A filosofia, como extensa área do saber humano, se divide em muitos campos de análise. Um deles é a teoria do conhecimento. É claro que os gregos já pensavam e conheciam as coisas, mas apenas na Idade Moderna esse campo filosófico se consolidou. O principal fator que contribuiu para esse evento foi a busca pelas certezas de Descartes, que culminou em muitas críticas, de modo que as diferentes formas de conhecer o mundo ficaram mais evidentes.
A teoria do conhecimento busca compreender o modo pelo qual o homem conhece as coisas. Essa busca se dá basicamente através de duas perguntas: o que é o conhecimento? Como conhecemos? Muitos filósofos se dedicaram seriamente a essas questões, de modo que se tornaram grandes referências no assunto. O método adotado pela filosofia para resolver esse problema é a divisão do assunto em duas partes: fontes primeiras e possibilidades de conhecimento.
Fontes primeiras
O conhecimento é resultado da interação entre o sujeito cognoscente, ou seja, nossa consciência ou nossa mente e o objeto de conhecimento, a realidade e os fenômenos. Qual é a fonte do conhecimento, ou como conhecemos? Há duas respostas possíveis: a razão e a experiência. Essas duas fontes dão origem às seguintes correntes:
• Racionalismo: acredita que a verdade só pode ser alcançada pela razão humana. Para eles, os sentidos são enganosos e por esse motivo incapazes de nos revelar o conhecimento verdadeiro. Somente princípios lógicos podem dar conhecimentos seguros ao homem. Para esses teóricos todos os homens possuem uma gama de princípios inatos fundamentais.
• Empirismo: acredita-se que todo conhecimento é oriundo da experiência e dos sentidos. Para eles o homem nasce como uma tábua rasa, completamente sem conteúdo e ao longo da vida adquire seus conhecimentos.
Possibilidades de conhecimento
Saber o que é o conhecer e suas origens não basta para solucionar o problema da teoria do conhecimento. É preciso saber se realmente o homem é capaz de conhecer. Três correntes tentam solucionar essa questão: o Dogmatismo, o Ceticismo e o Criticismo.
• O Dogmatismo é uma corrente que pode englobar muitas outras, pois uma corrente é dogmática sempre que defende a possibilidade de alcançarmos a verdade. Há dois tipos de dogmatismo.
1. Dogmatismo ingênuo: presente no senso comum, não vê nenhum problema no conhecimento humano e acredita que as coisas são como parecem ser.
2. Dogmatismo crítico: defende a capacidade de alcançar o conhecimento, mas apenas através do esforço racional, do trabalho metódico ou da ciência.
• O Ceticismo duvida ou nega a possibilidade humana de conhecermos a verdade.
• Criticismo: teoria kantiana que admite que podemos alcançar algumas verdades e outras não, ou seja, uma conciliação entre dogmatismo e ceticismo.
Exercícios:
1. (Unioeste 2011) John Locke afirma em Ensaio acerca do entendimento: “é de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar toda a profundidade do oceano. É conveniente que saiba que ela é suficientemente longa para alcançar o fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem destruí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas, mas apenas as que se referem à nossa conduta. Se pudermos descobrir aquelas medidas por meio das quais uma criatura racional, posta nesta situação do homem no mundo, pode e deve dirigir suas opiniões e ações delas dependentes, não devemos nos molestar por que outras coisas escapam ao nosso conhecimento”.
Tendo em conta o texto acima e a teoria do conhecimento de Locke, é incorreto afirmar que
a) o homem, utilizando suas faculdades racionais, pode conhecer tudo sobre todas as coisas do mundo.
b) o homem deve saber os limites da razão para ter conhecimento certo daquilo que é possível conhecer.
c) há certas coisas que a razão do homem não pode conhecer.
d) assim como o marinheiro guia sua viagem por uma sonda de tamanho conhecido, o homem deve orientar sua conduta por aquilo que conhece.
e) o conhecimento, para Locke, só é certo se houver conformidade entre nossas ideias e a realidade das coisas.
2. (Ufu 2006) “Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação divina pela da abstração, de raízes aristotélicas: a única fonte de conhecimento humano seria a realidade sensível, pois os objetos naturais encerrariam uma forma inteligível em potência, que se revela, porém, não aos sentidos que só podem captá-la individualmente – mas ao intelecto.”
INÁCIO, Inês C. e LUCA, Tânia Regina de. O pensamento medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 74.
Considerando o trecho citado, assinale a alternativa verdadeira.
a) O texto faz referência à influência de Aristóteles no pensamento de Tomás de Aquino, que se opõe, em muitos pontos, à tradição agostiniana, que tinha influência de Platão.
b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada por Tomás de Aquino para explicar a origem de nosso conhecimento.
c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é apenas uma cópia enganosa da verdadeira realidade que se encontra na mente divina.
d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação pela teoria da abstração aristotélica, a fim de mostrar que a fé em Deus é incompatível com as verdades científicas.
3. (UFU- 2ª fase Janeiro de 2000)”Suponha-se, agora, que esse homem adquiriu mais experiência e viveu no mundo o tempo suficiente para ter observado uma conjunção constante entre objetos ou acontecimentos familiares: qual é o resultado desta experiência? Ele infere imediatamente a existência de um objeto do aparecimento do outro. E, sem embargo, nem toda a sua experiência lhe deu qualquer idéia ou conhecimento do poder secreto pelo qual um objeto produz outro; e tampouco é levado a fazer essa inferência por qualquer processo de raciocínio. No entanto, é levado a fazê-la. (…) Há algum outro princípio que o determina a tirar essa conclusão”.
(HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978)
Qual é o princípio a que Hume se refere acima?
De acordo com o texto, aponte a sua relevância para a teoria do conhecimento.
Gabarito:
1. A
2. A
3. Hume está apresentando a noção de hábito. A relevância dessa noção para a teoria do conhecimento é que ela está se contrapondo à noção de casualidade. Hume crê que o hábito é de extrema importância para o conhecimento humano.