Para você que ainda vai fazer provas discursivas de segunda fase, o jogo apenas começou. Portanto, nada de abaixar a guarda, nada de parar para tomar um ar fresco. Vamos que vamos! Hoje, continuando nossa caminhada pela história da semana passada, voltamos a falar de Aristóteles.
Nas duas últimas semanas, nós vimos, conforme você se lembra, que Aristóteles foi um grande crítico de Platão, sobretudo, da famosa Teoria das Ideias. Contrariando a visão de seu mestre, o pensador macedônio acreditava ser absurdo propor que a realidade é formada pela separação entre, de um lado, as coisas (no Mundo Sensível), e, de outro lado, as essências (no Mundo Inteligível). Ao contrário, o grande ponto de partida da filosofia aristotélica foi precisamente a rejeição do dualismo platônico e afirmação de que há uma união indissociável entre as coisas e suas respectivas essências. Em outras palavras, é a partir disto aí que poderemos entender aquela infinidade de termos técnicos que Aristóteles criou para explicar a realidade e que de vez em quando caem no vestibular.
Já sabemos que, na perspectiva aristotélica, não há dois mundos, mas apenas um – formado pelas coisas. A cada coisa isoladamente, Aristóteles chama de substância. Cuidado! Não podemos confundir o significado que essa palavra tem no pensamento aristotélico com o uso que dela fazemos na química. Para o pensador macedônio, uma substância é algo que existe por si mesmo, isto é, que não existe em outro, mas que tem consistência própria. Não entendeu? Imagine, por exemplo, a cor azul. Ela existe por si mesma? Você já viu o azul isoladamente por aí? É claro que não. Isso acontece porque cores não existem por si mesmas, mas apenas como características de coisas. Portanto, as substâncias ou coisas existem por si mesmas, mas as diversas características (como as cores) só existem através das substâncias.
Cada coisa ou substância possui, conforme vimos nas últimas semanas, uma essência, isto é, uma característica primordial que a define, que a faz ser o que ela é e que está sempre unida a ela. Aristóteles às vezes também chama essa característica primordial de forma. No caso do ser humano, por exemplo, esta essência ou forma seria a razão, já que somos, acima de tudo, animais racionais. Por sua vez, todas as características de uma substância que não são sua essência (no caso do homem, por exemplo, seriam a cor de pele, o corte de cabelo, a cor dos olhos, a altura, a posição, o peso, etc.) são chamadas por Aristóteles de acidentes. Portanto, qualquer substância não é mais que a união entre sua característica permanente e primordial (sua essência) e uma série de outras características secundárias e transitórias (seus acidentes).
Por fim, tratando-se de características permanentes e transitórias, é inevitável que sejamos conduzidos ao tema da mudança. Segundo Aristóteles, existem dois tipos de mudanças: as mudanças substanciais, que se dão quando uma substância surge ou é destruída, de maneira que a própria essência é alterada; e as mudanças acidentais, que é quando substância permanece a mesma e apenas os acidentes são alterados. Seja como for, em qualquer um dos tipos, Aristóteles considera que qualquer mudança é sempre uma passagem da potência ao ato. Uma potência é algo que a substância não é, mas pode ser; ato é aquilo que a substância é efetivamente. Assim, a mudança ocorre quando algo que era uma mera possibilidade se torna efetivo. Por exemplo, eu não sei cantar bem, mas, sendo eu um ser humano, isso é uma possibilidade para mim, eu sou um bom cantor em potência. Por sua vez, caso eu me torne um bom cantor, terei passado por um processo de mudança. Isso significa que aquilo que existia em mim apenas como potência, como possibilidade, terá se tornado algo efetivo, em ato. Até semana que vem!