Você com certeza já sabe que a melhor forma de se preparar pro vestibular é conferindo edições anteriores da prova. Se você está se preocupando com as questões discursivas de português da Fuvest, a gente está aqui pra ajudar!
Questões discursivas costumam ser mais desafiadoras porque exigem um domínio aprofundado de seus temas da parte dos candidatos. Afinal, eles precisam desenvolver seus próprios pensamentos e conclusões que atendam aos requisitos propostos pela prova.
A Fuvest é um exemplo de vestibular que aplica questões discursivas de português. Então, pra ter uma boa pontuação, é fundamental se preparar especificamente pra esse formato de pergunta. Dessa forma, você acaba treinando da forma correta.
Exemplos de questões discursivas de português da Fuvest
A seguir, confira algumas questões discursivas de português da Fuvestque aparecem na segunda fase da prova. Ao final do post, veja no gabarito um referencial de resposta pra cada uma delas. Aproveite!
1. Avalie a redação das seguintes frases:
I. O futebol conquistou um papel na sociedade tanto culturalmente como econômico e político.
II. Os clubes buscam a expansão do número de associados bem como reduzir gastos com publicidade.
III. Doravante tais fatos, fica claro que o futebol exerce uma grande influência no cotidiano do brasileiro.
IV. O técnico declarou aos jornalistas que, para o próximo jogo, ele tem uma carta na manga do colete.
a) Reescreva as frases I e II, corrigindo a falta de paralelismo nelas presente.
b) Reescreva as frases III e IV, eliminando a inadequação vocabular que elas apresentam.
2. Tenho utilizado o conceito de precariado num sentido bastante preciso que se distingue, por exemplo, do significado dado por Guy Standing e Ruy Braga. Para mim, precariado é a camada média do proletariado urbano constituída por jovens-adultos altamente escolarizados com inserção precária nas relações de trabalho e vida social.
Para Guy Standing, autor do livro The Precariat: The new dangerous class, o precariado é uma “nova classe social” (o título da edição espanhola do livro é explícito: Precariado: uma nueva classe social). Ruy Braga o critica, com razão, salientando que o precariado não é exterior à relação salarial que caracteriza o modo de produção capitalista, isto é, o precariado pertence sim à classe social do proletariado, sendo tão-somente o “proletariado precarizado”. (…) Por outro lado, embora Ruy Braga (no livro A política do precariado) esteja correto em sua crítica do precariado como classe social exterior à relação salarial, ele equivoca-se quando identifica o precariado meramente com o “proletariado precarizado”, perdendo, deste modo, a particularidade heurística do conceito capaz de dar visibilidade categorial às novas contradições do capitalismo global.
Giovanni Alves, O que é precariado?. Disponível em https://blogdaboitempo.com.br/. Adaptado.
a) Explique o processo de formação da palavra “precariado”, associando-o ao seu significado.
b) Qual a função sintática da expressão “com razão” e o seu sentido na construção do texto?
3. O vídeo “Por que mentiras óbvias geram ótima propaganda” destaca quatro aspectos principais da propaganda russa: 1) alto volume de conteúdo; 2) produção rápida, contínua e repetitiva; 3) sem comprometimento com a realidade; e 4) sem consistência entre o que se diz entre um discurso e outro. Essencialmente, isso é o firehosing (fluxo de uma mangueira de incêndio). O conceito foi concebido após cerca de seis anos de observação do governo de Vladimir Putin. No entanto, é impossível não notar semelhanças com táticas discursivas políticos ocidentais.
Para tentar inibir efeitos da tática, apenas rebater as mentiras disseminadas não é uma ação eficaz. Já mostrar outra narrativa, tal como contar como funciona a criação de mentiras dos propagandistas, sim, seria um método mais efetivo. De maneira simplificada, é o que o linguista norte-americano George Lakoff chama de verdade-sanduíche: primeiro exponha o que é verdade; depois aponte qual é a mentira e diga como ela é diferente do fato verdadeiro; depois repita a verdade e conte quais são as consequências dessa contradição. A ideia é tentar desmentir discursos falsos sem repeti-los.
