma sempre prevalece, seja na totalidade do texto, ou em algum trecho selecionado pela questão.
3.
Resolução passo-a-passo:
A expressão “bom pra burro” pode ter um caráter de intensidade, significando algo muito bom e, dentro do contexto, remete o leitor à famosa expressão “o pai dos burros”, usada pela linguagem popular para se referir ao dicionário. O humor se constrói relacionando esses dois sentidos possíveis, pois, além de ser muito bom, pode-se pensar que o dicionário também é bom para as pessoas “burras”, sem conhecimento, como diz a fala popular.
4.
Resolução passo-a-passo:
a) Pode-se dizer que ele passou o tempo fazendo sexo com uma mulher qualquer ou com a noiva do outro personagem.
b) O pronome possessivo “minha”, pois indica que não era uma mulher qualquer, mas sim a noiva do Wood.
5. A
Resolução passo-a-passo:
O poema mostra como foi o processo de formação do Brasil, ou seja, permeado pela cultura indígena, portuguesa e africana. O diálogo aparentemente confuso entre as três etnias configura a variação presente na língua portuguesa. Os elementos linguísticos indígenas e africanos, marcados pela sonoridade, e a tentativa de diálogo do português resultaram na festa profana chamada Carnaval.
Portanto, podemos dizer que o poema é marcado pela ambiguidade, pois admite uma falta de liderança por parte do colonizador, que não consegue impor sua língua e sua cultura. Porém, ao mesmo tempo, o poema reconhece o potencial criativo de influências tão diferentes, com a criação do Carnaval. Ou seja, um evento cultural marcado pela diversidade.
6. E
Resolução passo-a-passo:
No poema temos o discurso direto marcado pelas vozes do colonizador, do índio e do negro. Além disso, não podemos nos esquecer do narrador, ou seja, o poeta.
7. C
Resolução passo-a-passo:
Como sabemos, a ironia consiste em expressar algo, querendo dizer o oposto.
Os dois últimos versos do poema se opõem à descrição aparentemente positiva dos versos anteriores. Comparar Montes Claros com uma cidade grande pode significar desenvolvimento e prosperidade, mas, ao dizer que já há favelas por lá, o poeta compara um aspecto negativo. Portanto, fica clara a ironia do autor. Dizer que a cidade está desenvolvendo um processo de favelização não é um acontecimento digno da exclamação “Que beleza!”.
8.
Resolução passo-a-passo:
Para passar um texto no discurso direto para o discurso indireto, é necessário ficar atento ao tempo verbal. Observe como ficaria a transcrição:
O fiscal do “rapa” perguntou ao músico se ele tinha licença. Ele respondeu que não, tratando-o por senhor. O fiscal, então, exigiu-lhe que o acompanhasse. O músico concordou respeitosamente e perguntou-lhe que música iria cantar.
Note que os verbos que estavam no presente do indicativo passaram para o pretérito perfeito; os verbos no imperativo passaram para o presente do subjuntivo (“Me acompanhe”/ que o acompanhasse) e o verbo no futuro passou para o futuro do pretérito (“vai cantar”/ iria cantar). Além disso, é preciso alterar os pronomes para a terceira pessoa, já que o narrador está “distante” da cena narrada.
9.
Resolução passo-a-passo:
Possibilidade: “Um disse ao outro que queria propor uma troca de ideias, mas o outro respondeu que Deus o livrasse daquilo”.
10.
O verbo “desamparar” vem de “amparar”. Temos, então, o prefixo des– , de valor negativo, e o sufixo –ada. Como na língua portuguesa existe a palavra “amparada”, não podemos dizer que esses afixos uniram-se ao radical simultaneamente, mas sim em momentos diferentes. Portanto, teríamos uma derivação chamada de prefixal e sufixal.
Lembre-se de que a parassíntese só ocorre quando há o acréscimo simultâneo do prefixo e do sufixo ao radical.
Exemplo: EN tarde CEr – entardecer
Como não há a palavra “tardecer” com português, sabemos que os dois afixos foram acrescentados ao radical ao mesmo tempo.