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Estude com as melhores redações do Enem 2017

Eduardo Valladares, nosso professor de redação, aponta as técnicas de ouro das melhores redações do Enem 2017, feitas por alunos do Descomplica

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Os espelhos das redações do Enem 2017 já podem ser consultados! O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou o conteúdo no dia 19 de Março. Quem prestou o exame no ano passado pode conferir a versão digitalizada de sua própria dissertação. Os corretores incluem comentários e justificativas  para cada competência cobrada na prova. O Instituto também liberou as notas dos treineiros para consulta. Ambas as informações podem ser conferidas na Página do Participante.

SE LIGA NOS 25 TEMAS QUE PODEM CAIR NA REDAÇÃO DO ENEM!

Mas o que fazer com os espelhos de redação? A gente te conta: essa é uma ótima oportunidade de estudar! Analisando redações que já foram corrigidas pela banca, fica mais fácil não repetir determinados desvios nas próximas redações.  Essa pode ser uma arma essencial na hora do estudo.

Por isso, chamamos reforço! O nosso professor de redação, Eduardo Valladares, veio comentar as melhores redações do Enem 2017 – feitas por alunos do Descomplica. Gentilmente, esses alunos nos enviaram seus espelhos de redação. O tema abordado foi “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Para quem mandou muito bem: parabéns! Vocês arrasaram! Para quem vai mandar bem neste ano: Se liga nessas dicas! Você vai brilhar!

Letícia Farias – Nota 960

O livro “Extraordinário” conta a história de uma criança que possui uma deformidade e o modo como sua diferença afeta negativamente seu cotidiano na escola. Do mesmo modo, semelhante ao personagem, alunos surdos no Brasil tem encontrado dificuldades de inclusão, e discriminação no ambiente estudantil. Esse problema se apresenta não só entre colegas de classe, mas também entre os profissionais da educação e atitudes da própria instituição de ensino, que muitas vezes se nega a aceitar um aluno surdo.

Assegurados pela constituição, deficientes de qualquer tipo, possuem o direito à uma educação inclusiva e de qualidade. Porém, na prática existe grande dificuldade por parte dos surdos de encontrar escolas comuns que os aceitem e estejam dispostas à trabalhar de maneira diversificada para sua aprendizagem. Um exemplo disso é o despreparo dos professores, sua falta de conhecimento na linguagem de sinais é muitas vezes a justificativa das escolas para a rejeição do aluno.

Entretanto, o problema não acaba quando o aluno deficiente auditivo consegue se matricular. O convívio com os colegas e a própria equipe ainda é um desafio, assim como o protagonista de “Extraordinário”, o surdo se depara com alunos despreparados, e muitas vezes preconceituosos. Nesse cenário, o deficiente se sente excluído, e sem incentivo educacional.

Portanto, fica evidente que os desafios enfrentados pelo surdo em sua tentativa de conquistar uma formação educacional são um problema a ser resolvido. Como disse Nelson Mandela “A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo”, assim o Ministério da Educação em parceria com escolas e universidades, públicas ou privadas, devem criar programas de inclusão direcionados à alunos e professores, que por meio de palestras, cursos capacitantes e depoimentos de especialistas, os ensinem a compreender e lidar com os surdos. Criando assim um ambiente mais acolhedor para o deficiente e uma familiarização para os alunos, fazendo com que o cenário de “Extraordinário” não se repita.

Comentário

Embora tenha cometido alguns desvios gramaticais, a Letícia arrasou na redação! Tirou 960. Ela começou seu texto com um recurso de impacto: a referência ao livro “Extraordinário” – que tem tudo a ver com o tema proposto. A aluna continuou a construção do seu texto com uma argumentação sólida citando a nossa Constituição. O que é ótimo, já que a dissertação do Enem é conhecida como “redação cidadã”.

Letícia também aprofundou a sua tese expondo uma análise sobre como o deficiente físico é visto pela sociedade – outro recurso de impacto. Afirmou que não é o suficiente apenas o Estado atuar com ações de políticas públicas esse público. Para finalizar, ela caprichou na proposta de intervenção: especificou o que é preciso fazer, quem tem que entrar em ação e como o plano deve ser executado. E ainda citou Nelson Mandela!

Thiago Saback – Nota 980

Segundo o filósofo da educação Paulo Freire, se a educação, por um lado, não altera o mundo, por outro sua ausência torna inviável qualquer mudança. Nesse sentido, verifica-se a importância da aprendizagem formal para o exercício pleno da cidadania por parte do indivíduo. Todavia, no atual contexto social brasileiro, a vivência de uma cultura voltada para a perfeição introduz obstáculos à formação do surdo tanto no meio em que se insere, quanto em seu lado psicológico.

O culto à perfeição estimula o afastamento de todos aqueles que não seguem o padrão vigente. Por esse motivo,  deficientes auditivos se veem isolados e excluídos por seus colegas de classe que, fazendo uso de críticas diretas ou indiretas, aceleram o processo de desidentificação desse grupo em relação àqueles considerados normais perante o julgamento social. Tal postura culmina no desestímulo do surdo não só pela educação, mas também pela comunicação com outros indivíduos.

