Questão 1 - Absolutismo Moderno
Questão 2 - Músicos na corte Moderna
Questão 3 - Nicolau Maquiavel
Questão 4 - Renascimento Cultural
Questão 5 - A construção do mundo moderno
Para compreendermos a formação dos Estados Nacionais, é necessário que olhemos para a Baixa Idade Média, período de crise do feudalismo, e que compreendamos os fatores que contribuíram para a transformação do mundo feudal e o advento da Idade Moderna.
Cruzadas
As Cruzadas foram expedições militares organizadas pela Igreja Católica que aconteceram entre os séculos XI e XIII, com o objetivo de conquistar Jerusalém, a chamada Terra Santa. Uma das principais consequências da Cruzadas foi a abertura de rotas comerciais na Europa, contribuindo para o chamado renascimento comercial, fato essencial para a compreensão das transformações que levaram ao declínio da Idade Média.
Crise do Século XIV e Centralização Política
O renascimento comercial ocorreu em paralelo a um renascimento urbano, já que uma série de inovações nas técnicas agrícolas permitiram o aumento da produção e, como consequência disso, o crescimento populacional. O aumento da população permitiu o crescimento das cidades, áreas externas aos feudos que eram chamados de “burgos”. Esse processo, no entanto, foi freado em fins do século XIII, quando agravaram-se as contradições entre o campo e a cidade da Idade Média. A produção agrícola não respondia às exigências das cidades em crescimento e as terras férteis eram cada vez mais escassas. Somado a este cenário, um período de fortes chuvas destruiu os campos e colheitas, contribuindo para que a Europa medieval fosse mergulhada em um período de fome e miséria. Como consequência da fome, epidemias se alastraram trazendo intensa mortalidade à população. A principal deles foi a peste negra, que amedrontou a população e abalou a economia. Cidades ricas foram destruídas e abandonadas pelos seus habitantes. Os servos morriam e as plantações ficavam destruídas por falta de cuidados. Nesse contexto de crise, os senhores feudais começaram a receber menos tributos diminuindo seus rendimentos e, para manter a cobrança de impostos, intensificaram a exploração dos camponeses e servos.
O recrudescimento da exploração feudal sobre os servos contribuiu para as revoltas camponesas que se espalharam pela Europa no século XIV. A mortalidade trazida pelas chuvas, fome e peste negra foi ainda ampliada pela longa guerra entre os reis da Inglaterra e França, que entre combates e tréguas, durou mais de um século (1337/1453): a Guerra dos Cem Anos.
Revoltas camponesas marcaram a Baixa Idade Média
A solução para este cenário de crise foi justamente a centralização do poder político, que levou a formação dos Estados Nacionais Modernos e do Absolutismo. Ele foi fruto de um processo que levou ao fortalecimento do poder dos reis, caminho encontrado para supressão das revoltas camponesas. A nobreza feudal, que detinha poder político sobre o feudo, se tornou uma nobreza cortesã detentora de privilégios na nova ordem vigente. Foi, assim, essa aliança entre o rei e a nobreza que promoveu a centralização do poder político nas mão dos reis absolutistas. Com a formação dos Estados Nacionais Modernos houve a criação de uma burocracia administrativa, a criação de um exército nacional para estabelecer ordem pública na sociedade, a unificação das leis e o surgimento de tarifas e tributos unificados. Nesse processo, a burguesia garantiu elementos que levaram ao seu fortalecimento econômico, como a unificação dos pesos, medidas e moedas e a dissolução dos impostos feudais.
O primeiro reino a utilizar o modelo de Estado Moderno foi Portugal. Ali, a centralização política ocorreu como consequência de campanhas militares da Guerra da Reconquista - que objetivavam recuperar os territórios da Península Ibérica dominados pelos mouros - , assim como na Espanha. Já na França, a vitória sobre a Inglaterra na Guerra dos Cem Anos (1337 - 1453) firmou as bases para a consolidação do Estado Moderno, enquanto na Inglaterra, o processo se deu após a Guerra das Duas Rosas (1455 - 1485).
O Renascimento
Quando estudamos a transição da Idade Média para a Idade Moderna, é necessário refletirmos sobre o Renascimento, período em que diversos elementos da cultura cristã se associaram a elementos da cultura clássica (greco-romana). Ao contrário do que muito já se afirmou, o Renascimento não foi uma ruptura drástica com a Idade Média. Essa perspectiva supõe uma visão negativa do mundo medieval, como período obscuro, apelidado de “Idade das Trevas”, que é cada vez mais questionada pelos historiadores.
