Como sabemos se um conhecimento sobre a realidade é verdadeiro ou não? Aliás, será mesmo possível a existência de um conhecimento assim? Segundo o Dogmatismo não só é possível como também existe.
O pensamento dogmático exerce influência por toda a história da filosofia, mas também aparece em outras áreas da vida: a religião e até mesmo nossa experiência cotidiana são bons exemplos disso.
Ficou confuso? No texto de hoje vamos te explicar tintim por tintim os diferentes significados que o termo pode ter, mostrando também a influência dessa postura sobre o pensamento filosófico ao longo do tempo.
O que é Dogmatismo
O Dogmatismo é um termo bastante amplo e apresenta vários significados. Do ponto de vista cético, um dogmático é todo aquele que afirma verdades que talvez não sejam certas. Immanuel Kant (1724 –1804) foi o responsável por utilizar o termo dogmático como algo pejorativo dentro da filosofia, em sua obra Crítica da Razão Pura.
Mas o Dogmatismo remete à um período muito mais antigo. Seu significado vem do Grego dogma, que originalmente significa “opinião”, “princípio”, ou “o que se pensa ser verdade”. Nesse sentido, dogmatismo pode significar “fundado em princípio” ou “relativo à doutrina”.
Todos nós tivemos e temos posturas dogmáticas quando afirmamos algo baseado no que acreditamos ser verdade, sem nenhuma dúvida ou questionamento. Mas como isso ocorre na Filosofia?
O Dogmatismo Filosófico
Na Filosofia, o Dogmatismo ficou conhecido como uma postura filosófica diante da realidade. Essa postura acredita na possibilidade de atingir o conhecimento verdadeiro sobre as coisas. O Dogmatismo filosófico portanto afirma que as verdades absolutas existem, e busca meios para alcançá-las.
É importante ressaltar que o dogmatismo dentro da filosofia não significa uma aceitação cega ou a ausência total de questionamento. Muito pelo contrário.
O Dogmatismo filosófico busca atingir o conhecimento verdadeiro por meio do debate e da reflexão constantes. As coisas podem ser aceitas sem questionamentos, desde que estejam fundamentadas em princípios.
Correntes filosóficas como o idealismo platônico e o racionalismo cartesiano são bons exemplos de pensamentos dogmáticos na filosofia. As duas correntes são altamente críticas e com uma atitude filosófica por excelência, mas reconhecem a dúvida como parte do método que leva a verdade indubitável.
Dogmatismo X Ceticismo
O Dogmatismo é oposto ao que ficou conhecido na Filosofia como Ceticismo, uma posição filosófica que nega a possibilidade de conhecer as verdades ou princípios que regem o mundo. A postura do cético é caracterizada por uma dúvida completa em relação a todos os fenômenos que ocorrem ao redor do ser humano.
O ceticismo rejeita qualquer sistema filosófico que proponha um conhecimento absoluto. Proposta inicialmente pelo filósofo grego Pirro (séc III A.C.), o Ceticismo representa todo aquele que, na busca do conhecimento absoluto das coisas, estuda diversas correntes filosóficas, concluindo que esse conhecimento não é alcançável.
É notável a influência do pensamento sofista sobre a postura cética. A afirmação de Górgias é excelente para definir o dogmatismo, já que é seu exato oposto. Segundo ele “a verdade absoluta não existe, se existe, não pode ser conhecida e, se for conhecida, não pode ser comunicada”.
Apesar de algumas diferenças em relação à sua vertente filosófica, o ceticismo também é muito presente na ciência, sendo conhecido como ceticismo científico. A dúvida é mantida como o princípio fundamental que orienta o avanço rumo a novas pesquisas e descobertas.
Dogmatismo e Religião
Toda religião é baseada em verdades que não podem ser questionadas, pois são uma expressão da vontade divina e fruto de uma revelação dessa divindade aos seres humanos. Essas verdades também são conhecidas como dogmas, sendo crenças básicas pregadas pelas religiões.
Durante os primeiros séculos da era cristã, com o contato entre o cristianismo e outras culturas, a Igreja percebeu que seria necessário conciliar fé cristã e razão, ou seja, fundamentar seus dogmas em princípios. Assim os pagãos que tinham contato com a Filosofia poderiam se converter mais facilmente.
Os padres deste período foram os grandes responsáveis por construir uma base sólida para sua fé utilizando-se do dogmatismo filosófico. Dentre eles, os mais conhecidos foram Santo Agostinho (354 – 430 D.C.) e São Tomás de Aquino (1225 – 1274 D.C.).
Em relação a fé em uma perspectiva mais ampla, o dogmatismo é associado ao conjunto de dogmas que cada religião possui. O posicionamento do fiéis e das autoridades religiosas baseado nestes dogmas é chamado dogmatismo.
Outros tipos de Dogmatismo
Dogmatismo Jurídico
O dogmatismo jurídico é o conjunto de dogmas que embasam as leis e orientam o julgamento dos diferentes casos de infração. Um exemplo de dogma jurídico é a afirmação de que a vida é o bem maior e deve ser preservada. É essa afirmação que faz do assassinato um crime passível de punição na letra da lei.
Parece tudo muito diferente do exemplo que apresentamos no início do texto não acha? Se na filosofia o dogmatismo pode ser identificado como uma postura crítica, e na religião como um conjunto de dogmas e sua aceitação, a postura apresentada por nós no dia a dia seria de certa forma seria um dogmatismo ingênuo, ou um “senso comum”.
Resumindo, podemos interpretar o dogmatismo de 3 formas:
Dogmatismo racional – é o dogmatismo praticado pela filosofia que acredita na possibilidade de se alcançar verdades absolutas. As coisas podem ser aceitas sem questionamentos se estiverem baseadas em princípios.
Dogmatismo irracional – associado às diferentes denominações religiosas, é o conjunto de dogmas ou verdades da fé que não podem ser questionados. A verdade absoluta pode ser alcançada por meio da fé ou da revelação.
Dogmatismo ingênuo – é o dogmatismo do “senso comum”. São todas as posições que assumimos em nosso dia-a-dia a partir de uma primeira impressão ou de outros dogmas aceitos sem nenhum questionamento.
Apesar dos inúmeros sentidos possíveis, existe um problema que aparece em todas as definições de dogmatismo: nossa relação com o conhecimento. Afinal, acreditamos em verdades absolutas ou questionamos tudo ao nosso alcance? Essa verdade vem do meu raciocínio individual e autônomo ou é aceito de alguma autoridade?
Relevância contínua do conceito
No ano de 2016, a Universidade de Oxford elegeu “Pós-Verdade” como a palavra do ano. Segundo a instituição, o termo “se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
Este termo entrou em voga devido à campanha eleitoral norte-americana no mesmo ano, na qual uma série de fake news foi responsável por influenciar o debate público a favor do candidato republicano Donald Trump. O próprio candidato divulgou informações imprecisas ou incorretas para fortalecer sua campanha e atingir adversários.
O inédito não são as mentiras em si, mas as pessoas que acreditam e disseminam tais informações. Esse fenômeno contemporâneo pode ser interpretado a partir das noções de Dogmatismo que vimos até agora.
Por um lado, o prefixo pós no começo da palavra indica uma situação posterior à verdade, ou seja, uma situação em que a verdade foi superada. Essa desconfiança constante poderia ser compreendida como um ceticismo generalizado.
Porém, a aceitação cega de informações imprecisas e fake news pela população em geral pode também ser vista como o dogmatismo do senso comum, aquele baseado nas primeiras impressões acerca do que “parece ser real”. E você, o que acha? Conta aqui nos comentários.
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