Somado isso, a cultura perfeccionista estimula um senso de inferioridade no mesmo. Mediante ao cenário em que vive, o deficiente auditivo pode desenvolver um senso de inadequação, sentindo-se não só diferente do outro, mas também menos capaz de atingir conquistas audaciosas, chegando ao ápice de um possível transtorno psicológico ou até mesmo à depressão. De acordo com o psicólogo e autor do livro “A auto-estima e seus pilares”, Nathaniel Branden, quando o indivíduo atinge um alto grau de descrença em sua capacidade de realização, isso tende a refletir na realidade, o que se torna um agravante ainda mais expressivo.

Portanto, é evidente o impacto da cultura da perfeição na formação do surdo no Brasil. Nesse sentido, as mídias televisivas devem abordar em suas programas a temática da igualdade existente entre os deficientes auditivos e o que não o são, de forma a conscientizar a sociedade sobre tal problemática. Além disso, as escolas devem promover eventos de integração por meio de atividades esportivas, visando trabalhar a empatia e a colaboração entre todos os envolvidos. Dessa forma, como exalta Paulo Freire, a educação será a fonte de mudança para todo brasileiro.

Comentário

O Thiago tirou 980! Um notão! O aluno usou muito bem o recurso de originalidade ao citar dois autores: o educador Paulo Freire logo na introdução e o psicólogo Nathaniel Branden ao longo no corpo do texto. Além disso, assim como a Letícia, o aluno também preparou uma conclusão bem completa em que cita a Mídia e a Escola como os agentes interventores da proposta. Algumas rasuras e uma grafia mais ou menos legível prejudicaram um pouco a sua nota. O que é importa é que a redação do Thiago está super concatenada e o mil não veio por pouco.

Júlia Alves – Nota 920

Em 1988, foi criada a Constituição Cidadã, para mudar e ratificar os direitos sociais, civis e políticos de todos os brasileiros. Dessa forma, garantiu-se vários direitos, entre eles, o direito à vida, à liberdade e à educação, independente de etnia, gênero ou qualquer outra forma de discriminação. Apesar desse avanço, os deficientes auditivos do século XXI estão sendo submetidos a dificuldades no âmbito educacional, contradizendo a constituição. Assim, é necessário avaliar o Estados e a sociedade como principais empecilhos na escolaridade dos surdos.

Em primeira instância, é preciso ressaltar a negligência estatal como a protagonista dessa situação. A oferta de professores, no ensino público, conhecedores da língua brasileira de sinais é mínima, principalmente em cidades pequenas. Nesse sentido, o aluno é prejudicado não obtendo boa assimilação do conteúdo, consequentemente, causando baixo desempenho escolar. Com isso, foram criadas escolas especiais exclusivas, entretanto, são em sua maioria particulares, o que elitiza a educação. Além do fato de ocorrer segregação social do surdo, principal motivo de sua marginalização. Assim, é visível o impacto gerado pela falta de investimentos do governo.

Além disso, há o preconceito sofrido pelo indivíduo. Desde o ensino fundamental até o superior, existem pessoas que humilham os diferentes. Tal humilhação tem suas raízes na infância, devido a falta de contato com a diversidade, e, ainda, no caráter individualista da maioria da sociedade, a qual não possui empatia para lidar com outros cidadãos. As consequências dessa violência não são somente psicológicas, como depressão, mas também sociais, como a evasão escolar, visto que o ambiente se torna hostil.

Fica claro, portanto, a magnitude dos desafios enfrentados pelos surdos. Para remediar esse paradigma, o Ministério da Educação deve lembrar do filósofo Aristóteles, a qual dizia que é preciso tratar os desiguais de maneira desigual, na medida de sua desigualdade, e, assim, qualificar professores para atendê-los, fornecendo cursos de libras gratuitamente nas escolas do Brasil, para que essa parte da população tenham iguais oportunidades. E, por fim, as escolas devem fornecer psicólogos e fazer campanhas a favor da educação inclusiva para que a constituição de 88 seja obedecida.

Comentário

A Júlia garantiu o seu 920 apresentando uma tese explícita logo na introdução. A argumentação é sólida, com um começo, meio e fim bem definidos. Além de que também mostra um viés humanista, analisando como a sociedade se comporta em relação aos deficientes, no corpo do texto.

A proposta de intervenção também é semelhante com a do Letícia e do Thiago. Para tirar mil, faltou impacto e a originalidade. Mas por ser assertiva, direta ao ponto e deixar claro quem deve agir para resolver o problema, pode ser considerada uma excelente redação!  

O texto circuito

Vale ressaltar que todos os alunos fizeram um “texto circuito”. Você já tinha ouvido falar nesse recurso? É quando o aluno apresenta uma referência na introdução e conclui o seu argumento com a mesma referência. Por exemplo, a Letícia cita o livro “Extraordinário” na primeira linha e volta a falar da obra no fim da dissertação. Isso mostra que o aluno se planejou bem antes de partir para a escrita.
Anotou as dicas? Temos certeza que elas são importantes e vão te ajudar na prática da redação. Não esquece de ir conferir o seu espelho lá no site do Enem, se você prestou o exame no ano passado, para saber quais são os desvios que merecem atenção! Se vai prestar o exame este ano pela primeira vez, vamos juntos nessa corrida rumo à universidade?

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