Regiões da África
Em virtude de sua grande extensão e diversidade geográfica e política, o continente africano pode ser classificado a partir de cinco regiões:
1. África Setentrional: conhecida também como África do Norte, é a maior região do continente. Abrange os países Egito, Líbia, Marrocos, Sudão e Tunísia. Nessa região predomina o clima árido, semiárido e mediterrâneo. É a região que engloba o Deserto do Saara, que se distingue em duas grandes áreas: uma parte marcada pelas dunas arenosas e outra com muitas rochas, chamadas Hamadas. A África Setentrional é banhada pelo Mar Mediterrâneo onde se estabelecem relações comerciais entre a África, a Europa e a Ásia. Nessa região há também a presença do Rio Nilo. Nasce nas regiões centrais, úmidas e percorre o deserto até desaguar no mar. Sua presença contribui para o desenvolvimento da agricultura, devido à grande fertilidade do solo, mesmo em uma região árida. 2. África ocidental: região de clima equatorial, localizada entre o deserto do Saara e o golfo da Guiné. A vegetação predominante é a Savana, na parte setentrional e as florestas na parte meridional, onde os índices de precipitação são maiores.
A população é desigualmente distribuída e se concentra mais ao sul do deserto do Saara, onde se desenvolve o cultivo principalmente de de cana de açúcar, banana e cacau.
A região vem expandindo sua produção industrial, porém ainda dependente de capital estrangeiro, sobretudo em países como a Nigéria, Senegal e Costa do Marfim.
3. África central: região localizada na parte equatorial do continente africano. A oeste, é banhada pelo oceano atlântico e a leste é limitada por escarpas montanhosas e grandes falhas. Apresenta clima quente e úmido nos países mais ao norte que são marcados pelas florestas equatoriais. Mais ao sul, predomina o clima tropical, com a presença de savanas.
Países como Angola e o Zaire contam com importantes jazidas de cobre, manganês, cobalto e ferro, além de grandes reservas de petróleo. Outra atividade importante é o extrativismo de madeira.
É uma região pouco industrializada, mas que por seu grande potencial hidrelétrico, e pelas reservas de petróleo, sobretudo no litoral, possui grande possibilidade de crescimento econômico.
4. África Oriental: nessa região destacam-se maciços montanhosos e grande quantidade de vulcões e falhas. Predomina o clima tropical, atenuado pelas baixas temperaturas de altitude. Apresenta biomas como a floresta tropical, savana, estepes e certas áreas desérticas.
A economia se baseia na agricultura voltada para a exportação de algodão e café. É uma região pouco industrializada e que com pequenas jazidas minerais.
5. África Meridional: predomínio de planaltos sobretudo na faixa litorânea. A região apresenta em partes clima tropical úmido e áreas de clima desértico. A presença de savanas, estepes e florestas denota a diversidade de paisagens da África Meridional.
A região apresenta importantes reservas minerais sobretudo na África do Sul, onde encontra-se ouro, manganês, diamantes, etc. e no Zâmbia, que possui reservas de cobre e cobalto. A agricultura se baseia no cultivo de cana de açúcar, algodão, café e tabaco e há também o desenvolvimento da agropecuária.
A África do Sul é o país mais rico do continente, e concentra importante produção industrial em suas regiões metropolitanas.
