É comum, no ano de vestibular, quando surgem dúvidas quanto ao uso dos estrangeirismos na redação. Mas como isso pode cair na sua prova de vestibular? O professor Rafael Cunha te dá uma dica e, logo em seguida, nós damos a você um super resumo sobre o assunto! Confira:
Até que ponto devemos condenar o uso de estrangeirismo na língua?
De fato, uma vez que estamos passando uma mensagem na língua portuguesa, é importante que essa língua predomine no texto, seja ele falado ou escrito. Mas será que é tão ruim usar termos estrangeiros? Na língua, esse estrangeirismo ganha espaço, muitas vezes, pelo status causado. Será que esse status não pode ser importante no seu vestibular e na vida? Na verdade, não se deve condenar o estrangeirismo já cristalizado na língua, como “pizza”, ou “shopping”. Porém, há, de fato, aqueles que se mostram desnecessários. Vamos falar um pouco sobre isso? 🙂
Afinal, usar estrangeirismos é interessante ou não?
Até que ponto tal fato representa um enriquecimento, ou, o contrário, uma desvalorização do idioma? Países como França e Espanha criaram leis que regulam o uso de palavras estrangeiras ao seu idioma em anúncios, lojas e restaurantes. No Brasil, existem movimentos que apontam para esse procedimento. De qualquer forma, a língua pode ser um instrumento de subserviência cultural, dependendo de como o falante nativo interaja com essas possibilidades da utilização do sistema linguístico.
Alguns estrangeirismos já são incorporados na língua, como shampoo (inglês) ou abajour (francês) e já estão “aportuguesadas” para “xampu” e “abajur”. Outras são usadas na sua formação original e ainda não sofreram esse processo, como shopping ou release. Contudo, há palavras, como meeting ou paper, que são totalmente dispensáveis, pois já existem correspondentes no português: “encontro” e “artigo”.
Status?
Na verdade, usos como meeting ou paper indicam uma elitização da palavra, uma sofisticação que implica uma desvalorização do idioma materno e uma subserviência cultural que em nada contribui para a nossa formação.
Vamos ver alguns exemplos em que os estrangeirismos são adotados pela sociedade?

É muito comum, na juventude de hoje, a adoção de expressões estrangeiras. Essa adoção é, muitas vezes, consequência do frequente uso da Internet, que, por ser universal, adota o inglês em muitas situações. Você faz uso de algumas expressões estrangeiras em seu dia a dia.

O comércio também tem adotado expressões estrangeiras em seu vocabulário. Os termos “liquidação”, “ofertas” e “descontos” têm dado lugar a expressões em inglês que muitas vezes não têm suas traduções conhecidas pelo consumidor, mas que têm seu sentido já enraizado no meio das vendas.