Le Monde Diplomatique Brasil, “Firehosing: a estratégia de disseminação de mentiras usada como propaganda política”. Disponível em https://diplomatique.org.br/. Adaptado.
a) De que maneira o conceito de firehosing aproxima-se da imagem do fluxo de uma mangueira de incêndio?
b) Explique com suas palavras a metáfora “verdade-sanduíche” usada pelo linguista George Lakoff.
4. Adaptados a esse idioma que se transforma conforme a plataforma, os memes e textões dominaram a rotina desta década como modos de a gente rir, repercutir notícias, dividir descontentamentos, colocar o dedo em feridas, relatar injustiças e até se informar. Entraram logo no vocabulário para além da internet: “virar meme”, “dar textão”. Suas características também interferiram no jeito de compreender o mundo e expressar o que acontece à nossa volta. Viktor Chagas, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), os vê como manifestações culturais de grande relevância para entender o período e, também, como “extravasadores de afetos”. […]
Por mais que o textão seja “ão”, assim como o meme ele é uma expressão sintética típica de hoje, explica Viktor Chagas. Mesmo o textão mais longo na verdade é um textinho: faz parte da lógica do espaço em que circula.
TABUOL, “Vim pelo meme e era textão”. Disponível em https://tab.uol.com.br/. Adaptado.
a) Retire do texto dois argumentos que justifiquem a caracterização de “memes e textões” como “extravasadores de afetos”.
b) Em que sentido pode se afirmar que não há uma contradição no trecho “Mesmo o textão mais longo na verdade é um textinho”?
5. Considere os seguintes trechos:
(I) Era um pedreiro de Naim (…). O açoite dos intendentes rasgara-lhe a carne; depois a doença levara-lhe a força, como a geada seca a macieira. E agora, sem trabalho, com os filhos de sua filha a alimentar, procurava pedras raras nos montes– e gravava nelas nomes santos, sítios santos, para as vender no Templo aos fiéis. Em véspera de Páscoa, porém, viera um Rabi de Galileia cheio de cólera que lhe arrancara o seu pão!…
(II) (…) E nós tivemos de fugir, apupados¹ pelos mercadores ricos, que, bem encruzados nos seus tapetes de Babilônia, e como seu lajedo bem pago, batiam palmas ao Rabi… Ah! Contra esses o Rabi nada podia dizer, eram ricos, tinham pago! (…) Mas eu fui expulso pelo Rabi, somente porque sou pobre!
(III) (…) Bati no peito, desesperado. E a minha angústia toda era por Jesus ignorar esta desgraça, que, na violência do seu espiritualismo, suas mãos misericordiosas tinham involuntariamente criado, como a chuva benéfica por vezes, fazendo nascera sementeira, quebra e mata uma flor isolada. 1.Vaiados.
Eça de Queirós, A relíquia.
“Se quiséssemos recolher tudo o que já foi encontrado [da cruz de Cristo], daria para lotar um navio. O Evangelho conta que a cruz podia ser levada por um homem. Encher a Terra com tamanha quantidade de fragmentos de madeira que nem 300 homens aguentariam levar é uma desfaçatez”, já afirmava o teólogo francês Jean Calvino, profundamente cristão, em seu Tratado das Relíquias, publicado em 1543. A observação de Calvino continua viva cinco séculos depois. Os pedaços da chamada Vera Cruz, a cruz em que Jesus de Nazaré foi executado segundo a tradição cristã, são considerados relíquias de primeira categoria pela Igreja Católica, mas aparentemente são tão numerosos que dão a impressão de que Cristo foi um gigante crucificado em dois troncos de sequoias.
Manuel Ansede, “Fragmentos da cruz de Cristo dariam para ‘lotar um navio inteiro’ ”. In: El país, Caderno “Ciência”. Março de 2016. Adaptado.
a) Identifique as personagens que atuam como narradoras em cada um dos excertos de Eça de Queirós.
b) É possível afirmar que o romance A Relíquia endossa a perspectiva adotada por Manuel Ansede a respeito de elementos pertinentes à tradição cristã? Justifique.
