Durante o século XIX, houve um momento de intensa reformulação dos ideais do pensamento social e filosófico. A revolução industrial teve papel nisso, já que dela surgiram conflitos que deram base para essas reformulações.
É neste momento de alta crise do sistema capitalista que surge na França, o socialismo utópico, considerado a primeira vertente teórica do pensamento socialista.
Por que socialismo utópico?
A palavra “utopia” refere-se a um lugar ou situação imaginária, que não existe na realidade. Os primeiros pensadores a propor uma construção de sociedade igualitária, foram chamados assim, de “socialistas utópicos”.
Mais a frente veremos como o termo “utópico” foi utilizado de forma negativa por socialistas marxistas, que se autodenominavam socialistas “científicos”.
Contexto de surgimento
Na Europa, em plena fase de modernização do sistema capitalista, grande parte da população mundial estava vivendo em condições extremamente precárias de vida. No século XlX, muitas famílias migraram do meio rural para o urbano em busca de melhores oportunidades de trabalho.
Com isso, as grandes cidades seguiam inchando. Os trabalhadores, sobrevivendo com baixíssimos salários e péssimas condições de trabalho, não tinham voz para reivindicar seus direitos. Para contestar esta ordem, e modificar o sistema, teorias de mudanças sociais começavam a emergir.
Principais ideais do socialismo utópico
Os ideais do socialismo utópico giravam em torno de uma concepção racional de sociedade, que via nela a possibilidade real de desenvolvimento e avanço social.
Os princípios da Revolução Francesa eram constantemente retomados, servindo de base para teorias políticas revolucionárias de uma sociedade mais igualitária.
Para os socialistas utópicos, era importante modificar os padrões sociais de desigualdade através de medidas pacíficas. Só assim a sociedade poderia mudar. Eles contavam com a cooperação das classes dominantes.
Primeiros pensadores
Os primeiros pensadores do socialismo utópico estavam ancorados em ideais iluministas. O progresso para eles era visto como sinônimo de uma sociedade guiada pela razão.
Eles eram contra formas de autoridade totalitárias e faziam críticas à religião, à ciência e às instituições políticas. O avanço social aconteceria de forma gradual e através da conciliação e harmonia social.
Saint-Simon(1760–1825) filósofo e economista francês, foi um dos primeiros a propor o socialismo utópico. Ele dizia que a sociedade era dividida entre “produtores” e ”ociosos”. Para atingir o bem comum, seria necessário a participação dos produtores de riquezas.
Para Simon, as empresas capitalistas não eram um problema, desde que se responsabilizassem socialmente pelas classes trabalhadoras. Isso deveria acontecer através de ações solidárias, baseadas nos princípios de igualdade e liberdade.
Charles Fourier (1772-1837) foi outro autor que salientou a importância da economia organizada por instituições com princípios de associação cooperativista. Comerciante e defensor do pensamento socialista, acreditava que a criação de associações poderia melhorar as condições de vida da classe trabalhadora.
Robert Owen (1771–1858) reformista social e um dos mais importantes pensadores do socialismo utópico, atuava como administrador. Diante das difíceis condições de trabalho que observava, ele decide criar então associações cooperativas.
Essas associações começam a funcionar de forma distinta da lógica de mercado. Em sua própria fábrica ele aplica diminui as jornadas de trabalho, aumenta os salários e constrói moradia para seus funcionários.
Eles defendiam uma sociedade:
- Coletiva
- Igualitária
- Idealista
- Cooperativa
Neste sentido, o principal objetivo do socialismo utópico enquanto política governamental era a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O estímulo de valores como harmonia e igualdade social eram feitos constantemente, com o objetivo de alcançar a diminuição da desigualdade social.
Principais Críticas
Ao longo do tempo houveram muitas críticas aos ideais socialistas, principalmente por serem considerados inaplicáveis de forma prática. Os críticos não viam os ideais socialistas levando em consideração as condições materiais reais da vida em sociedade.
Para os socialistas científicos, o socialismo utópico idealizava uma sociedade que não levava em conta a história material da evolução humana.
Os socialistas utópicos defendiam uma mudança social harmônica, sem revolução ou luta de classes. As mudanças aconteceriam através da harmonia e da cooperação de diferentes setores. A natureza do homem era discutida, em busca de se pensar nos procedimentos mais cabíveis.
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