Você já conhece todas as competências de análise da sua redação do ENEM, não é mesmo? Então você conhece bem a competência 1, de modalidade escrita culta da língua. Nesse critério, a prova verifica os erros relacionados à escrita e, é claro, escolha de registro. Isso você já sabe e, provavelmente, domina bem. Por isso, as notas dessa competência costumam ser bem tranquilas, acima da média. É muito comum que um estudante de ensino médio, em um relacionamento sério com o vestibular, escreva bem. Mas nada melhor do que sair da média e garantir a nota máxima, não é mesmo? Por isso te damos, hoje, dicas fundamentais de compreensão e utilização de um dos recursos mais errados no vestibular, a crase, a fim de que você, de fato, garanta os 200 pontos nessa competência e nunca mais fique dentro da casa dos 900 pontos por causa de um acento grave! 😛
O acento grave e o fenômeno da crase
No fenômeno da crase, há a superposição, a junção de duas vogais A, uma funcionando como preposição e outra como artigo. Se os dois estiverem no mesmo ponto, marca-se o encontro com o acento grave. Veja alguns exemplos:
Vou à igreja.
No exemplo, há a junção da preposição a, exigência do verbo ir, e do artigo definido a, necessário na definição do substantivo igreja. Por essa necessidade de colocação de duas vogais a, utiliza-se o fenômeno da crase. Note que, se o substantivo utilizado fosse masculino, o artigo necessário seria o definido o. Dessa forma, o acento grave não seria necessário, uma vez que não haveria a superposição de vogais idênticas:
Vou ao shopping.
Mas e a decoreba?
Na escola, é comum que os professores ensinem diversos casos gerais e exceções para o uso da crase. Aqui, como queremos descomplicar de vez a sua vida e, é claro, facilitar a sua lembrança na hora do vestibular, abriremos mão de todos os casos específicos e faremos a análise do fenômeno da crase partindo de três condições que, de certa forma, abarcarão todos esses casos gerais. Todas as três condições precisam ser satisfeitas, ou não teremos o fenômeno da crase. Seu papel, então, é olhar para uma frase, identificar os termos anterior e posterior e aplicar essas três condições. Se uma delas não estiver ok, não há crase. Vamos ver as três condições?
– Deve haver uma preposição a obrigatória;
– O termo posterior precisa estar no gênero feminino;
– O termo posterior precisa ser definido ou definível.
Toda a decoreba já está definida! 😛 Para entender o fenômeno da crase, você só precisa conhecer bem cada uma dessas três condições e, é claro, aplicar em exemplos específicos. Vamos ver?
Solicitei à agência um novo cartão de crédito.
Utilizando as três condições apresentadas, podemos perceber, em primeiro lugar, que o verbo solicitar pede uma preposição a (afinal, quem solicita, solicita alguma coisa a alguém, certo?); podemos ver, também, que o substantivo agência, aqui funcionando como objeto indireto, está no feminino; por fim, o mesmo termo, agência, é definido ou definível (afinal, quando falamos desse substantivo, sempre utilizamos o artigo antes, não é mesmo? “A agência está fechada” é um bom exemplo!). Satisfazendo as três condições, é fácil perceber que o a, neste contexto, recebe o acento grave.
Nas próximas férias, Eduardo Valladares irá à Bahia.
Assim como no exemplo acima, é possível identificar a crase pelas três condições: o verbo “ir” pede uma preposição a (quem vai, vai a algum lugar, não é?); Bahia está no feminino; por fim, Bahia é um termo definido ou definível (“A Bahia é linda!”). Usamos, então, o acento grave.
Exceções e casos importantes
Sabe quando você vai almoçar fora, abre o cardápio e encontra um festival de crases? Sim, há casos importantes ali. Acontece que muitas nomeações deixam subentendida a expressão “à moda (de)” ou “ao estilo (de)”. Por isso, utilizamos crase e, muitas vezes, não percebemos esse fenômeno. Vamos ver alguns exemplos?
Filé à gaúcha (= à moda gaúcha, dos gaúchos)
Arroz à grega (= à moda grega, dos gregos)
Bife à milanesa (= à moda milanesa, de Milão)
Bife à Oswaldo Aranha (= à moda de Oswaldo Aranha)
Se houver um artigo indefinido antes de um substantivo, analise com cuidado!
