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Português: Exercícios de Revisão dos Temas Trabalhados
Turma da Manhã: 10:15 às 11:15, com o professor Rafael Cunha
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MATERIAL DE AULA AO VIVO
A pergunta do título pode deixar muitos leitores desconcertados. E foi feita mesmo para desconcertar – estimular que se faça uma pausa para pensar. Uma pausa em quê? Em nossa busca pela felicidade – que, como muitos leitores provavelmente concordarão, temos em mente na maior parte do tempo, preenche a maior parte de nossas vidas, não pode nem vai abrandar a marcha, muito menos parar… pelo menos não por mais que um instante (fugaz, sempre fugaz).
Por que é provável que essa pergunta desconcerte? Porque indagar “o que há de errado com a felicidade?” é como perguntar o que há de quente no gelo ou de malcheiroso numa rosa. Sendo o gelo incompatível com o calor, e a rosa com o mau cheiro, tais perguntas presumem a viabilidade de uma coexistência inconcebível (onde há calor, não pode haver gelo). De fato, como poderia haver algo de errado com a felicidade? “Felicidade” não seria sinônimo de ausência de erro? Da própria impossibilidade de sua presença? Da impossibilidade de todo e qualquer erro?!
(…)
Nossas vidas, quer o saibamos ou não e quer o saudemos ou lamentemos, são obras de arte. Para viver como exige a arte da vida, devemos, tal como qualquer outro tipo de artista, estabelecer desafios que são (pelo menos no momento em que estabelecidos) difíceis de confrontar diretamente; devemos escolher alvos que estão (ao menos no momento da escolha) muito além de nosso alcance, e padrões de excelência que, de modo perturbador, parecem permanecer teimosamente muito acima de nossa capacidade (pelo menos a já atingida) de harmonizar com o que quer que estejamos ou possamos estar fazendo. Precisamos tentar o impossível. E, sem o apoio de um prognóstico favorável fidedigno (que dirá da certeza), só podemos esperar que, com longo e penoso esforço, sejamos capazes de algum dia alcançar esses padrões e atingir esses alvos, e assim mostrar que estamos à altura do desafio.
A incerteza é o habitat natural da vida humana – ainda que a esperança de escapar da incerteza seja o motor das atividades humanas. Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade. É por isso que a felicidade “genuína, adequada e total” sempre parece residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta chegar mais perto dele.
(Adaptado de BAUMAN, Zygmunt. “O que há de errado com a felicidade?”
In: A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.)
Vocabulário:
Compósito: adj. 1. Caracterizado pela heterogeneidade de elementos; feito de vários elementos ou partes diferentes; composto.
(HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Sales.
Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)
1. No texto I, há uma desconstrução do que é habitualmente concebido como felicidade. Apresente, com suas palavras, em que consiste essa desconstrução.
2. No primeiro e no terceiro parágrafos, observa-se, em relação aos demais, uma mudança de pessoa discursiva no tratamento do conteúdo.
a) Explique o efeito dessa mudança no plano da enunciação (atividade linguística numa situação comunicativa dependente da co-atuação de locutor e interlocutor).
b) Indique, no plano do enunciado (expressão linguística resultante da cena da enunciação), dois tipos de elementos gramaticais que marcam essa mudança.
Texto II: SONETO [Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundo]
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(MATOS, Gregório. Obras completas de Gregório de Matos.
Salvador: Janaína, 1969, 7 volumes.)
3. De forma recorrente, o Barroco lança mão de figuras de sintaxe como recurso expressivo.
a) Considerando o terceiro e o quarto versos da primeira estrofe do soneto, explicite as duas figuras de sintaxe que, nesses versos, estão relacionadas aos termos oracionais classificados, tradicionalmente, como essenciais ou básicos.
b) Classifique, quanto à função sintática, os constituintes do último verso da primeira estrofe.
