Polêmica: há 22 anos, a Grécia legalizava totalmente o aborto. E você? O que tem a dizer sobre isso?
Hora da polêmica: o direito ao aborto vem se tornando um grande tópico de discussões. De um lado, fala-se da liberdade feminina e das várias circunstâncias que tornariam impossível (ou ao menos muito ruim) criar uma criança; do outro, grupos religiosos e conservadores deixam clara sua oposição.
Seja como for, amiguinhos, vamos repetir o mantra da paz e do amor, certo? <3 No Brasil, é considerado crime contra a vida humana, exceto em três casos: quando há risco de vida para a mulher causado pela gravidez, quando a gravidez é resultante de um estupro ou se o feto for anencefálico. Pois é, estamos entrando em um território bem bad vibe. Entretanto, em outros países do mundo, como os EUA, o aborto já é legal há muito tempo.
A Rússia se tornou o primeiro país a legalizar o aborto – apesar de bani-lo novamente em 1936. Ao longo do século XX, países como Hungria, Dinamarca e França também mudaram suas legislações. Países como a Islândia, por exemplo, legalizaram o aborto apenas em certas circunstâncias médicas e sociais, isto é, se o feto tiver alguma doença congênita, ou se a mãe for incapacitada de criar a criança por já ter vários filhos, ter uma condição familiar ruim ou sofrer de alguma doença. Em 27 de janeiro de 1994, a Grécia passaria a tornar legal o aborto em todas as circunstâncias, desde que feito antes de se completarem 12 semanas de gravidez.
Sabemos que é um assunto que rende debates fervorosos. Já pensou se cai no seu vestibular? É melhor você estar preparado para falar sobre ele. Por isso, confira três artigos de opinião com diferentes pontos de vista sobre a legalização do aborto e fique por dentro de tudo para mandar bem!
TEXTO I
A legalização do aborto
Walter Filho
Sempre que estamos diante do pleito presidencial surge no tablado das campanhas a discussão sobre o aborto. Candidatos tentam esquivar-se de perguntas diretas e ficam tentando agradar a gregos e troianos. O importante é não perder votos. A frase mais emblemática que já li envolvendo o debate sobre a legalização do aborto foi proferida pelo então presidente dos EUA, Ronald Reagan, quando disse: Só é a favor do aborto quem já nasceu.
Como nasci e estou vivo, posso externar minha opinião acerca de um tema tão sensível para todos nós. De saída, qualifico o gesto agressivo do aborto contra o feto um homicídio disfarçado em que a vítima não pode se defender – o ato mais covarde do ser humano. Infelizmente, na discussão sempre entra o tema religião e os dogmas de todos os matizes são evocados para justificar posições contra e a favor. As paixões são postas acima de tudo, esquecendo o bem maior que é a vida e o direito de nascer.
A querela deve ficar no campo da razão, deixemos de lado as religiões que na sua maioria são contrárias ao aborto. Vamos imaginar cada um de nós no útero de nossa querida mãe e, de repente, vem um veneno e nos extermina sumariamente. Como é esta agonia do indefeso? Ele ainda não existe? Ele não sente dor? Temos este direito de decidir e impedir o nascer de alguém em gestação?!
Sabemos que a vida começa com a fecundação, isto é provado cientificamente, portanto, não se trata de concepção teológica ou argumentos metafísicos. Se a vida existe na fecundação, praticar o aborto é crime. As mulheres que vivem no meio social mais baixo se submetem a cirurgias bárbaras, pois seus algozes usam faca em forma de foice para dilacerar o corpo do feto que é retirado em pedaços.
Infelizmente, algumas destas mulheres, por razões de desespero, buscam meios clandestinos e arrancam de seus úteros o nascituro – talvez o drama mais amargo a carregar para sempre na existência.
Fonte: O Povo. Acesso em 27/01/2016.
TEXTO II
Sou evangélica e a favor da legalização do aborto
Talita Ribeiro
Não comente antes de ler. Este é o meu primeiro pedido, porque sei que muitos terão vontade de fazer isso após verem o título desse post. Mas, por favor, tente aguentar só um pouquinho a necessidade de impor a sua opinião e sua “moral” antes de entender o que o outro, nesse caso eu, pensa. Sei que com esse texto estou abrindo um imenso teto de vidro para pedras que virão de variados lados, porém, acho importante lançar este debate no meio das mulheres cristãs.
Eu não sou a favor do aborto, mas sou a favor da legalização dele até o início do terceiro mês de gravidez, para que mulheres não continuem morrendo após a intervenção em clínicas clandestinas e em condições precárias, para que mulheres não continuem sendo marginalizadas após um ato de escolha sobre o seu corpo, com base nas suas crenças e realidade. Sou absolutamente contra a imposição da minha fé e meus preceitos morais a todxs.
Se Deus, que é Deus, deu livre arbítrio aos seres humanos, por que eu, que sou apenas uma “pessoa”, defenderia intervenções legais que limitam e, muitas vezes, condenam mulheres à morte e a complicações psicológicas e de saúde? Com base na minha fé eu faço as minhas escolhas e espero que todos tenham esse direito. Porém, sei bem que como sociedade temos que viver de acordo com algumas regras, baseadas em algo comum a todos, como a racionalidade, por isso a observação sobre a legalização até a 8ª semana de gestação, quando o embrião é o que eu chamo de “possibilidade de vida”, não um “ser vivo”, já que ainda não tem atividade cerebral.
Segura o dedo antes de me xingar! Quando uma pessoa deixa de ter atividade cerebral nós a consideramos morta, não é? É morte cerebral e ninguém discute isso. Por que eu deveria tratar um embrião – ele ainda não é nem um feto -, como um ser humano vivo, se ele não tem sinapse e é apenas uma possibilidade de vida, que depende 100% do corpo da mulher para se desenvolver? Um embrião não se desenvolve se a mulher que o carrega não estiver… Viva. Quem nós devemos proteger, então?
