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Os Pré-Socráticos

Iniciando o módulo sobre as características dos Pré-Socráticos, a professora Larissa nos situa na matéria, nos apresentando as principais influências desse período da filosofia.

O período cosmológico

Características 1: Physis, causalidade, arché

Características 2: Cosmos, logos, caráter crítico

Pré-socráticos: Os primeiros filósofos

Tradicionalmente, o período inaugural da filosofia grega é conhecido por pré-socrático. Iniciando em tales de Mileto em VII a.C. até V a.C. alguns filósofos denominados pré-socráticos foram contemporâneos de Sócrates. Eles foram classificados como pré-socráticos por manter a tradição de investigação da natureza desse período, não aderindo a virada antropológica promovida por Sócrates.

Como dissemos antes, a filosofia pré-socrática estava voltada à investigação do mundo e de seu funcionamento, motivo pelo qual esses pensadores também são denominados filósofos da natureza. Deve-se a eles a construção de uma cosmologia, uma abordagem racional para os problemas que os cercavam relativos ao funcionamento do mundo e, por extensão, do universo. A virada aqui é o reconhecimento da insuficiência das explicações vigentes, a cosmogonia, que explica a origem do universo a partir de mitos. Deuses e heróis não mais satisfaziam a curiosidade e o fascínio do ser humano por fenômenos naturais e, por isso, iniciou-se uma investida racional na percepção do mundo a partir da logos. Essa investida tenta aplicar ordem ao caos e propõe um princípio fundamental para tudo que existe, a arché. A arché seria a substância que compõe tudo, que deu origem a tudo e que serve de matéria-prima para a existência. Essa é uma proposta de mundo harmoniosa, organizada e ordenada.

Dentro da filosofia pré-socrática é possível encontrar pensadores que acreditavam que a arché estava relacionada a physis (elementos da natureza) e pensadores que tinham uma ideia mais abstrata de substância primordial (como os números). Dentre eles há ainda os que são monistas, pensadores que acreditavam que a explicação sobre o fundamento de tudo era originária de um único elemento, e os pluralistas, que acreditavam que a origem das coisas era baseada em vários elementos. A multiplicidade de explicações se dá por uma característica presente na filosofia até hoje, a abertura para a crítica e a refutação lógica.


Mileto

A Grécia Antiga nunca foi um Estado unificado, tal qual conhecemos na modernidade. Em vez disso, havia um conjunto de cidades-estados (pólis) independentes que formavam grupos de aliados e rivais. Dentre essas cidades estava Mileto, origem de Tales, Anaximandro e Anaxímenes.

Os três eram monistas, ou seja, acreditavam que a arché era composta por apenas um elemento. Tales atribuiu a origem de tudo à água dada suas observações da necessidade do elemento para a geração e manutenção da vida. Anaximandro, seu discípulo, não concordava com seu mestre. Para ele não seria possível observar o elemento primordial. Ele era infinito e indeterminado. Por isso, recebeu o nome de apeíron (indeterminado em grego), um elemento que é não só a origem, mas o fim de tudo. Já Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, atribuía ao ar o caráter de arché, apesar de concordar com seu mestre de que a origem de tudo era indeterminada. Assim, esse pensador diferenciou a origem e a matéria-prima, porque não admitia que o que existe e é perceptível sensorialmente seja comporto pelo indeterminado.

Samos

Tendo contribuído para a história da filosofia com pelo menos um grande nome, Samos é uma cidade próxima a Éfeso e Mileto. De lá conhecemos Pitágoras, com uma proposta bastante distinta para a definição da arché. Para ele todas as coisas são números. Estudando a harmonia dos acordes musicais, Pitágoras percebeu que havia uma proporção aritmética nessa relação. A partir daí, tentou encontrar na natureza relações parecidas. Profundo conhecedor de astronomia, percebeu a ordem matemática no movimento dos astros. A realidade então passou a ser percebida pela estrutura numérica. Os corpos são compostos por pontos e a quantidade de pontos de um corpo define suas propriedades. Essa proposta é mais formal, define uma ordem e medida para a existência sensível.

Éfeso

Também já Jônia, Éfeso é a cidade de um filósofo de grande prestígio. Heráclito também percebeu na natureza grande dinamismo, assim como os pensadores de Mileto, e que há constante transformação. Seu diferencial foi assumir como objeto de investigação a mudança, e não aquilo que permanece. Concluiu que tudo flui, tudo muda. Nada permanece em si. O ser agora é o vir a ser, o devir, uma constante mudança.