4. Todo soneto apresenta a estruturação: tese, anti-tese e síntese. Com base nessa informação, faça o seguinte:
a) Explique de que maneira a síntese do soneto de Gregório de Matos vincula-se ao projeto estético do Barroco.
b) Descreva como a relação entre os sentimentos de “alegria” e “tristeza” ganha novo sentido no desenrolar do soneto.
Texto III: João, o telegrafista
João telegrafista.
Nunca mais que isso,
estaçãozinha pobre
havia mais árvores pássaros
que pessoas.
Só tinha coração urgente.
Embora sem nenhuma
promoção.
A bater a bater sua única
tecla.
Elíptico, como todo
telegrafista.
Cortando flores preposições
para encurtar palavras,
para ser breve na necessidade.
Conheceu Dalva uma Dalva
não alva sequer matutina
mas jambo, morena.
Que um dia fugiu – único
dia em que foi matutina –
para ir morar cidade grande
cheia luzes joias.
História viva, urgente.
Ah, inutilidade alfabeto Morse
nas mãos João telegrafista
procurar procurar Dalva
todo mundo servido telégrafo.
Ah, quando envelhece,
como é dolorosa urgência!
João telegrafista
nunca mais que isso, urgente.
II
Por suas mãos passou mundo,
mundo que o fez urgente,
elíptico, apressado, cifrado.
Passou preço do café.
Passou amor Eduardo
VIII, hoje duque Windsor.
Passou calma ingleses sob
chuva de fogo. Passou
sensação primeira bomba
voadora.
Passaram gafanhotos chineses,
flores catástrofes.
Mas, entre todas as coisas,
passou notícia casamento Dalva
com outro.
João telegrafista
o de coração urgente
não disse palavra, apenas
três andorinhas pretas
(sem a mais mínima sensação simbólica)
pousaram sobre
seu soluço telegráfico.
Um soluço sem endereço – Dalva – e urgente.
(RICARDO, Cassiano. Poemas Murais. São Paulo: José Olympio Editora, 1950.)
Vocabulário:
telegrafia s. f. 1 processo de telecomunicações que transmite textos escritos (telegramas) por meio de um código de sinais
(código
Morse), através de fios (…).
telegráfico adj. 1 relativo a telégrafo ou à telegrafia 2 transmitido ou recebido pelo telégrafo 3 relativo a telegrama; semelhante a um telegrama 4 fig. Muito conciso, condensado, muito lacônico (…)”. (HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Sales. Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)
Código Morse. Primeiro estágio das comunicações digitais; uma forma de código binário em que todos os caracteres estão codificados como pontos e traços.
5. O projeto estético modernista caracteriza-se pela experimentação da linguagem. Uma das consequências do experimentalismo da estética modernista é a dissolução de fronteiras entre gêneros literários ou não-literários e tipologias textuais. Explique como essa dissolução se revela no poema de Cassiano Ricardo.
6. O escritor Gustavo Bernardo afirma que “toda linguagem é simultaneamente pletórica (abundante) e insuficiente”.
(BERNARDO, G. O livro da metaficção. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2010.)
Relacionando a afirmativa acima à coesão e à coerência, descreva, com foco em repetições e ausências, como se estabelece a conectividade textual no poema de Cassiano Ricardo.
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão-somente
Satélite.
Ah lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
— Satélite.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, p. 232.
7. Leia o trecho a seguir, do poema “Plenilúnio”, de Raimundo Correia:
Há tantos anos olhos nela arroubados,
No magnestismo do seu fulgor!
Lua dos tristes e enamorados,
Golfão de cismas fascinador.
Comparando-se esses versos à obra de Manuel Bandeira, comente a relação intertextual estabelecida.
8. Na última estrofe, aparece o termo “mais-valia”, definido na economia como a diferença entre o custo da força de trabalho e o valor do produto produzido pelo trabalhador. Qual é a conotação assumida por esse vocábulo no poema?