Entre o 2º semestre de 2020 e o 1º de 2021, algumas escolas tentaram o retorno das aulas presenciais. Com o debate sobre a Educação se tornar um serviço essencial e com o avanço da vacinação para educadores em alguns estados¹, outras instituições preparam-se para reabrir no 2º semestre deste ano. No entanto, não é novidade que a pandemia trouxe efeitos devastadores para a comunidade escolar. Nesse cenário, as escolas têm um papel fundamental e precisam estar prontas para encarar a dura realidade. Em artigos anteriores, já falamos sobre questões regulatórias e sanitárias e como planejar a reabertura. Agora, voltamos alguns passos para falar de algo tão importante quanto: o acolhimento socioemocional.
Para alcançar um entendimento melhor sobre o tema, nós do Descomplica pra Escolas vamos falar neste artigo sobre:
- Mapeamento de Traumas na Comunidade Escolar
- Preparação do Corpo Docente e Administrativo
- Escuta Ativa e Dinâmicas Rotineiras
- Pacto Coletivo para um Ambiente Escolar Seguro e Saudável
Mapeamento de Traumas na Comunidade Escolar
É fato que cada membro da comunidade vivenciou uma realidade distinta no isolamento, ou seja, este não é o momento para achar soluções homogêneas. Dentre as práticas ideais para diagnóstico e acompanhamento, estão a avaliação psicológica de retorno e a disponibilização de uma assistência profissional. Entretanto, ter alguém especializado atendendo à comunidade nem sempre é possível em grande parte das escolas. Nesse caso, é interessante destacar uma pessoa que inspire carisma e demonstre empatia com o grupo, mesmo que seja um leigo. Afinal, os problemas foram diversos e severos:
- Acometimentos de saúde e/ou financeiros;
- Perda de entes queridos, como pais, cônjuges, filhos ou amigos;
- Convivência em lares abusivos com exposição a situações de violência doméstica;
- Pessoas da comunidade que não retornarão, seja por óbito ou evasão escolar;
- Dentre outros.
Segundo pesquisa do Instituto de Psicologia da UERJ, houve um aumento de 80% nos casos de ansiedade e estresse durante o isolamento social². Nesse panorama, é esperado das escolas que elas entrem em contato com as famílias individualmente, ou organizem reuniões remotas com o objetivo de compreender as dificuldades que foram e estão sendo enfrentadas. Neste sentido, cabe a realização de uma pesquisa de clima como ponto de partida e um acompanhamento individual nos casos mais extremos, acionando redes de apoio.
Preparação do Corpo Docente e Administrativo no Acolhimento Socioemocional
Problemas que antes pareciam distantes do universo escolar podem emergir com a fragmentação da convivência presencial. É o caso do medo de voltar ao trabalho presencial, que vem sendo constatado em profissionais de diversas áreas. O fenômeno está relacionado não só ao receio de pegar e transmitir a COVID-19, mas também à dinâmica da interação no trabalho – desde lidar com um chefe difícil a relacionar-se com colegas sem afinidade, por exemplo. Assim, é importante promover a escuta e o diálogo entre os próprios educadores, oferecendo um espaço para que eles compartilhem suas questões.
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Soma-se a isso a realidade atual de que a maior parte dos adultos envolvidos no ambiente escolar, dentre professores, coordenadores e pais, não tiveram em sua geração um estímulo e preparação para lidar com as próprias emoções. Apesar disso, eles encontram-se agora no desafio iminente de gerenciar e lidar também com as emoções dos alunos. No caso dos colaboradores, é necessário não só um acompanhamento próximo do gestor, como também formações e oficinas abordando os temas de maior incidência na pesquisa de clima com discussões sobre as melhores práticas para tratá-los.
Escuta Ativa e Dinâmicas Rotineiras no Acolhimento Socioemocional
No acolhimento socioemocional, a escuta ativa é a principal atitude a ser difundida. Para tanto, é importante promover um espaço de diálogo aberto com os alunos para que eles expressem emoções, tirem dúvidas e peçam ajuda através de dinâmicas rotineiras. Aqui, elaborar e propor um conjunto de sequências didáticas e de atividades diversificadas vai permitir observar, acolher e cuidar da saúde emocional dos estudantes de modo constante e rotineiro.
Para auxiliar, listamos algumas sugestões de práticas recomendadas por especialistas³:
- Disposição para conversas antes ou após as aulas;
- Momentos de meditação e conexão com a respiração;
- Grupos online para interação de alunos e integração de novos;
- Incentivar a gratidão e os elogios através de ações e mensagens;
- Pesquisas de demandas e interesses de alunos e responsáveis;
- Rodas de conversa para compartilhar emoções e sentimentos;
- Vídeos com mensagens de incentivo e palavras afirmativas.
Pacto Coletivo para um Ambiente Escolar Seguro e Saudável
Em meio a tantas informações e incertezas, a boa execução do retorno das aulas presenciais depende de um pacto a ser construído com a confiança mútua de que não só as normas sanitárias serão respeitadas, mas também a saúde mental e as particularidades de cada membro no ambiente escolar. Por isso é tão importante estabelecer trocas com toda a comunidade, não apenas nas questões relativas às aprendizagens, mas também no cuidado. Assim, promove-se o fortalecimento do vínculo e da empatia direcionados à sinergia colaborativa para a melhor experiência de retorno.
O Retorno das Aulas Presenciais demanda uma conversa contínua e, por isso mesmo, este artigo não teve a pretensão de ser definitivo, mas sim parte de uma série de conteúdos que se destinam a abordar e tratar cada um dos seus aspectos. Para aprofundar, promovemos também um evento que você pode conferir na íntegra:
Referências
¹Governo de SP: Anunciada vacinação da Covid-19 para profissionais da Educação de 18 a 46 anos
²G1: Pesquisa da Uerj mostra que casos de ansiedade e estresse aumentaram durante a pandemia do coronavírus
³Porvir: Como falar sobre sentimentos e acolher os estudantes na volta às aulas