Já reparou que a geografia é cheia de conceitos e palavras esquisitas, que raramente a gente sabe exatamente o que significa? É território, lugar, paisagem, espaço… Não é tudo a mesma coisa?? E pra piorar! Todos esses possuem outros subconceitos como, espaço natural e geográfico, paisagem natural e cultural… tudo isso pode parecer muito confuso!
É por isso que hoje nós vamos estudar melhor o conceito de paisagem, focando na ideia de paisagem natural. Todos os conceitos citados são fundamentais para entendimento básico da ciência geográfica.
Como toda ciência, a geografia conta com seus próprios termos e conceitos. Todos os citados, revelam diferentes perspectivas de análise sobre o espaço geográfico – o objeto de estudo da geografia.
O que é espaço geográfico?
Como dito, os conceitos de território, lugar, paisagem e região, são possibilidades de análise que falam sobre diferentes aspectos do espaço geográfico.
O espaço é tudo que é externo ao homem, também pode ser chamado de meio. O espaço geográfico, por sua vez, é o objeto de estudo da geografia. Ele pode ser entendido enquanto o espaço alterado pela ação humana, exprimindo a relação da sociedade com a natureza.
Ele é entendido como o conjunto de sistemas de objetos (redes de energia, prédios, carros) e de sistemas de ações (produção, trabalho, circulação, consumo, relações cotidianas), que são indissociáveis, e expressam as diferentes práticas sociais dos grupos que nele vivem.
É resultado do trabalho humano e da sua relação com o meio ambiente. Produto da ação humana, o espaço geográfico é o principal objeto de estudo da ciência geográfica.
O que é paisagem?
A Paisagem é o aspecto do espaço geográfico que é percebido por meio dos nossos sentidos. É o espaço que a visão alcança, como uma bela vista na praia por exemplo.
A análise dos elementos de uma paisagem num determinado momento, revela uma série de relações, sejam elas políticas, históricas, simbólicas ou econômicas, da sociedade com seu meio, sendo portanto uma perspectiva de análise do espaço geográfico.
Além disso, ela revela também uma temporalidade. Ao comparar duas paisagens ao longo do tempo, podemos perceber esses elementos e modificações de forma mais evidente.
A paisagem portanto não é estática, ela revela a evolução temporal da técnica, os processos submetidos ao meio, além de nos dar uma série de elementos interpretativos, que revelam a relação da sociedade com seu ambiente ao longo do tempo. Os tipos de relação social se imprimem na paisagem e são percebidos por nós por meio dos sentidos.
Como dito, a paisagem é percebida por meio dos sentidos, ou seja, é através da visão, do olfato, do paladar, da audição e do tato que a paisagem pode ser apreendida por nós. Por exemplo, uma pessoa com deficiência visual, pode perceber as paisagens por meio do som.
Um estudo sobre paisagem sonora revelou que a percepção do espaço pode ser feita a partir da escuta e dos elementos sonoros presentes nele.
Os centros comerciais por exemplo, possuem gritos dos trabalhadores buscando atrair o cliente. É um elemento central daquela paisagem. Outro exemplo é uma área de floresta e seus sons, que, após um grande empreendimento e construção de estradas e prédios, possui sua paisagem sonora totalmente alterada.
No tato, podemos perceber se o espaço que estamos é quente ou é frio, se é chuvoso ou seco… ou no próprio paladar! As comidas, os gostos e os temperos mudam muito de região para região, o que revela também diferentes culturas e hábitos, o tipo de relação social que se construiu social e historicamente para que aquela comida tivesse aquele gosto.
Assim, não é apenas o sentido da visão que impera numa paisagem. Muitas vezes, os odores das ruas chamam mais atenção. Ao passar cotidianamente numa padaria que tem o cheiro do pão fresquinho, ou a lugares insalubres onde é preciso tapar o nariz, isso fica mais claro.
As relações culturais, as técnicas e as dinâmicas político-econômicas portanto se imprimem na paisagem, que revela esses elementos permitindo uma interpretação da realidade.
O que é paisagem natural?
Paisagem Natural é aquela que não sofreu intervenção antrópica. É a paisagem da natureza pura e intocada. O que ela constrói e transforma sem influência humana. A ideia de paisagem natural se opõem a ideia de paisagem cultural que é a paisagem criada pela humanidade.
Nos tempos atuais, onde o impacto causado pela humanidade sobre seu meio atinge gigantescas proporções, abrimos uma discussão se de fato a paisagem natural pode ser encontrada, uma vez que, mesmo em regiões afastadas dos aglomerados urbanos, podemos encontrar vestígios da interferência humana, até mesmo na atmosfera.
Um vulcão entrando em erupção por exemplo, é uma paisagem tipicamente natural, sem relação com a humanidade. Porém, atividades de mineração por exemplo, tem conseguido desencadear abalos sísmicos, que podem interferir na atividade eruptiva.
Claro que, ao olhar e captar aquela paisagem apenas, apenas olhando o vulcão, ela se constitui como natural uma vez que há o predomínio dos elementos naturais, e não antrópicos. Porém, indo além com a capacidade interpretativa dos aspectos da paisagem, começamos a desconstruir certezas.
Podemos observar também paisagens naturais que, com o tempo, começam a contar com habitações humanas ou sua interferência, seja de forma direta ou indireta.
Por exemplo, uma montanha pode ser entendida enquanto uma paisagem natural. A cordilheira dos Andes, formada pela junção de placas tectônicas, em nada depende da humanidade para sua existência.
Porém, ao avaliarmos as atividades turísticas que existem ali, podemos inferir que existe uma transformação no espaço, e na paisagem.
Ou além, existem cidades como a chamada La Rinconada no Peru, a cidade com maior altitude do mundo, que vive basicamente de uma perigosa atividade de mineração de ouro.
Então, dependendo do ângulo que escolhemos olhar a cordilheira dos Andes, vamos ter paisagens que se revelam ora mais culturais, ora com aspectos mais naturais.
A floresta é necessariamente uma paisagem natural?
Carolina Levis, especialista em ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia possui alguns estudos que falam sobre a domesticação de plantas na floresta amazônica.
O conhecimento tradicional e a seleção de espécies que ocorre ao longo do tempo são marcas da humanidade que se imprimem na paisagem da floresta. Ao estudarmos bem quais espécies se encontram ali, podemos notar que existe uma influência histórica das demais civilizações humanas no uso e desenvolvimento da biodiversidade.
Na época em que a humanidade era caçadora e coletora, os homens que iam caçar levavam em seus bolsos sementes frutíferas e medicinais para plantarem no caminho das trilhas. Contar com determinadas espécies naquele caminho poderia ser vital entre a vida e a morte.
Além disso, a seleção de espécies que nossos antepassados faziam também rende frutos. Quando a humanidade dominou o cruzamento de espécies, passamos a selecionar os melhores alimentos, cruzá-los e disseminá-los. Plantas que não serviam pra nada, ou que faziam mal as demais, eram arrancadas.
As espécies encontradas na floresta hoje portanto podem refletir a cultura e a seleção de espécies antigas, os usos de demais populações.
Na história mais recente do Brasil, é preciso considerar o papel dos indígenas, quilombolas e ribeirinhos na construção da paisagem que muitos julgam como natural.
Ao viver em locais de geografia dificultada, a interação com a natureza ocorre de maneira mais ativa, sobretudo considerando o tipo de vida da população. Assim, é preciso entender que a biodiversidade encontrada pode ser fruto do trabalho e do conhecimento tradicional que imprime suas marcas na floresta.
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