Os estrangeirismos também são muito comuns no meio profissional, principalmente em e-mails. Expressões como “asap” – “as soon as possible”, ou “assim que possível”, em tradução livre – e “FYI” – “For your information”, ou “para a sua informação” – são muito comuns. Você acha que elas são necessárias?
Qual a sua opinião sobre o uso de estrangeirismos na língua? Você acha que eles são bem-vindos? Em que situações? Conte pra gente! Vamos exercitar?
EXERCÍCIOS
1. (FUVEST)
Capitulação
Delivery
Até pra telepizza
É um exagero.
Há quem negue?
Um povo com vergonha Da própria língua
Já está entregue.
(Luis Fernando Verissimo)
O título atribuído pelo autor está adequado, tendo em vista o conteúdo do poema? Justifique sua resposta.
2. O exagero que o autor vê no emprego da palavra delivery se aplicaria também a telepizza? Justifique sua resposta.
3.
Deliverando
Muita gente parece achar que a última flor do Lácio, além de inculta e apesar de bela, como Bilac a descreveu, é pobre demais: precisa de injeções frequentes de outros idiomas, de preferência o inglês.
São aqueles que nunca estacionam seus carros: parqueiam-nos. Suas amadas jamais têm encantos: são cheias de glamour. Emoções são trips, e o pessoal fica down em vez de deprimido, o que não é nada o.k. Uma turma, sem dúvida, muito over.
E quem entende a nossa importação dos billboards americanos (anúncios em grandes cartazes ao ar livre), batizando-os de outdoors?
Combater as importações bobocas ou simplesmente desnecessárias não é simples. Existem as necessárias. Nenhum vocabulário é imutável, fechado. Toda sociedade absorve experiências e criações de outros povos, e nem sempre dispõe de expressões que definam as novidades necessárias. Muitas vezes, é preciso adotar simultaneamente o termo e a atividade ou a coisa.
Não há nada errado em surfar e andar de skate – este, mesmo sem ter virado esqueite, diferentemente do esqui. Ou comer uma pizza, tomar um sakê. E seria insensato rejeitar o bar dos ingleses ou a sauna dos finlandeses (embora tenhamos tomado a liberdade de chamar de sauna também o banho turco).
Enfim, é tão importante zelar pelo nosso vocabulário como não rejeitar aquisições indispensáveis ou obviamente convenientes.
A importação de palavras é indispensável quando trazemos para o dia a dia algo de novo. Quando o futebol veio da Inglaterra, trouxe na bagagem o córner, o gol, o pênalti, o chute. O zagueiro fomos buscar, sabe-se lá por que, da Espanha.
Dos Estados Unidos adquirimos o motel, e não mudamos o nome mesmo quando especializamos sua finalidade: lá, motéis não são usados só para encontros amorosos, como aqui. Há um caso estranho: aportuguesamos o knock out inglês, transformando-o em nocaute, mas preservamos a abreviatura “KO”. Vá-se entender.
A regra deveria ser óbvia: importar o indispensável, por sê-lo. E evitar o absurdo de usar expressões estrangeiras gratuitamente. Há óbvia diferença entre aceitar um termo sem equivalente nacional e trazer outro, que tem apenas o suposto encanto (não o charme, claro) de tornar a comunicação mais sofisticada ou elegante.
Ressuscito este arrazoado provocado por praga recente: o Rio (ou o Brasil inteiro, sei lá) está cheio de estabelecimentos que entregam compras em domicílio apregoando em cartazes que fazem a tal delivery. São fornecedores de pizzas, sanduíches e outras comidinhas (para os que não sabem o que seja uma comidinha, informo, resignado: é o que vocês chamam de fast food).
Será possível que esses comerciantes estão convencidos de que o serviço anunciado em inglês torna-se mais confiável? O alimento delivered chega mais depressa e mais quentinho? Não acredito. Deve ser besteira mesmo, exemplo triste de uma mentalidade colonizada, dos dois lados do balcão.
(GARCIA, Luiz. O Globo)
O texto revela a postura do cronista diante do uso indiscriminado de estrangeirismos em nosso vocabulário. Determine de que maneira tal postura é caracterizada na crônica.
4. Em tom de humor, o cronista aponta algumas possíveis justificativas para essa opção por termos estrangeiros. Cite duas delas.
5. Explique, considerando a abordagem do texto, o significado da passagem final da crônica “exemplo triste de uma mentalidade colonizada, dos dois lados do balcão”.
6. (ENEM):
Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a preservação da soberania nacional, a saber:
……..
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer “Tu vai” em espaços públicos do território nacional;
Nenhum cidadão paulista poderá dizer “Eu lhe amo” e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como “Me vê um chopps e dois pastel”;
……….
Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a palavra “borraxaria” e nenhum dono de banca de jornal anunciará “Vende-se cigarros”;
……….
Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colocações pronominais como “casar-me-ei” ou “ver-se-ão”.
(PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.)
No texto acima, o autor:
a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso.
b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua.
c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro.
d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros linguísticos ao propor medidas que os controlem.
e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.
Veja como resolver passo-a-passo essa questão!
GABARITO
1. Sim. Capitular significa se render. A entrada de palavras estrangeiras na língua seria, segundo o autor, uma rendição, uma entrega.
2. Telepizza: neologismo formado por tele (prefixo grego) e pizza (palavra de origem italiana). Delivery: substitui uma palavra existente em nossa língua (entrega) apenas por modismo.
3. O cronista propõe que há importações linguísticas necessárias, mas combate, de forma irônica, aquelas que se baseiam somente em uma maneira de status social.
4. Para tornar o produto mais confiável; para trazer ao produto ou à linguagem uma maior sofisticação.
5. De fato, anunciantes só colocam seus serviços com uma linguagem estrangeira porque os próprios consumidores enxergam nela um traço de sofisticação, daí a colonização estar dos dois lados do balcão.
6. B