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Questão 134
Anoitecer
A Dolores
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas,
apitos aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
[…]
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz – morte – mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
agasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim,
meu passado, meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
ANDRADE, C. D. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 2005 (fragmento).
Com base no contexto da Segunda Guerra Mundial, o livro A rosa do povo revela desdobramentos da visão poética. No fragmento, a expressividade lírica demonstra um(a)
- defesa da esperança como forma de superação das atrocidades da guerra.
- desejo de resistência às formas de opressão e medo produzidas pela guerra.
- olhar pessimista das instituições humanas e sociais submetidas ao conflito armado.
- exortação à solidariedade para a reconstrução dos espaços urbanos bombardeados.
- espírito de contestação capaz de subverter a condição de vítima dos povos afetados.
Comentário da questão
Nesse texto, o eu-lírico se demonstra desesperançoso em relação ao fim da guerra; sente-se oprimido, sufocado diante dela, mesmo nos momentos em que deveria ter paz. Vocábulos como “sino”, “buzinas”, “sirenes” são utilizados de forma metonímica para sugerir a falta de sossego.