Podemos afirmar que o Renascimento iniciou-se na península itálica, espalhando-se, posteriormente, por outras regiões européias. Entre as principais cidades onde se desenvolveu o Renascimento italiano, destacam-se Florença, no século XV, e, posteriormente, Roma e Veneza, no século XVI. Para compreendermos o porquê a Itália foi o “berço” do Renascimento, precisamos compreender a associação de alguns fatores. O primeiro deles diz respeito ao desenvolvimento comercial urbano. As cidades italianas apresentavam significativo desenvolvimento comercial, sendo dirigidas por uma classe de poderosos mercadores. Com o comércio marítimo pelo Mediterrâneo, esses grandes mercadores burgueses acumularam enorme riqueza e sentiram necessidade da instauração da ordem econômica do capitalismo, que permitia a livre concorrência, o individualismo e a busca racional do lucro. Além disso, a burguesia italiana estimulava os artistas e intelectuais do Renascimento através do mecenato. Ou seja, os mecenas, dotados de poderes econômicos, financiavam e incentivavam as artes no período da Renascença. Outro fator importante foi a fuga dos sábios bizantinos para a Itália, após a queda de Constantinopla, em 1453, levando consigo muitos elementos da cultura clássica preservados em Bizâncio. E, por fim, o fato de que – na Antiguidade – a Itália fora a sede do Império Romano do Ocidente, existindo, ainda, nessa região uma série de elementos preservados como, por exemplo, alguns monumentos arquitetônicos da Roma Antiga.
Como podemos perceber, o período que chamamos de Renascimento teve início na Baixa Idade Média, quando o renascimento comercial e urbano, o enfraquecimento dos laços servis e a constituição da burguesia promoviam transformações sociais na Europa. Nas cidades, a burguesia estimulava o florescimento de novas formas culturais que valorizavam cada vez mais a razão. Nesse processo, a retomada de ideais ligados à Antiguidade Clássica serviu como base para a crítica ao teocentrismo da Igreja e aos valores Medievais. As mudanças provocadas contribuíram para o surgimento de novas concepções filosóficas, como o antropocentrismo e o humanismo, que promoviam a valorização das potencialidades humanas. As grandes navegações e a chegada no que, para os europeus era o “novo mundo” (o continente americano) também foram decisivas para configurar o Renascimento como uma época de experiências novas e enriquecimento cultural.
Foi durante o Renascimento que artistas como Michelângelo, Leonardo da Vinci, Giotto e Botticelli e escritores como Erasmo de Rotterdam e Thomas Morus viveram e expressaram as transformações pelas quais passava a Europa.
No âmbito da ciência, o método experimental e a reflexão racional foram fundamentais. Galileu Galilei – nascido na península Itálica – propôs que o racionalismo matemático fosse a base de todo o pensamento científico. Em seus estudos, comprovou a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, segundo a qual o centro do sistema solar é o sol e não a terra, como defendia a igreja católica.
No auge do Renascimento, outros acontecimentos foram decisivos: a invenção da imprensa, por Johannes Gutenberg, o que facilitou a circulação das ideias e novas perspectivas e a Reforma Protestante, desencadeada por Martinho Lutero. Esses dois acontecimentos combinados mudaram, aos poucos, a relação dos homens com o conhecimento intelectual e o mundo a sua volta.
Se fossemos sintetizar os elementos mais importantes do Renascimento, teríamos:
- A valorização da cultura greco-romana, com o classicismo.
- A valorização do homem, com o antropocentrismo e o humanismo.
- A importância da natureza e de seus fenômenos;
- O racionalismo e o espírito crítico.
A Reforma
Chamamos de Reforma Protestante o surgimento de novas religiões cristãs que questionavam práticas do catolicismo. Durante a Idade Média, a Igreja Católica tinha grande poder e era detentora de muitas riquezas. No entanto, com a consolidação da Idade Moderna crescia a insatisfação de alguns grupos sociais em relação a isso. Enquanto os reis nutriam insatisfação em relação ao excesso de poder da igreja católica, a burguesia em ascensão incomodava-se com a condenação da usura (lucro) por parte da igreja. Somado a isso, práticas da Igreja passaram a ser criticadas, sobretudo após o Renascimento, movimento que valorizou a razão e permitiu o questionamento da lógica teocêntrica. Dentre as práticas da Igreja criticadas, estavam:
- A venda do perdão (indulgência)
- A venda de objetos supostamente sagrados (simonia)
- A nomeação de familiares para cargos eclesiásticos (nepotismo)
A reforma iniciou-se a partir de Martinho Lutero, um monge católico que estava insatisfeito com algumas práticas realizadas pela Igreja Católica. A atuação de Lutero teve como ponto de partida a divulgação das 95 teses, que rapidamente espalharam-se pela Europa e deram origem ao movimento reformista. A doutrina luterana defendia a ideia de “Justificação pela fé”, ou seja, de que a salvação é resultado essencialmente da fé em Deus.