Neocolonialismo no continente africano
O século XIX foi marcado por um aumento significativo da produção industrial, muito em virtude do desenvolvimento tecnológico, e gerou grandes lucros para os empresários europeus. Nesse momento, os países europeus optaram por reinvestir os lucros excedentes e buscar matéria-prima como o petróleo, ferro, cobre para suprir suas necessidades industriais em outros continentes. A descoberta desses metais preciosos no continente africano despertou o interesse das nações europeias industrializadas. Ações isoladas, como a invasão da Argélia pela França (1830) e do Congo pela Bélgica (1876), deram início a uma corrida imperialista. Nos anos seguintes, a Inglaterra também se lançou à conquista da Nigéria, Rodésia, Serra Leoa, a França conquistou novos territórios e outros entraram em disputa entre os países europeus. No entanto, países como a Alemanha e Itália, que se unificaram tardiamente, ficaram em desvantagem nessa divisão. Portanto, a fim de evitar conflitos, essas potências europeias reuniram-se na Conferência de Berlim (1885-1887) para definir o comando das regiões africanas e fixar as regras da partilha da África. Essa forma de dominação é chamada fase imperialista e a criação de áreas de influência e a formação de verdadeiros impérios coloniais ficou conhecida como neocolonialismo. Além das questões econômicas, o racismo foi também um fator determinante na relação entre a Europa e a África. Os povos africanos eram inferiorizados aos olhos dos europeus. As constantes violações a que os europeus submeteram as nações locais eram fruto da desumanização justificada em várias esferas, seja pela ciência ou pelo cristianismo. Os europeus se consideram um povo "superior", moderno e civilizado em oposição a ideia de atraso a que eles atrelavam as nações africanas. Assim, essa dominação era justificada pela ideia de que os europeus estariam levando valores civilizados e modernidade a esses povos.[caption id="attachment_177816" align="alignnone" width="600"]
H.L. Wesseling. Dividir para Dominar: A partilha da África (1880-1914)[/caption]
Descolonização do continente africano
O imperialismo europeu na África foi acompanhado de diversos movimentos de resistência ao modelo colonial em vários países que se intensificaram sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial. A perda da hegemonia europeia e a ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética também contribuíram para o enfraquecimento da dominação colonial e em muitos países a influência socialista se apresentou como uma forte alternativa de desenvolvimento em relação ao capitalismo.Confira alguns movimentos de independência e seus desdobramentos:- Revolta dos Mau-Mau no Quênia (1952-1960): movimento contra a Grã Bretanha. Houve uma repressão violenta e mais de 11 mil rebeldes morreram. Em 1963, as tropas britânicas se retiraram do país e a independência do Quênia foi decretada.
- Guerra de Independência da Tunísia (1952-1955): França contra movimentos nacionalistas da Tunísia. A independência foi decretada em 1956.
- Guerra de independência da Argélia (1953 - 1956): Guerrilheiros argelinos da Frente de Libertação Nacional contra a França. Cerca de 18 mil franceses mortos contra 1 milhão de argelinos assassinados. A França retira-se da Argélia e reconhece a independência pelos Acordos de Evian em 1962.
Imagem do filme A Batalha de Argel[/caption]- Guerra de independência de Angola (1961 - 1975): Portugal contra grupos nacionalistas. Independência de Angola é decretada mas uma guerra civil se instala no país. O governo de Angola, formado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola(MPLA), apoiado pelas tropas cubanas entra em conflito contra a guerrilha da União Nacional para a Independência total de Angola (UNITA), apoiada pela África do Sul. Essa guerra civil durou até a década de 1990, quando um acordo de paz foi assinado e as tropas cubanas se retiraram do país. Porém, em 1992 o MPLA vence as eleições, mas a UNITA não aceitou o resultado gerando novos conflitos.
- Guerra de independência da Guiné-Bissau (1964-1975): Portugal contra forças nacionalistas, apoiadas pela União Soviética e pela China. A Independência foi decretada em 1974.
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Divisão política do continente africano em comparação com a ocupação das nações africanas[/caption]
Conflitos na África
Mesmo com a independência formal decretada, em muitos países africanos se desenrolaram disputas de ordem territorial; conflitos por recursos naturais como água e minerais; disputas políticas que desencadeam em em ditaduras e guerras civis, entre outros fatores. Vale lembrar que esse conflitos são localizados, ou seja, não atingem a totalidade do continente. Diversas áreas são estáveis e pacíficas, e mesmo dentro de um mesmo país, podemos encontrar localidades em conflito e outras não. Destacam-se aqui alguns conflitos importantes presentes no continente africano:1. Guerra Civil em Ruanda: ocorrida entre 1990 e 1994, a guerra civil em Ruanda é um importante exemplo de como a dominação imperialista europeia contribuiu para o acirramento de conflitos entre povos africanos.
