Tudo o que você precisa saber sobre a Narração está aqui nesse resumo incrível. Confira e prepare-se para o vestibular!
O resumo de hoje vai tratar de um assunto extenso, porém fácil. E como vocês já estão estudando bastante e descomplicando tudo, esse resumo só vai acrescentar um pouco mais no conteúdo de vocês e fixar o tema de maneira que não seja esquecido. Trago aqui exemplos da literatura atual e dos clássicos, a fim de tornar a compreensão mais fácil e dinâmica. Preparados? Vamos começar!
O texto narrativo
Podemos entender o texto narrativo como aquele que, de forma progressiva, expõe as mudanças de estado que acontecem com objetos, cenários e pessoas através do tempo.
Precisamos ver, ainda, outros pontos relevantes no texto narrativo. Eles são: o foco narrativo, o tipo de discurso (se direto, se indireto ou indireto livre), o enredo, o tempo, o espaço e, não menos importantes, os personagens.
Além dessa definição inicial, que compreende o romance, por exemplo, temos outros gêneros textuais que estão contidos na tipologia da narração. Nesse ponto é muito importante frisar que tipo textual é diferente de gênero textual. Isso tem que estar bem claro na cabeça de vocês. Temos 4 tipos textuais: a descrição, a narração, a dissertação e a injunção. E dentro de cada tipo surgem os gêneros. No nosso caso, aqui, o tipo textual da narração possui alguns gêneros, que são: o relato, a carta pessoal, a notícia, a crônica, a biografia, o conto, o diário e até mesmo o e-mail são textos narrativos.
Quando pensamos em narração, logo nos vêm a cabeça os romances de ficção (ou não-ficção) e até mesmo os filmes. Lembram-se das características narrativas das quais falei ainda há pouco? Então, vamos ver os exemplos e identificá-las? Prontos? Vamos nessa!
O foco narrativo:
Narrador em 1ª pessoa: Este é o narrador-personagem. A narrativa é vista de dentro para fora, de acordo com as perspectivas do personagem, que é caracterizado, também, por meio das relações que faz, da linguagem que usa e de suas experiências. Vejamos:
“Naquela noite, enquanto Julián se perdia pela noite, um furgão sem identificação acudiu à chamada do homem que havia matado Miquel. Eu nunca soube seu nome, nem creio que ele soubesse quem o havia assassinado. Como todas as guerras, pessoais ou em grande escala, aquilo era um jogo de marionetes”.
(trecho do livro “A Sombra do Vento” de Carlos Ruiz Záfon)
Nesse exemplo, vemos um narrador que deixa as suas impressões pessoais enquanto narra a história.
Narrador em 3ª pessoa: Este é o narrador onisciente ou observador. Podemos interpretar esse tipo de narrador como “deus”, pois ele conhece todos os elementos da narrativa, dominando e controlando o modo de pensar dos personagens. Não há reconhecimento nem revelação de todo o ambiente por parte de quem narra e isso mantém o mistério e dá um certo limite ao leitor, além de não se intrometer muito na história. Vamos ver um exemplo:
“Longos dias após terem partido do vale e deixado a Última Casa Amiga milhas atrás, ainda continuavam subindo. Era uma trilha difícil, uma trilha perigosa, um caminho tortuoso, solitário e comprido. Agora podiam contemplar atrás de si as terras que haviam deixado, estendendo-se lá embaixo. A oeste, muito longe, onde as coisas pareciam azuis e apagadas, Bilbo sabia que estava a sua terra, de coisas seguras e confortáveis, e a pequena toca de hobbit.”
(trecho do livro “O Hobbit” de J. R.R. Tolkien)
Vemos aqui que o narrador domina os sentimentos e as sensações dos personagens, tendo total domínio do desenrolar das situações.
Tipos de discurso
- Discurso direto: dá voz à personagem. Confere mais rapidez e dinamismo à narrativa. Possui enunciado em 1ª ou 2ª pessoa.
Exemplo:
“- Por que veio tão tarde? perguntou-lhe Sofia, logo que apareceu à porta do jardim, em Santa Teresa.
– Depois do almoço, que acabou às duas horas, estive arranjando uns papéis. Mas não é tão tarde assim, continuou Rubião, vendo o relógio; são quatro horas e meia.
– Sempre é tarde para os amigos, replicou Sofia, em ar de censura.”
(trecho do livro “Quincas Borba” de Machado de Assis)
- Discurso indireto: A fala do personagem passa a ter a voz do narrador. É ele quem reproduz a fala do personagem. Possui enunciado em 3ª pessoa.
Exemplo:
“Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama, e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-la à fraca luz da masmorra, imaginava podiam ser onze horas.”
(trecho do livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma” de Lima Barreto)
- Discurso indireto livre: Há a mescla das vozes do personagem e do narrador, o que pode ocasionar certa confusão ao leitor.
