Aprenda tudo sobre o Barroco na aula de hoje junto com o professor Diogo Mendes e prepare-se cada vez mais para o ENEM!
Não esqueça de verificar, abaixo, os horários das aulas e o material de apoio!
Literatura: Barroco
Turma da Manhã: 10h15 às 11h15, com o professor Diogo Mendes
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MATERIAL DE AULA AO VIVO
Texto 1
Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
(Gregório de Matos)
Texto 2
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
(Gregório de Matos)
Texto 3
A uma freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou “Pica-flor”
Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome, que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fico então Pica-flor
(Gregório de Matos)
Vocabulário
Pica-flor: beija-flor
Flor: partes íntimas da mulher
Texto 4
Sermão do Bom Ladrão (fragmento)
“Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. — Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? — Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco pone latronem et piratam, quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.”
(Padre Antônio Vieira)
1.
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO. D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos.
São Paulo: Globo. 2006.
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por:
a) visão cética sobre as relações sociais.
b) preocupação com a identidade brasileira.
c) crítica velada à forma de governo vigente.
d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.
LISTA DE EXERCÍCIO
Texto para as questões 1 e 2.
A certa personagem desvanecida
Um soneto começo em vosso gabo:
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.
Na quinta torce agora a porca o rabo;
A sexta vá também desta maneira:
Na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais
Gabando-vos a vós, e eu fico um rei.
Nesta vida um soneto já ditei;
Se desta agora escapo, nunca mais
Louvado seja Deus, que o acabei.
(Gregório de Matos)
1. (UFRJ) O soneto de Gregório de Matos emprega níveis de linguagem contrastantes. Transcreva uma expressão da segunda estrofe e outra da terceira que comprovem essa afirmativa.
2. (UFRJ) No mundo barroco, predominam os contrastes. Partindo das ideias contidas no 1º e nos dois últimos versos do soneto de Gregório de Matos, explique a oposição básica que confere ao texto feição satírica.
Texto para as questões 3 e 4.
Sermão de Vieira
Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será por que antigamente os pregadores eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu, e outros como eu? — Boa razão é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia. (…) Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo.
VIEIRA, Antônio (Pe). Os Sermões. Seleção de Jamil Almansur Haddad.
São Paulo: Melhoramentos, 1963, p.80.
Padre Antônio Vieira, falecido há trezentos anos, é autor exponencial nas literaturas portuguesa e brasileira. Seu estilo barroco se caracteriza, entre outros procedimentos, pelo rigor do pensamento, expresso numa linguagem insinuante, rica em reiterações, antíteses, paralelismos, jogos de palavras e construções cujos efeitos chegam com frequência ao paradoxo. No fragmento apresentado, põe em evidência sua teoria da arte de pregar. Releia-o com atenção e, a seguir:
3. (UNESP) Responda quais as expressões que o orador apresenta em paralelo com os nomes semeador, pregador, soldado e governador.
4. (UNESP) Interprete, de acordo com Vieira, a diferença fundamental de sentido entre as mesmas expressões e os nomes correspondentes.
Gabarito
1. “Na quinta torce agora a porca o rabo” e “Gabando-se a vós, e eu fico um rei”.
2. No soneto, há oposição entre a proposta inicial de elogio “um soneto começo em vosso gabo” e a sua realização “se desta agora escapo, nunca mais”.
3. As expressões apresentadas “em paralelo” são: semeador – “o que semeia”, pregador – “o que prega”, soldado – “o que peleja”, governador – “o que governa”.
4. Para Vieira, o nome não implica que aquele que ostenta pratique a ação que lhe corresponde. Por isso, pode haver (Vieira afirma que há) muita diferença entre o semeador e o que semeia, como entre o pregador e o que prega, o soldado e o que peleja, o governador e o que governa. Em outras palavras, nem sempre o semeador, o pregador, o soldado e o governador praticam as ações que fariam deles, em verdade, semeador, pregador, soldado e governador.