Sempre quando leio “a favor da vida”, fico pensando porque quem consegue ver vida até em um embrião não consegue enxergar o óbvio, a vida da mulher que o carrega, mesmo sem querer. “Mas ela deveria ter evitado.” Você sabe em que contexto esse embrião foi gerado? Em uma cultura em que a mulher é “sempre culpada”, não é de se estranhar que ninguém se dê ao trabalho de olhar de forma mais ampla a questão do aborto e da sexualidade no Brasil e no mundo.
A violência sexual contra mulheres ainda é um tabu para boa parte da nossa sociedade, que prefere dizer que nós “provocamos”, “procuramos”, “não evitamos”… A encarar que NADA justifica um estupro. “Ah, mas nesse caso a mulher já pode abortar.” Pode mesmo? Mas só se ela assumir que foi estuprada e estender a humilhação de ter sido violentada por delegacias machistas, juizados de um estado que finge ser laico, hospitais superlotados, médicos que não querem realizar a intervenção, os vizinhos que “desconfiam”, religiosos que a condenam…? E só se der a “sorte” de morar em uma cidade com centros de referência, não é?
É injusto. É violento. É desumano. E se eu sou cristã e a bíblia diz que nós vivemos através da compaixão, da misericórdia e do perdão que compartilhamos, não posso aceitar isso. E mais, não posso apoiar que o Estado intervenha nas decisões de uma mulher com base nas minhas crenças. Porque, como o Pr. Ed René Kivitz colocou em uma entrevista, “se quiserem construir uma sociedade que apedreja e condena pecadores, nós vamos apedrejar uns aos outros e o último apedrejará a si mesmo e morrerá. Não se constrói uma sociedade que discute pecado e penaliza o pecado. Não se deve julgar, mas discernir o que é certo, o que eu quero ou não pra minha vida, e respeitar e acolher o outro que escolhe diferente”.
É disso que estou falando, do direito do outro fazer inclusive o que eu acho errado. Até porque faço várias coisas que são condenáveis em outras religiões e, sendo sincera, na minha também. E ficaria muito incomodada se o estado quisesse tomar o lugar de Deus e me julgar por esses atos ou impor como devo ou não me relacionar com o meu corpo. “Mas isso é só a sua opinião contra a bíblia”, não, isso é só a minha opinião com base na história de Jesus que é contada na bíblia. Duvida? Então leia a passagem João 8, do versículo 1 ao 11.
O meu Deus é o que não deixa uma mulher ser apedrejada em praça pública, que levanta uma juíza como Débora para libertar seu povo, que escolhe uma prostituta para andar ao seu lado, que cura uma mulher que todos evitavam, que ressuscita/sara uma menina considerada morta, que ama e honra as mulheres. Não o que as subestima ou tenta domá-las, esses são os religiosos, que não merecem a minha fé, voto ou apoio.
Fonte: M de Mulher. Acesso em 27/01/2016.
TEXTO III
Quem manda em nossos corpos?
Helena Zelic
A rapper Luana Hansen diz, em uma de suas músicas, que “lutar pela legalização do aborto é lutar pela saúde da mulher”.
As mulheres, organizadas em grupos feministas, vêm lutando há anos pela legalização do aborto. É por que as feministas são malvadas e querem matar bebês? É por que as feministas só pensam em si mesmas? É por que as feministas são umas loucas sem coração?
Não. É porque o direito à escolha sobre o próprio corpo é algo que deve ser assegurado a todas. É porque não queremos mais mulheres morrendo por terem que apelar para abortos inseguros, clandestinos, que muitas vezes levam à morte. Queremos poder escolher, e mais: queremos que haja atendimento legal por todo o país, de forma acessível.
Mas a situação hoje é diferente. O aborto é legalizado até a 20ª semana de gestação em casos de estupro, risco de vida à mulher ou se o feto for anencéfalo. Não é tudo o que queremos, mas já é um avanço. Porém, das 5.570 cidades do país, apenas 65 possuem atendimento. Isso exclui realmente muitas mulheres, torna o aborto possível apenas para quem está perto das tais cidades e, ainda, quem tem informação sobre o assunto.
Os direitos das mulheres passaram por uma reviravolta nas últimas semanas. A deputada Iara Bernardi (PT) fez o projeto de lei que tornava obrigatório o atendimento adequado para aborto legal – nos casos já citados – em toda a rede SUS. Isso foi aprovado em 2013. No último 22 de maio, tornou-se oficial a portaria 415/2014, que inclui o serviço do aborto legal no SUS, com um repasse de R$443 a cada operação.
A lei foi aprovada. As feministas vibraram. Mas, em questão de uma semana, setores religiosos pressionaram fortemente pela revogação da lei. O ministro da saúde bambeou as pernas e fez tal vontade.
Acho que o ponto não está exatamente na religião. Não queremos que, com a legalização, todas as mulheres do mundo abortem e odeiem deus (qualquer que seja ele). Como já disse: queremos poder escolher. Por uma questão de autonomia das mulheres e também de saúde pública. O aborto diz respeito às mulheres, e nós, organizadas, é que devemos ter voz sobre o que nos diz respeito.
(…)
Vale lembrar que no Uruguai, nosso país hermano, o aborto é legal em qualquer situação, desde que não ultrapasse a 12ª semana de gestação. Em um ano, ocorreram 6.676 abortos seguros. Nenhuma mulher morreu. Que nos sirva de exemplo.
Fonte: Capitolina. Acesso em 29/01/2016.