Exemplo:
“O marquês e D. Diogo, sentados no mesmo sofá, um com a sua chazada de inválido, outro com um copo de St. Emilion, a que aspirava o bouquet, falavam também de Gambetta. O marquês gostava de Gambetta: fora o único que durante a guerra mostrara ventas de homem; lá que tivesse «comido» ou que «quisesse comer» como diziam – não sabia nem lhe importava. Mas era teso! E o Sr. Grevy também lhe parecia um cidadão sério, ótimo para chefe de Estado…”
(Trecho de “Os Maias” de Eça de Queiroz)
O Enredo
É o conjunto de fatos que se desenrola na história, os acontecimentos, intrigas, encontros. O enredo é a própria narrativa. Em sua estrutura lógica podemos identificar:
a) Equilíbrio inicial – As personagens são apresentadas, a relação existente, o ambiente e o tempo.
b) Desequilíbrio – Principal momento da narrativa, que pode ser dividido em três partes: a complicação, o desenvolvimento da complicação e o clímax, que é o ponto máximo da história.
c) Equilíbrio final – O fim da história é organizado, há novas perspectivas sobre as personagens e novas relações.
É claro que isso não é uma regra fixa. Alguns autores podem suprimir alguma dessas partes ou até mesmo inverter como, por exemplo, começar pelo desequilíbrio.
O Tempo
Responsável pelo ritmo rápido ou lento da narrativa. Podemos ter dois tipos de tempo: o cronológico (passagem normal do tempo) e o psicológico (narrativa reflexiva, por dentro da subjetividade do narrador. Nota-se aqui um tempo mais vagaroso).
As obras de Clarice Lispector são um bom exemplo de tempo psicológico, já que o narrador segue o fluxo de pensamento dos personagens. Veja:
“Mas quem sou eu para censurar os culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se ame o criminoso que nos mata. Mas não estou seguro de mim mesmo: preciso amar aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte do que eu, responde que quer porque quer vingança e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo que eu morra depois. Se assim é, que assim seja.”
(trecho do livro “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector)
O Espaço
O espaço pode ser real ou virtual. O espaço é classificado como real quando está no mundo que nós conhecemos. Podemos pensar também que, por exemplo, o mundo dos elfos é real dentro do contexto em que está inserido, pois os eventos da sua história acontecem nele. O espaço psicológico (ou de fuga) é aquele que modifica a realidade do que é narrado, ou seja, são espaços fora da realidade mais palpável: fantasias, sonhos, imaginação.
Personagens
Temos três tipos: o protagonista (o herói, por exemplo), o antagonista (o vilão) e os personagens secundários (que não fazem parte da trama principal)
É importante ressaltar, que nem sempre o personagem principal será uma pessoa. Na obra de Aluísio de Azevedo “O cortiço”, é este local que figura como personagem principal. Na literatura mais recente, como a trilogia de “O Senhor dos Anéis”, escrita pelo linguista J. R.R. Tolkien, um objeto ocupa o lugar de personagem principal: o anel. Por mais que haja herói e vilão, o anel é o personagem principal. Curioso, né?
E aí, gostaram do resumo? Espero que sim! Continuem estudando e foco no ENEM!
Exercícios
1.
“Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade
Como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
– Tem uma festa legal e a gente quer se divertir (…)”.
(Eduardo e Mônica. RUSSO, Renato. In: Legião Urbana – Dois. EMI, 1986.)
Sobre o tipo de narrador presente na música Eduardo e Mônica, é correto afirmar que se trata de um:
a) Narrador personagem, pois, além de narrar os fatos, verídicos ou não, faz parte da história contada, sendo assim, personagem dela. Esse tipo de personagem apresenta uma visão limitada dos fatos, já que a narrativa é conduzida sob seu ponto de vista.
b) Narrador testemunha, pois é uma das personagens que vivem a história contada, mas não é uma personagem principal.
c) Narrador onisciente, pois sabe de tudo o que acontece na narrativa, seus aspectos e o comportamento das personagens, podendo, inclusive, descrever situações simultâneas, embora essas ocorram em lugares diferentes.
d) Narrador observador, pois presencia a história, mas diferentemente do que acontece com o narrador onisciente, não tem controle e visão sobre todas as ações e personagens, confere os fatos, mas apenas de um ângulo.
e) Narrador onisciente neutro, pois relata os fatos e descreve as personagens, no entanto, não tenta influenciar o leitor com opiniões a respeito das personagens, falando apenas sobre os fatos indispensáveis para a compreensão da leitura.
2. (FUVEST) “(…) Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava-as, para me não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.
O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o principal irá. E o principal é que os nossos temporais eram agora contínuos e terríveis. Antes de descoberta aquela má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se fizesse azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos levavam às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento desbaratava tudo, e nós, postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era tardia nem dúbia, antes total, próxima e firme (…)”.
(Fragmento do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis)
A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela apresenta-se:
a) fiel aos fatos e perfeitamente adequada à realidade;
b) viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador;
c) perturbada pela interferência de Capitu que acaba por guiar o narrador;
d) isenta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade;
e) indecisa entre o relato dos fatos e a impossibilidade de ordená-los.
Gabarito
1. A
2. B