Contexto Histórico
Escola Cínica
Escola Estóica
Escola Epicurista
Medievo
Questões 1, 2 e 3
Questões 4 e 5
Na época em que Alexandre Magno conquistou a Grécia, o Egito e todo o Oriente Médio, construindo um verdadeiro império intercontinental e dando início ao período histórico conhecimento como helenismo, a filosofia antiga passou por grandes transformações. Aristóteles, o último grande filósofo do período sistemático, havia morrido e, após ele, o que se formou foi uma série de correntes filosóficas divergentes, conhecidas como filosofias helenísticas. Tais correntes constituíram a última fase da filosofia antiga e duraram desde o século IV a.C. até o século VI d. C., depois da queda do Império Romano do Ocidente, quando o imperador bizantino Justiniano proibiu definitivamente a promoção de qualquer vertente de pensamento pagã.
Antes de tratarmos de cada uma dessas correntes em específico, é necessário compreender o que todas elas tinham em comum: tratavam-se de vertentes filosóficas fundamentalmente éticas, isto é, voltadas para a questão da conduta e da ação humanas. Suas preocupações, muito mais do que com problemas teóricos e especulativos, como a origem do mundo, o fundamento do conhecimento e a ordem do universo, era com questões práticas, em particular aquela que diz respeito à boa vida, isto é, à felicidade humana. Para os helenísticos, não é que as questões teóricas não fossem relevantes ou que a realidade não devesse ser compreendida, mas sim que estas coisas são importantes apenas porque ajudam o homem a viver melhor - e não o contrário.
No plano político, a antiga liberdade do cidadão grego, exercida no contexto de autonomia de suas cidades, foi abalada pelo domínio macedônico, ocorrendo um declínio da participação do cidadão nos destinos da pólis. As preocupações coletivas da pólis cederam lugar às preocupações pessoais, a reflexão política enfraqueceu-se e a vida privada tornou-se o centro das investigações filosóficas. As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade, da vida pessoal e interior do ser humano. Formulam-se, então, diversos modelos de conduta, “artes de viver”, “filosofias de vida”.
Parece que a principal preocupação dos filósofos era proporcionar às pessoas desorientadas e inseguras com a vida social alguma forma de paz de espírito, de felicidade interior em meio àsatribulações da época. um dos principais filósofos desse período, epicuro, aconselhava que as pessoas se afastassem dos perigos e da intranquilidade da vida política e buscassem a felicidade em sua vida privada. “Viva oculto” era um de seus mandamentos. Dentre as correntes helenistas podemos destacar o epicurismo, o estoicismo, o pirronismo e o cinismo.
Para o epicurismo, o homem vive dividido entre duas possibilidades básicas: o prazer e a dor. Sua felicidade, assim, consiste em obter o maior prazer e a menor dor possíveis. Isto, porém, não significa que o epicurismo seja hedonismo, ou seja, uma busca desenfreada por prazer. Ao contrário, segundo Epicuro, fundador da escola, há muitas dores passageiras que, a longo prazo, geram prazeres enormes (como estudar muito para passar no vestibular), assim como há prazeres intensos que depois promovem dores maiores (como beber muito e ficar de ressaca). A busca pelo prazer e a fuga da dor, portanto, não deve ser impulsiva e irracional, mas ponderada e equilibrada. Atomistas, os epicuristas diferenciavam-se de Demócrito, porque não achavam que tudo é determinado pela constituição dos átomos, mas sim que o homem é livre em sua decisões.
Para alcançar a felicidade, um estado de ausência de dor (denominado ataraxia), os epicuristas defendiam então que era preciso aprender a desfrutar dos prazeres concretos, perenes. Para isso, era preciso aprender a dominar o imediatismo e os prazeres exagerados da paixão, como medo, apego, cobiça etc. Esse estado de impertubabilidade da alma só poderia ser alcançado com a prática dos prazeres que encantam o espírito, como a contemplação das artes em geral e boa conversação.
O estoicismo é a corrente filosófica de maior influência do período helenista. Para o estocismo, a felicidade humana consiste na ataraxia, tranquilidade da alma, ou apatheia, ausência de perturbações. Tal tranquilidade é obtida quando o homem, guiando-se por sua razão, vence o poder das paixões e sentimentos sobre seu ânimo. Toda a realidade é guiada pela razão (toda a natureza, os indivíduos, os seres), sendo assim, um desencontro com a razão (entrega as paixões) traz infelicidade. Até aquilo que chamamos de Deus é racioanl, sendo a fonte dos princípios que regem a realidae. Este guiar-se pela razão é a grande meta da filosofia estóica e se obtém, segundo Zenão, fundador da escola, a partir do momento em que o homem reconhece que essa razão universal e divina que rege e conduz o mundo. Ao reconhecer que o mundo é mantido pela Razão, o ser humano percebe que a realidade possui uma estrutura lógica e coerente à qual o homem, para ser feliz, precisa vincular-se.
Integrado à natureza, não há para onde o ser humano fugir nem onde se esconder, além do mundo onde vivemos. Reconehcendo a razão que guia o mundo, o dever do homem é seguir essa razão para alcançar a felicidade. Frente aos sobressaltos da vida, é preciso aceitar e compreender os princípios racionais que regem a existência. Os estoicos defendiam que essa serenidade se obtém através de uma atitude de austeridade física e moral, baseada em virtudescomo a resistência ante o sofrimento, a coragem ante o perigo, a indiferença ante as riquezas materiais.
Para o ceticismo, que tem Pirro como seu principal expoente (sendo a corrente chamada també de pirronismo) a ataraxia, tranquilidade da alma, é obtida através da suspensão do juízo, isto é, do abandono de toda e qualquer convicção substantiva. Com efeito, para os céticos, tudo é duvidoso, questionável e não se pode ter certeza de coisa alguma. Assim, as crenças convictas e firmes, seja no atomismo, na razão universal ou em qualquer outra coisa, muito mais do que satisfação, geram dor e incômodo, uma vez que podem sempre ser postas em xeque. A felicidade, portanto, encontra-se não em agarrar-se a uma visão de mundo específica, mas em perceber a relatividade de todas as crenças e suspender o juízo a respeito de tudo. Para Pirro, o verdadeiro sábio é aquele que se fecha em si mesmo e silencia, isto é não emite nenhum juízo. Só isso lhe trará felicidade. É possível relacionar o pensamento ceticismo com o pensamento sofista, principalmente a Górgias, considerado pai do ceticismo absoluto.
Para o cinismo, a felicidade é obtida pela autarkeia: a autossuficiência, o autodomínio. No seu entendimento, por sua vez, isto só se consegue mediante uma vida totalmente dedicada à prática filosófica e um rompimento radical com os padrões morais e sociais estabelecidos. levavam ao extremo a tese socrática de que o ser humano deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Tais pensadores, por isso, viviam de maneira totalmente anárquica: sem teto, nas ruas, como mendigos. Diógenes, por exemplo, o mais famoso membro da escola, era conhecido como o “Sócrates louco”, pois extremou a atitude irônica questionando os transeuntes sobre convenções sociais e vivia conforme seus estritos padõres morais. Morava em um barril, masturbava-se em público e perambulava pelas ruas com uma lamparina dizendo estar à procura de um único homem honesto. Por este comportamento subversivo, tais filósofos foram comparados a cães (kynos), o que explica o nome da corrente e que não tem nada a ver com o sentido que damos hoje ao termo “cinismo”.