Leia o resumo Até que ponto devemos condenar o uso de estrangeirismo na língua? e resolva as questões abaixo.
1. (FUVEST)Capitulação
Delivery Até pra telepizza É um exagero. Há quem negue? Um povo com vergonha Da própria língua Já está entregue.
(Luis Fernando Verissimo)
O título atribuído pelo autor está adequado, tendo em vista o conteúdo do poema? Justifique sua resposta. 2. O exagero que o autor vê no emprego da palavra delivery se aplicaria também a telepizza? Justifique sua resposta. 3.Deliverando
Muita gente parece achar que a última flor do Lácio, além de inculta e apesar de bela, como Bilac a descreveu, é pobre demais: precisa de injeções frequentes de outros idiomas, de preferência o inglês. São aqueles que nunca estacionam seus carros: parqueiam-nos. Suas amadas jamais têm encantos: são cheias de glamour. Emoções são trips, e o pessoal fica down em vez de deprimido, o que não é nada o.k. Uma turma, sem dúvida, muito over. E quem entende a nossa importação dos billboards americanos (anúncios em grandes cartazes ao ar livre), batizando-os de outdoors? Combater as importações bobocas ou simplesmente desnecessárias não é simples. Existem as necessárias. Nenhum vocabulário é imutável, fechado. Toda sociedade absorve experiências e criações de outros povos, e nem sempre dispõe de expressões que definam as novidades necessárias. Muitas vezes, é preciso adotar simultaneamente o termo e a atividade ou a coisa. Não há nada errado em surfar e andar de skate – este, mesmo sem ter virado esqueite, diferentemente do esqui. Ou comer uma pizza, tomar um sakê. E seria insensato rejeitar o bar dos ingleses ou a sauna dos finlandeses (embora tenhamos tomado a liberdade de chamar de sauna também o banho turco). Enfim, é tão importante zelar pelo nosso vocabulário como não rejeitar aquisições indispensáveis ou obviamente convenientes. A importação de palavras é indispensável quando trazemos para o dia a dia algo de novo. Quando o futebol veio da Inglaterra, trouxe na bagagem o córner, o gol, o pênalti, o chute. O zagueiro fomos buscar, sabe-se lá por que, da Espanha. Dos Estados Unidos adquirimos o motel, e não mudamos o nome mesmo quando especializamos sua finalidade: lá, motéis não são usados só para encontros amorosos, como aqui. Há um caso estranho: aportuguesamos o knock out inglês, transformando-o em nocaute, mas preservamos a abreviatura “KO”. Vá-se entender. A regra deveria ser óbvia: importar o indispensável, por sê-lo. E evitar o absurdo de usar expressões estrangeiras gratuitamente. Há óbvia diferença entre aceitar um termo sem equivalente nacional e trazer outro, que tem apenas o suposto encanto (não o charme, claro) de tornar a comunicação mais sofisticada ou elegante. Ressuscito este arrazoado provocado por praga recente: o Rio (ou o Brasil inteiro, sei lá) está cheio de estabelecimentos que entregam compras em domicílio apregoando em cartazes que fazem a tal delivery. São fornecedores de pizzas, sanduíches e outras comidinhas (para os que não sabem o que seja uma comidinha, informo, resignado: é o que vocês chamam de fast food). Será possível que esses comerciantes estão convencidos de que o serviço anunciado em inglês torna-se mais confiável? O alimento delivered chega mais depressa e mais quentinho? Não acredito. Deve ser besteira mesmo, exemplo triste de uma mentalidade colonizada, dos dois lados do balcão.(GARCIA, Luiz. O Globo)
O texto revela a postura do cronista diante do uso indiscriminado de estrangeirismos em nosso vocabulário. Determine de que maneira tal postura é caracterizada na crônica. 4. Em tom de humor, o cronista aponta algumas possíveis justificativas para essa opção por termos estrangeiros. Cite duas delas. 5. Explique, considerando a abordagem do texto, o significado da passagem final da crônica “exemplo triste de uma mentalidade colonizada, dos dois lados do balcão”. 6. (ENEM): Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a preservação da soberania nacional, a saber:........Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos do território nacional;Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como "Me vê um chopps e dois pastel";..........Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a palavra "borraxaria" e nenhum dono de banca de jornal anunciará "Vende-se cigarros";..........Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colocações pronominais como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".(PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.)
No texto acima, o autor: a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso. b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua. c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro. d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros linguísticos ao propor medidas que os controlem. e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.