6. A reinvenção da vírgula
No começo de 1902, Machado de Assis ficou desesperado por causa de um erro de revisão no prefácio da segunda edição de suas Poesias Completas. Dizem que chegou a se ajoelhar aos pés do Garnier implorando para que o editor tirasse o livro de circulação. O aristocrático e impoluto Machado, quem diria. Mas a gralha era mesmo feia. O tipógrafo trocou o E por A na palavra cegara, o revisor deixou passar, e vocês imaginam no que deu.
No nosso caso, o erro não foi nada demais, nem erro foi para falar a verdade, apenas um acréscimo besta de pontuação, talvez dispensável, ainda que de modo algum incorreto. Vai o revisor, fiel à ortodoxia da gramática normativa, e espeta duas vírgulas para isolar um adjunto adverbial deslocado, coisa de pouca monta, diria alguém, mas suficiente para o autor sair bradando aos quatro ventos que lhe roubaram o ritmo da sentença. Um editor experiente traria um cafezinho bem doce, a conter o ímpeto dramático do autor de primeira viagem, talvez caçoando, “deixa de onda”, a lembrá-lo – valha-me Deus! – que ele não é nenhum Bruxo do Cosme Velho*. E assim lhe cortando as asas antes do voo.
*Referente a Machado de Assis.
Disponível em https://jornal.usp.br/artigos/areinvencaodavirgula/ . Adaptado.
a) Qual o sentido da palavra “espeta”, destacada no texto, e qual o efeito que ela produz?
b) Explique o significado, no texto, da expressão “cortando as asas antes do voo”.
Gabarito
1.
a) Para responder corretamente esta questão, o candidato precisa, antes de tudo, compreender o conceito de paralelismo sintático. Quando coordenamos termos e expressões, eles precisam ter a mesma estrutura sintática. Na primeira frase, por exemplo, temos a estrutura “tanto – como” , que deveria ser trocada para “tanto – quanto”. Feita essa primeira correção, vamos identificar os elementos coordenados a partir dessa estrutura. Foram usadas, nesse caso, as palavras: “culturalmente, econômico e político”. Pelo princípio do paralelismo, essas três expressões deveriam pertencer à mesma classe de palavras. Entretanto, sabemos que culturalmente é um advérbio e as demais são adjetivos. A correção poderia se dar de dois modos:
I. O futebol conquistou um papel na sociedade tanto culturalmente quanto econômica e politicamente.
OBS. Para evitar o que chamamos de “eco”, o sufixo – mente- não precisa ser usado na segunda palavra.
I. O futebol conquistou um papel na sociedade tanto cultural quanto econômico e político.
Repare que, nos dois casos acima, as três palavras coordenadas foram alteradas para pertencer à mesma classe de palavras.
A partir do mesmo raciocínio, a correção da segunda frase ficaria assim:
II. Os clubes buscam a expansão do número de associados bem como a redução de gastos com publicidade.
II. Os clubes buscam expandir o número de associados bem como reduzir gastos com publicidade.
b) Na frase III, a inadequação está no uso do advérbio “doravante”, pois o sentido que se quer dar na frase seria “adiante”, mas esse advérbio tem o sentido de “de agora em diante”, para o futuro. Portanto, o correto seria:
III. Diante de tais fatos, fica claro que o futebol exerce grande influência no cotidiano do brasileiro.
Na frase IV, temos uma inadequecão semântica. Como o colete é uma peça sem mangas, a expressão seria apenas “carta na manga”. O correto seria:
IV. O técnico declarou aos jornalistas que, no próximo jogo, tem uma carta na manga da camisa.
2.
