Fomos falar com o tal encarregado, depois com um engenheiro, depois com um supervisor que mandou chamar um engenheiro da nossa companhia, Esses homens são da sua companhia, engenheiro, ele falou, estão pedindo a conta. A companhia está empenhada nessa ponte, gente, falou o engenheiro, vocês não podem sair assim sem mais nem menos. Tinha uma serra circular cortando uns caíbros ali perto, então só dava pra falar quando a serra parava, e aquilo foi dando nos nervos.
Falei que a gente tinha o direito de sair quando a gente quisesse, e pronto. Nisso encostou em sujeito de paletó mas sem gravata, o engenheiro continuou falando e a serra cortando. Quando ele parou de falar, 50 Volts aproveitou uma parada da serra e falou que a gente não era bicho pra trabalhar daquele jeito; daí o supervisor falou que, se era falta de mulher, eles davam um jeito. O engenheiro falou que tinha mais de vinte companhias trabalhando na ponte, a maioria com prejuízo, porque era mais uma questão de honra, a gente tinha de acabar a ponte, a nossa companhia nunca ia esquecer nosso trabalho ali naquela ponte, um orgulho nacional.
PELLEGRINI, D. A maior ponte do mundo. In:
Melhores contos. São Paulo: Global, 2005.
Para convencer os trabalhadores a não abandonarem os postos de trabalho, um dos representantes do empregador utiliza, como última tentativa de convencimento, o apelo ao patriotismo. Isso porque, como pode ser constatado no último período do texto, o engenheiro afirma que as companhias estavam trabalhando naquela ponte por uma “questão de honra”, já que ela representaria algum tipo de “orgulho nacional”. Então, por extensão, os trabalhadores também estariam prestando um serviço à pátria.