Em Ruanda, a população é majoritariamente composta por duas etnias: Hutus e Tutsis, que do ponto de vista cultural, apresentam certa similaridade, compartilhando costumes, tradições e até o mesmo idioma.
Mesmo assim, a rivalidade entre essas etnias começou no século XVIII, na formação do Reino de Ruanda, composto majoritariamente por Tutsis que a partir daí se tornaram a elite política e econômica da região.
O domínio colonial Belga se instalou a partir da Primeira Guerra Mundial e intensificou os conflitos entre as etnias. Tendo como base o darwinismo social, os colonizadores europeus difundiram a ideia de que os Tutsis eram naturalmente superiores. A partir de 1930, sob domínio belga, os documentos de identificação passaram a identificar também a etnia de cada pessoa, ponto fundamental de diferenciação oficial da população.
O movimento de independência de Ruanda fortaleceu os Hutus, que exigiam um governo democrático liderado pela maioria Hutu. A Revolução Ruandesa em 1959 culminou na independência e na proclamação da república governada pelos Hutus. Nesse período, milhares de Tutsis se refugiaram em países vizinhos, como Uganda.
Os exilados formaram então, a Frente Patriótica Ruandesa que invadiu Ruanda em 1990 e lutou contra os Hutus até o estabelecimento do acordo de paz em 1993. Entretanto, no ano seguinte um avião que transportava os presidentes à época Juvenal Habyarimana, de Ruanda e Cyprien Ntaryamira, de Burundi ambos hutus, foi derrubado.
Os Hutus acusaram os Tutsis de terem promovido o ataque e novamente iniciaram-se conflitos entre as etnias. Os dias seguintes foram extremamente violentos, e houve um grande massacre que resultou na morte de 800 mil Tutsis.
Durante esse período, órgãos internacionais como a ONU se mantiveram ausentes e não houve nenhum tipo de movimento para impedir o genocídio em curso.
Os conflitos cessaram quando a Frente Patriótica Ruandesa destituiu os extremistas Hutus do poder. Nesse momento, foram registrados ataques a Hutus na ordem de 60 mil mortos. O governo da Frente Patriótica Ruandesa proibiu as divisões étnicas no país, mas ainda não é possível falar em uma verdadeira conciliação.
2. Guerra Civil de Angola: após a independência em 1975, Angola foi palco de um intenso conflito armado que perdurou, com alguns intervalos até 2002.
Esse conflito se deu pelas forças que antes atuaram juntas contra o regime colonial português, mas que com a independência passaram a disputar o poder: o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Essa guerra civil se configurou também como uma disputa territorial durante a guerra fria visto que os movimentos envolviam indiretamente os interesses dos Estados Unidos e da União Soviética, em um contexto de guerra-fria. Mesmo com os acordos de paz assinados nos anos 1990, a instabilidade política permaneceu até os anos 2000.
Angola é um país que concentra grandes reservas de petróleo e por isso desperta grande interesse internacional. A longa guerra civil deixou milhares de mortos e mutilados pelo país, além de um enorme número de minas espalhadas pelo território.3. Guerras Civis no Sudão e Sudão do Sul. Desde os anos 1950 o Sudão passa por violentas guerras civis, em muito relacionadas aos recursos naturais presentes na região como o petróleo e o ouro. Entre 1955 e 1972 ocorreu a primeira Guerra Civil entre o governo do Sudão e rebeldes do Sudão do Sul.
Em um conflito bélico motivado por questões separatistas. Cerca de 500 mil pessoas morreram até a assinatura do tratado de Adis Abeba que reconheceu a autonomia e independência do Sudão do Sul.
No entanto, esse acordo foi rompido no início do anos 1980 e uma segunda Guerra Civil se instalou até 2005. O conflito entre a parte norte e a parte sul do Sudão dessa vez foi motivado por questões religiosas.
O governo muçulmano da região Norte tentou impor leis do islamismo para todos os cidadãos, mesmo que a população da região sul seja majoritariamente cristã ou animista. Essa guerra resultou em cerca de 2 milhões de mortes e um quadro de pobreza se instaurou pela região.