Observando, como seus predecessores, a ação dos opostos na natureza, Heráclito não apenas reconheceu esse conflito, como o assumiu como parte essencial de seu pensamento. É esse conflito entre bem e mal, frio e quente, seco e úmido que produz a eterna mudança, base do pensamento heraclitiano. Por isso, o fogo aqui recebe o estatuto de arché: em constante movimento, acendendo e apagando, consumindo e transformando. É mobilista, porque dá grande importância ao movimento, e um dos primeiros pensadores a contribuir com o pensamento dialético.

Eleia

Na escola eleática o que despertou a atenção dos pensadores foi a grande divergência de opiniões entre os filósofos anteriores. Por que a diferença entre as linhas de pensamento mobilistas? Parmênides conclui que os sentidos, na verdade, são enganosos e, por isso, não deveriam receber tanta atenção. Buscar a essência do mundo naquilo que não é essencial parecia um contrassenso para o pensador, que buscou resolver a contradição de procurar a permanência naquilo que não permanece. Parmênides privilegiou a razão, ignorando a mudança que percebia pelos sentidos. Afirmou que o ser é, ou seja, não pode deixar de ser ou existir numa não permanência. Aquilo que constitui o ser deve ser concebido como uma substância permanente e imutável. Para Parmênides, o ser é a arché. Temos então uma afirmação de cunho ontológico, a própria existência compõe a arché. O que é, é permanente. O que não é, não é permanente. A mudança agora é nada, o não ser, não existe.

Parmênides dá os primeiros caminhos então para o surgimento de duas áreas da filosofia, a lógica e a ontologia, já que seu pensamento está profundamente baseado no princípio da identidade (todo “A” é igual a ele mesmo) e o princípio da não contradição (se “A” é “A”, então ele não pode, ao mesmo tempo ser “A” e “não A”), assumindo esses princípios lógicos para afirmar as condições de existência. Parmênides afirma então que, na filosofia, tem-se trilhado dois caminhos, o da razão (o seu) e o da opinião (o de Heráclito). Perceba que esse conflito teórico baseará o pensamento de Platão futuramente.

Eleia também foi a cidade de Zenão, discípulo de Parmênides. Adepto da ideia de permanência, Zenão elaborou diversos argumentos que radicalizou o pensamento de seu mestre. A própria ideia de movimento era contraditória para o pensador. Ele iniciou o questionamento sobre a compreensão de conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito, entre tantos outros, através da formulação de paradoxos, sendo o mais conhecido o da corrida entre Aquiles e uma tartaruga.

Aeragas

Empédocles tentou conciliar o pensamento de Heráclito e de Parmênides. Acreditando na permanência, buscar uma forma de racionalizar nossa percepção sensorial. Defendeu o fogo, a terra, a água e o ar como os quatro elementos primordiais, que reagiam dinamicamente a dois princípios universais. O amor, responsável pela união e harmonização; e o ódio, responsável pela repulsão e dissolução. Tudo que existe está submetido a ação desses princípios.

Abdera

A cidade de Abdera é origem de Demócrito, talvez o filósofo com a proposta mais interessante para a arché. A resposta concebida por ele, que era contemporâneo de Sócrates, foi, na verdade um trabalho em conjunto com seu mestre, Leucipo. Sua proposta ficou conhecida como atomismo, já que propunha que a arché é o átomo.

Demócrito concordava com a noção de permanência, mas não aceitava o não ser como uma ilusão. O movimento, por exemplo, era uma prova da existência de um não ser. Muito próxima da concepção físico-química e moderna da realidade, Demócrito afirma que tudo é composto por partículas minúsculas invisíveis e indivisíveis. Essa composição atendia as características de existência de Parmênides. Para ele os átomos eram eternos, imutáveis e plenos.

Apesar disso, Demócrito expande a realidade afirmando que sua composição também inclui o vazio. Esse vazio é o que torna possível o movimento do ser. Sem espação vazio, nada poderia se mover. O vazio em si não poderia compor a arché, pois era um não ser, restando para a existência ser composta pelos átomos.

A dinâmica de movimento entre os átomos gerava os diversos corpos com os quais podemos interagir. Os átomos se movimentavam e se chocavam ao acaso, formando aglomerações e repulsões. Importante então perceber a relevância que Demócrito dá ao acaso, à uma não ordenação racional do universo.