Nesse resumo, trataremos de uma obra muito importante para a Literatura brasileira: O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Como já não bastasse o enriquecimento cultural que a obra proporciona, também devemos acrescentar que é bastante cobrada nos vestibulares.
Vamos entender melhor sobre ela? Falaremos sobre as personagens, o enredo, e, principalmente, sobre como as teses naturalistas explicam o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico.
Resumo
João Romão era um português que herdou de seu patrão o estabelecimento onde trabalhara até os 25 anos. Desde então, se dedicou obsessivamente ao trabalho com a finalidade de enriquecer. Para isso, explorava seus empregados, inclusive sua amante Bertoleza, e utilizava-se até mesmo do roubo. Ele se tornou o proprietário do cortiço e da pedreira que ficava ao fundo do terreno. Ao longo do tempo, aumentou sua renda e passou a se dedicar também a outros negócios.
Em oposição a João Romão, surge Miranda, um comerciante de tecidos que possui condição social mais elevada e também é português. No início, os dois disputam espaço, mas, aos poucos, percebem interesses comuns. Miranda tem acesso à alta sociedade, posição que começa a ser almejada por João Romão, este, por sua vez, tem fortuna, cobiçada por Miranda que vive à custa de sua esposa. Para consolidar essa aliança, é planejado o casamento entre João e Zulmira, filha de Miranda.
Para que João pudesse se casar com Zulmira, precisava se livrar de Bertoleza. Assim, ele a devolve para seus antigos donos. No entanto, relutando contra isso, Bertoleza comete suicídio com uma faca, numa cena que tem tudo a ver com os primores naturalistas.
No cortiço moravam os demais personagens da obra. Jerônimo assume a gerência da pedreira de João e passa a viver no cortiço com sua mulher Piedade. A princípio era um homem de honestidade, força e nobreza louvável. No entanto, é seduzido pela Rita Baiana, assassina o namorado dela, Firmo. Abandona sua esposa e vai morar com Rita. Entra num processo de decadência física e moral, assim como Rita. Mais um exemplo da má influência do meio sobre o homem.
A decadência atinge também os outros moradores do cortiço. Um deles é Pombinha, moça que esperava a primeira menstruação para poder casar. Abandonou o marido, e foi viver com a prostituta Leonie, prostituindo-se também.
Considerações
O Cortiço é considerado o melhor representante do movimento naturalista brasileiro. As principais características do Naturalismo seriam a animalização das personagens e, consequentemente, a ação baseada em instintos naturais, tais como os instintos sexuais e os de sobrevivência.
A obra apresenta duas linhas de conduta: uma que trata das questões sociais e outra que trata das questões individuais e sentimentais. Sendo João Romão o principal representante da primeira, pois consegue dinheiro passando por cima de tudo e de todos. E Jerônimo da segunda, pois se envolve com Rita Baiana por atração sexual.
Por fim, devemos ressaltar que o próprio cortiço é tratado como personagem na obra, de maneira personificada. Tal característica é relacionada com o fato de o meio ter grande influência na ação dos personagens, segundo a corrente naturalista.
Exercícios
1. (ITA) Leia as proposições acerca de O Cortiço.
I. Constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a animalização do comportamento humano, respeitando os preceitos da literatura naturalista.
II. A visão patológica do comportamento sexual é trabalhada por meio do rebaixamento das relações, do adultério, do lesbianismo, da prostituição etc.
III. O meio adquire enorme importância no enredo, uma vez que determina o comportamento de todas as personagens, anulando o livre-arbítrio.
IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O Cortiço, confirma o que se percebe também no conjunto de sua obra: o talento para retratar agrupamentos humanos.
Está(ão) correta(s):
a) todas.
b) apenas I.
c) apenas I e II.
d) apenas I, II e III.
e) apenas III e IV.
2. (UFV-MG) Leia o texto abaixo, retirado de O Cortiço, e faça o que se pede:
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.
Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado:
a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colméia humana.
b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.
c) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de O Cortiço o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.
d) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.
e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.
3. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço)
Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos…
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada…
GABARITO
1. A
2. D
3. E