Redação Exemplar

O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

Ilha perdida

Na obra “O Alienista”, Machado de Assis retrata a história do renomado médico, Simão Bacamarte, e sua criação: um manicômio para tratar os entendidos como “loucos”. Mesmo com sucesso inicialmente, quase toda a população de Itaguaí fora internada por seu falso julgamento sobre a loucura, o que levou a cidade ao desespero. Embora seja uma ficção do século XIX, a atualidade brasileira ainda se vê nesse cenário de estigmas sobre as doenças mentais, uma vez que o estilo de padronização social, atrelado à insuficiência de políticas públicas, acentuam a falta de informação sobre o tema.

Primeiramente, é notório que o contexto atual é um dos principais motivos para o preconceito sobre doenças psicossociais. Vive-se, de acordo com o escritor Guy Debord, em um período de espetacularização social, em que as imagens ultrapassam e dominam a realidade do ser humano, cegando-o da diversidade existente. Como exemplo, nos dias de hoje, é exigido padrões de beleza, sucessos financeiros e grandes conquistas, não tendo espaço para os problemas individuais e cotidianos. Isso, junto com as necessidades pós-modernas de produtividade, corrobora para a marginalização de temas como saúde mental, que não só precisam de cuidado e atenção, mas também explicitam a temida vulnerabilidade natural do ser humano.

Ademais, é importante ressaltar que a insuficiência de políticas públicas auxilia a desinformação sobre o assunto e não ampara quem sofre com o problema. De acordo com o artigo 196 da Constituição Federal, a saúde é um direito de todos e é um dever do Estado. No entanto, além de não haver Centros de Apoio Psicossocial na maioria dos municípios do país, os números são ainda menores quanto à distribuição de Serviços Residenciais Terapêuticos, destinados às pessoas com transtornos mentais. Excluído de uma sociedade de imagens, quem sofre é ainda mais marginalizado quando lhe faltam oportunidades para compreender a si mesmo e suas questões psicológicas, aumentando o preconceito.

Assim, é possível compreender que os estigmas sobre as doenças mentais são reflexos de uma realidade que distancia o conhecimento sobre o problema. É necessário, então, que o Ministério da Saúde, órgão responsável pela organização e assistência à população, aumente as condições de tratamento aos que sofrem transtornos psicológicos e impulsione o conhecimento sobre as doenças. Isso deve ser feito por meio da ampliação de programas, como CAPS e SRT, além da promoção midiática sobre o tema. Somente combatendo o preconceito, as doenças psicossociais deixarão de ser uma “ilha perdida”, como menciona Bacarmarte, sendo compreendidas e amparadas por toda a população.