Atualmente o Sudão do Sul convive com diversas questões de ordem social e política. Em 2013 um conflito interno se instaurou entre o presidente Salva Kiir e uma liderança local, Riek Machar, motivada por divergências étnicas e políticas. Em 2018, foi negociado um acordo de paz e a divisão do poder local.
A África do Sul e o Apartheid
A África do Sul é o país mais próspero do continente africano. Possui a economia mais desenvolvida e é onde se concentra grande parte da indústria presente na África. Mesmo assim, está entre os países com maiores níveis de concentração de renda e desigualdade social do mundo. Essa cenário de desigualdades é resultado da dominação colonial europeia e de um processo específico que se desenhou no país: o regime de apartheid.Implementado em 1948, o apartheid era uma política racial que a partir de uma rigorosa legislação, cerceava direitos da população negra na África do Sul. O Partido Nacional, liderado por uma minoria branca, dividia os habitantes em grupos raciais e uma série de medidas foram implementadas: a população negra foi segregada em certas áreas residenciais, não possuíam acesso pleno a saúde e educação, perderam o direito ao voto e foi também proibido o casamento entre pessoas de diferente etnias. A população negra logo se organizou para resistir a esse regime. Uma série de revoltas e manifestações tomaram conta do país logo nos primeiros anos e o governo respondia com intensa repressão e violência. Muitos desses protestos eram organizados pelo Congresso Nacional Africano (CNA) que lançou sucessivas campanhas pelos direitos civis e políticos e pelo fim do apartheid. As chamadas "Leis do Passe" era mais uma das medidas racistas imposta à época. A população negra era obrigada a usar cadernetas de identificação para se locomover nas cidades. Em 1960, cerca de 10 mil militantes negros se reuniam em Sharpeville e queimaram seus passaportes em praça pública. A polícia atirou indiscriminadamente matando setenta pessoas. O massacre de Sharpeville provocou greves espontâneas em várias cidades do país e manifestações em diversos países no mundo.[caption id="attachment_177820" align="alignnone" width="600"]
Nelson Mandela e Winnie Mandela em Soweto, África do Sul, 1990[/caption]
A relações entre a África e o Brasil
Nos mais de 300 anos de escravidão, cerca de seis milhões de africanos de Angola, Nigéria, Camarões, Gana entre outros países, foram trazidos forçosamente ao Brasil. A história do Brasil, de base colonial e escravocrata, buscou apagar e silenciar os saberes e práticas africanas por aqui desenvolvida. Mesmo assim, as contribuições gastronômicas, religiosas, culturais e sociais dos povos africanos fazem parte do fundação da sociedade brasileira e possuem enorme influência até hoje no Brasil. Além disso, a própria estrutura física das cidades, ou seja, a infraestrutura das ruas, largos, edifícios de muitas cidades são fruto do trabalho das populações africanas em diáspora no Brasil. Alguns exemplos das relações entre o Brasil e a África merecem destaque. No português falado no Brasil, os diversos idiomas que aqui desembarcaram influenciaram na morfologia, sintaxe e pronúncia. Mais de 1500 palavras são de origem africana e cerca de 300 são usadas cotidianamente. A presença africana é também marcante na musicalidade brasileira. O legado das nações africanas está presente no samba, no frevo, no choro, na MPB e em diversos gêneros pelo país. A própria capoeira, criada em território brasileiro, foi desenvolvida pelo negros africanos, uma prática de resistência aos desmando coloniais. O movimento negro brasileiro tem como uma de suas bases a valorização da história africana no Brasil e de suas contribuições para a sociedade brasileira. Uma importante conquista recente foi a lei 10.639 de 2003 (atualizada pela lei 11.645 em 2008), que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira na grade curricular dos ensinos fundamental e médio.Ainda que sua aplicabilidade enfrente dificuldades, a lei é considerada um avanço pois contribui para o fortalecimento da identidade negra e a valorização das contribuições econômicas, culturais e sociais do negro na formação nacional.Conheça o cursinho da Descomplica!