No próximo sábado, irei a uma grande exposição.
Note que, ainda que o verbo ir peça uma preposição a e que grande exposição esteja no feminino, o artigo uma impede que ocorra o fenômeno da crase, uma vez que ele é indefinido, ou seja, não podemos satisfazer a terceira condição.
Referiu-se a ele.
Referiu-se à Juliana.
Note que temos aqui dois casos parecidos, mas que, ainda assim, se comportam de forma diferente em relação ao uso da crase. No primeiro caso, não utilizamos o acento grave. Aqui, a terceira condição não foi satisfeita. Não utilizamos o artigo a antes de pronomes, de qualquer classificação.
Ajoelhou-se perante a mulher.
Perante é uma preposição. Dessa forma, o a que vem depois já é um artigo. Não precisamos, aqui, utilizar a preposição a, uma vez que já temos outra preposição.
Fui até a lanchonete.
Aqui, a preposição é facultativa. O até é a única preposição que admite o uso de uma preposição a associada a ela. Dessa forma, também poderemos dizer fui até à lanchonete.
E a crase associada a lugares?
Há um “macete” interessante na identificação da crase quando falamos de lugares. Sempre que você encontrar alguma frase relacionada a algum lugar, tente utilizar a expressão “Vim de/do (lugar)”. Se você utilizar o da (ou o do), quando construir a expressão “Vou à”, você utilizará a crase (já que do ou da é a junção da preposição de com um artigo o/a). Porém, se você, na frase, utilizar o de, a construção não apresentará crase (uma vez que o de é apenas uma preposição, não havendo um artigo). Vamos ver exemplos?
Fui à Argentina. (Vim da Argentina)
Vou à Bahia. (Vim da Bahia)
Vou a São Paulo. (Vim de São Paulo)
Fui a Paris. (Vim de Paris)
Dica:
Assim como citamos anteriormente, em vários casos, substituir o substantivo que vem depois da vogal a por uma palavra no masculino pode ajudar na definição da crase. Veja:
Referiu-se à mulher.
Referiu-se ao homem.
Aqui, a marcação do artigo o mostra que, se utilizarmos uma palavra feminina, precisaremos marcar a vogal a com o acento grave.
Fixe tudo o que você acabou de aprender sobre crase assistindo ao nosso mapa mental em vídeo sobre esse acento tão polêmico e prepare-se para fazer um texto nota mil:
Baixe aqui o mapa mental!
Teste seus conhecimentos com os exercícios abaixo e garanta que você não vai mais errar crase em seus textos:
Exercícios
1. Em alguns nomes de lugares femininos não é correto utilizar a crase. Assinale a alternativa em que ocorre esse uso incorreto:
a) Marta foi à Itália.
b) Joana foi à Bahia.
c) Jonas foi à Argentina.
d) Marcos foi à Londres.
e) Não há alternativa incorreta.
2. (PUC) A frase em que o acento grave indica corretamente a ocorrência de crase é:
a) Ele deve muito aos pais, que sempre lutaram ombro à ombro para garantir-lhe um bom tratamento médico.
b) Puseram a vítima e o acusado frente à frente, para o possível reconhecimento do agressor.
c) Acompanhou-o passo à passo durante sua estada no Brasil.
d) Quero que você fique bem à vontade para negar meu pedido, se não puder atendê-lo.
e) Ele sempre vem à pé, por isso costuma atrasar-se.
3. (UFMS 2010)
Avalie as duas frases que seguem:
I. Ela cheirava à flor de romã.
II. Ela cheirava a flor de romã.
Considerando o uso da crase, é correto afirmar:
1) As duas frases estão escritas adequadamente, dependendo de um contexto.
2) As duas frases são ambíguas em qualquer contexto.
4) A primeira frase significa que alguém exalava o perfume da flor de romã.
8) A segunda frase significa que alguém tem o perfume da flor de romã.
16) O “a” da segunda frase deveria conter o acento indicativo da crase.
Soma: ( )
Gabarito
1. D
2. D
3. 1 + 4 = 5