Diante de suas críticas à igreja Católica, Lutero foi excomungado pelo papa. Através da Confissão de Augsburgo, sintetizou os elementos da religião luterana:
- Livre interpretação da Bíblia.
- Manutenção dos sacramentos do batismo e da eucaristia, suprimindo-se todos os outros.
- Fim da proibição do casamento para os clérigos (celibato).
Outro importante reformador foi João Calvino, que elaborou a Teoria da Predestinação, ou seja, a ideia de que viemos ao mundo predestinados por Deus à salvação ou a condenação. Os sinais da escolha divina se manifestariam na vida dos indivíduos. O trabalho e o cumprimento dos deveres seriam alguns desses sinais. No pensamento calvinista, consolidou-se a ideia de que, com a vida dedicada ao trabalho era possível, por meio do progresso material, saber se o homem era ou não predestinado à salvação.
O pensamento calvinista trouxe grande transformação na concepção de trabalho. Na Idade Média, o trabalho era visto como forma de penitência ou castigo. Segundo Max Weber, em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, a transformação operada pelo calvinismo foi central ao desenvolvimento do modo de produção capitalista, já que valorizava o trabalho e os ganhos materiais como sinais de graça divina. Não por acaso, o calvinismo se tornou uma religião essencialmente burguesa. Já que, ao contrário da igreja católica – que condenava a usura – João Calvino valorizava o trabalho e os ganhos materiais. Na Inglaterra os calvinistas ficaram conhecidos como puritanos. Foram perseguidos e imigraram em grande número para a América do norte. Na Escócia, ficaram conhecidos como presbiterianos, e na França como huguenotes.
Ao contrário dos dois movimentos anteriores, a Reforma Religiosa na Inglaterra ocorreu a partir da iniciativa de um rei, e não de teólogos críticos às doutrinas e práticas do clero católico. Henrique VIII, monarca inglês rompeu com Roma sob a justificativa de que a Igreja não aceitou seu pedido de divórcio com Catarina de Aragão, nobre de origem espanhola, para casar-se com Ana Bolena. O então monarca desejava um filho homem e culpava a esposa pelo insucesso em lhes dar um herdeiro. Dos seis filhos de Catarina, apenas a princesa Maria sobreviveu. Diante da negação do papa, já que o divórcio não era permitido pela Igreja, o rei separou-se de forma arbitrária e foi excomungado por Clemente VI. Após ser excomungado, foi decretado na Inglaterra o Ato de Supremacia, pelo qual o soberano inglês passava a ser o chefe supremo da Igreja na Inglaterra. Com essa medida, era criada a chamada Igreja Anglicana. O rei inglês passava a ter o poder de nomear os ocupantes dos cargos eclesiásticos, além de decidir sobre assuntos de ordem religiosa. Os historiadores defendem que as divergências com a Igreja eram anteriores a questão do divórcio e vinham desde a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). O monarca nutria insatisfação em relação ao excesso de poder e terras do clero na Inglaterra, utilizando-se do divórcio muito mais como uma justificativa para uma ruptura já desejada.
Contrarreforma
Diante do surgimento de novas doutrinas cristãs na Europa através da Reforma Protestante, a Igreja reagiu reformulando instituições, assim como agindo de forma repressiva. A instituição havia perdido o poder religioso, econômico e político sobretudo nos reinos alemães e na Inglaterra, além da diminuição da influência nos Países Baixos, França, Áustria, etc.
Entre 1545 e 1563 foi realizado o Concílio de Trento, na Itália. Reunindo as principais autoridades católicas, teve como objetivo redefinir o posicionamento da Igreja em relação à sua doutrina religiosa, bem como encontrar meios de frear o avanço do protestantismo pela Europa. Dentre as medidas tomadas no Concílio de Trento, estiveram: a proibição da venda de indulgências e a criação de seminários, instituição seria responsável pela formação eclesiástica do clero, buscando evitar, dessa forma, a venda de cargos na Igreja. No encontro, dogmas na igreja também foram reafirmados, como o culto aos santos e à virgem Maria.
Outra importante medida tomada pela Contrarreforma foi a reativação do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, com o objetivo de perseguir os praticantes das doutrinas cristãs protestantes. Milhares de pessoas foram torturadas e muitas mortas. Grandes nomes da ciência mundial, como Galileu Galilei, foram julgados como heréticos em decorrência de suas pesquisas, como a de a Terra girar em torno do Sol. Galileu foi obrigado a renegar suas próprias ideias para fugir da morte na fogueira.
Foi criado, além disso, uma lista de livros proibidos - Index Librorum Prohibitorum - em uma época em que a imprensa criada por Gutenberg havia facilitado a difusão da cultura escrita. E, para atuar nas Américas, houve, ainda, a Criação da Companhia de Jesus, cujo objetivo era a expansão da fé e a catequização dos nativos através dos jesuítas.