A) A palavra é composta pela união de dois conceitos dados de antemão: o adjetivo “precário” e o substantivo “proletariado”. O processo de formação de palavra é sufixação, pois a palavra “precário” se mantém inteira, como radical, unindo-se ao sufixo “ado”, proveniente da palavra “proletariado”. A sufixação ocorre quando se acrescenta um sufixo a um radical. Seria aglutinação se houvesse junção de dois radicais. Na aglutinação, unem-se as palavras suprimindo um ou mais de seus elementos fonéticos. Isso significa que na aglutinação há perda de algum som (em “precário”, não há perda, apenas alteração na grafia, pois cai o acento agudo);
B) Por estar entre vírgulas, trata-se de um adjunto adverbial (possivelmente de instrumento ou de modo). O termo se refere ao verbo, à ação de criticar.
3.
A) O fluxo de mentiras de maneira intensa e contínua, tal qual uma mangueira;
B) Na estrutura de um pão, pressupõe-se a configuração pão, recheio, pão. O recheio vem entre pães, os quais tornam o seu conteúdo tragável. O recheio vem escondido, como a mentira com aparência de verdade, nem sempre dando pra saber o que vem por dentro realmente. A metáfora é uma figura de linguagem que consiste em uma comparação subentendida: emprega-se um termo com significado de outro a partir da semelhança entre ambos.
4.
A) O trecho em questão é “modos de a gente rir, repercutir notícias, dividir descontentamentos, colocar o dedo em feridas, relatar injustiças e até se informar”;
B) Um texto não é um livro; no fundo, ele é esvaziado de profundidade. Ele só confere aparência de grandeza se comparado a outros textos na internet, relativamente mais curtos. Porém, um textão, embora tenha “muita coisa escrita”, representa mediocridade e superficialidade, sentidos negativos expressos pelo uso do diminutivo em “textinho”.
5.
A) A resposta deve ser extremamente simples, até porque a banca não pediu justificação;
No trecho I, quem fala, ou seja, quem atua como narrador é Raposão; no trecho II é Naim, o vendedor ambulante; e no trecho III, Raposão novamente.
Trata-se de uma questão de verificação de leitura. Esse episódio, que está na terceira parte do romance, refere-se ao momento em que Teodorico presenciou a paixão de Cristo. Essa cena é marcante. Um dos vendedores ambulantes que foi expulso por Jesus reclama da ação injusta do mestre.
Ele expulsou os mais pobres que ficavam no pátio, enquanto os grandes comerciantes que tinham local próprio de venda, não foram afetados e até gostaram da ação de Jesus, pois eliminou parte da concorrência.
Nos trechos I e III, Raposão conta da situação de Naim; no trecho II, pela leitura, percebe-se que trata-se de um fragmento de discurso direto do vendedor, algo evidente no trecho “mas eu fui expulso pelo Rabi, somente porque sou pobre!”
B) No fragmento de Manuel Ansede, observa-se uma crítica à prática de venda de relíquias falsas. De forma sarcástica, ele diz que se todos os fragmentos falsos fossem recolhidos pra construir uma cruz, nem 300 homens conseguiriam carregá-la.
No Romance, Lino afirma algo parecido, ao lembrar a Raposão que eram muitas ferraduras do burro que carregou Jesus pra um país tão pequeno quanto Portugal.
Obviamente, seria difícil lembrar disso na hora da prova. A justificativa poderia ser dada levando em consideração as intenções de Eça de Queirós. O autor, ao construir a figura de um personagem malandro e desonesto que vende relíquias falsas, faz uma crítica semelhante ao Ansede, pois claramente esse tipo de negócio se configura como trapaça.
6.
A) Significa um uso arbitrário da pontuação, de modo agressivo, contra a vontade do autor. Também pode significar ferir o estilo do autor.
B) Impedir o autor de se atribuir mais importância (achar que é Machado, mas não fazer mil exigências). Ou seja, colocar o autor no seu devido lugar.
Agora você já tem mais ferramentas pra se preparar pras questões discursivas de português da Fuvest. Treine com as soluções deste post e vem estudar mais com a gente pra arrasar na prova. Conheça o cursinho preparatório da Descomplica.