Descubra tudo sobre a prosa no pós-modernismo brasileiro!
No fim da década de 1940, a prosa de ficção brasileira passa por uma transformação radical. A exploração da linguagem, matéria-prima do texto, favorece novas experiências que rompem com a estrutura tradicional da narrativa, ao mesmo tempo que permitem um mergulho na mais funda entidade do ser humano.
Contexto Histórico
- 1953 – Criação da Petrobrás.
- 1959 – Fidel Castro toma o poder em Cuba.
- 1963 – Assassinato do presidente John F. Kennedy.
- 1968 – Protestos estudantis em vários países por reformas educacionais e políticas; Presidente Costa e Silva decreta AI-5.
- 1969 – Primeiro ser humano chega à Lua; Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Edu Lobo partem para o exílio.
A Reinvenção da Narrativa
Há um experimentalismo narrativo, organizado a partir de novas possibilidades: verifica-se o processo de associação de imagens e diversos recursos verbais; explora-se o fluxo de consciência; narrador e personagens adquirem novos papéis, com consciência crítica; e, por fim, há uma dedicação à importância do trabalho com a linguagem.
Fluxo de Consciência
O fluxo de consciência recria o funcionamento da mente humana; impressões como as visuais, olfativas, auditivas, físicas e associativas ganham forma no texto.
A Prosa Pós-Moderna e o Público
Os críticos reagiram rapidamente: as obras eram mais difíceis de serem entendidas do que as anteriores, e não ganharam destaque entre os leitores em primeira instância. Entretanto, a crítica voltada à literatura, após o estranhamento inicial, exalta os autores publicamente, fazendo-os ganhar renome. Para o leitor, o maior desafio é entrar em seu mundo: ao acompanhar a vida e a trajetória das personagens, ele acaba percebendo a própria vida.
A prosa no período pós-moderno caracteriza-se por uma pluralidade de tendências e estilos. Os limites entre gêneros literários – romance e conto, conto e crônica, crônica e notícia – vão sendo quebrados a partir dos anos 70, incorporando técnicas de linguagem que até então encontravam-se fora de seus domínios. Surgem os romances com semelhanças a reportagens, contos parecidos com poemas em prosa, autobiografias mascaradas em romances narrativos, etc.
Exercícios
1. Sobre o pós-modernismo, é correto afirmar, exceto:
a) Pós-modernismo é o nome dado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades desde 1950.
b) O pós-modernismo é um termo de periodização artística e literária que se refere ao que vem depois do modernismo, abrangendo suas três fases: primeiro modernismo dos anos 20, modernismo dos anos 30-45, modernismo canônico demeados dos anos 40 e 60.
c) As narrativas pós-modernas apoiam-se no cotidiano, daí o seu caráter espontâneo, e dão prioridade às temáticas que levam ao inconsciente coletivo.
d) Os temas da prosa pós-modernista são extraídos do cotidiano e tratados com irreverência. Essa abordagem tinha como objetivo destruir e contestar os valores artísticos do passado, bem como os valores ideológicos, sociais e históricos que forjaram o patriotismo brasileiro.
e) Enquanto o Concretismo consolidava suas características na poesia, a prosa pós-modernista seguia por diferentes estilos, marcada por tendências diversas: regionalista, urbana, intimista, política, realista-fantástica, além de crônicas e contos.
2.(UFES – ES)
“Alguém que ainda pelejava, já na penúltima ânsia e farto de beber água sem copo, pôde alcançar um objeto encordoado que se movia. E aquele um aconteceu ser Francolim Ferreira, e a coisa movente era o rabo do burrinho pedrês. E Sete-de-Ouros, sem susto e mais, sem hora marcada, soube que ali era o ponto de se entregar, confiado, ao querer da correnteza. Pouco fazia que esta o levasse de viagem, muito para baixo do lugar da travessia. Deixou-se, tomando tragos de ar. Não resistia.”
Guimarães Rosa – O burrinho pedrês.
A característica regionalista presente no fragmento literário acima é:
a) A exploração dos homens e dos animais pelos proprietários no meio rural.
b) O mal-estar gerado pela decadência social.
c) A observação minuciosa da fauna e da flora de uma região.
d) A integração dos homens e dos bichos a seu meio ambiente.
e) O respeito pelas superstições e sentimentos populares.
3. (Enem – 2013)
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[…]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
a) Observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b) Relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) Reflete-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
d) Admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolheras palavras exatas.
e) Propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
Gabarito
1. D
Comentários: As características descritas na alternativa D dizem respeito à primeira fase do modernismo brasileiro, também conhecida como fase heróica.
2. D
3. C
Comentários: Na questão sobre o fragmento do livro “A hora da estrela”, de Clarice Lispector, podemos perceber a preocupação em abordar os aspectos relacionados com a composição do texto literário. A peculiaridade da voz narrativa de Clarice mostra as reflexões existenciais do sujeito em crise e também uma técnica de construção do discurso muito presente na linguagem da escritora, o “fluxo de consciência”, no qual a personagem deixa de narrar para fazer reflexões acerca do próprio comportamento.