Olá, galera! Nesta minha estréia, acredito que o assunto mais oportuno para iniciar nossos leros literários seja o centenário de morte de Machado de Assis. Digo isso não por que será um ano em que os vestibulares cobrarão questões a respeito de sua vasta obra. Isso seria “chover no molhado”, visto que o velho Machadão todo ano é revisitado em diversos vestibulares do país. Aliás, esse não deveria ser o mote maior para enveredarmos por sua obra.
A literatura machadiana percorre o período literário do século XIX, marcado fortemente pelas estéticas românticas e realista-naturalistas. Contudo, a originalidade de sua pena não lhe permite reproduzi-las simplesmente. Autor de uma consolidada obra que se estende por romances, contos, poesias, crônicas e críticas (ufa!), Machado é possuidor de um estilo oblíquo e dissimulado, que turvou por muito tempo a interpretação de seu legado . Por mais que tenha proporcionado deleite literário para diversas gerações, tendo alcançado prestígio geral e tendo sido enterrado com pompas de estadista, Machado sempre foi acusado de não olhar atentamente para sua pátria. Passou décadas sendo acusado de alienado, despolitizado. Era tratado como um mulato resignado e conservador. Somente há algumas décadas, um esforço em tentar decifrar a obra machadiana tem sido efetuado. O grande truque de Machado de Assis sempre foi, na verdade, despertar a consciência da ilusão e não perpetuar a ilusão da consciência.
Quanto à linguagem muitos alunos depreciam-na, acusando-a de rebuscada, sem falar na narrativa lenta. “Esta injúria merecia ser lavada com sangue, se o sangue lavasse alguma coisa nesse mundo”, assim diria seu narrador-personagem Brás Cubas, caso o seu espírito aqui ainda vagasse entre nós. A verdade, ilustríssimos leitores, é que seu discurso é refinado, mas nunca esbarra nas raias do cultismo. Com certeza, esse ranço do aluno se dá muito mais por uma má impressão conservada de outras épocas em que o Bruxo do Cosme Velho foi inserido em seu universo particular fora de hora.
Quanto ao ritmo da narrativa, de fato, ela é lenta, mas não por que ele dá continuidade ao estilo descritivista e opulento do Realismo. Sua obra não é comprometida com o galope das aventuras rocambolescas do Romantismo, e sim com a aplicação constante da técnica digressiva de narrar, que acaba por impor uma narrativa tortuosa, cheia de idas e vindas. Seu estilo foidefinido da seguinte forma nas memórias póstumas de seu consagrado defunto-autor: “Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem.” Com essa artimanha, Machado tenta redirecionar o foco da narrativa a todo momento, despertando o senso crítico do leitor , além de dar dicas nas entrelinhas do que realmente importa em sua narrativa.
Mas deixemos de papo, não há melhor maneira de se conhecer um autor de verdade senão através de sua própria obra. Machado está louco para conversar com vocês, é verdade! A sua obra clama por interatividade. Continua incrédulo? Deixo como sugestão a leitura dos capítulos 55, 125, 126, 139 e 140 do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, serve aquele mesmo empoeirado do avô. Está esperando o quê? Desconverse!!!
Diogo Mendes