Cada vez mais o assunto “saúde mental” percorre as mídias, jornais e outros canais de comunicação, por conta de um alto número de casos de pessoas com transtornos psicossociais, que se desdobram das diversas maneiras nos dias de hoje. Pensando nisso, o Exame Nacional do Ensino Médio, o nosso queridinho Enem, trouxe como tema para a redação de 2020, a seguinte frase: o estigma associado às doenças mentais na sociedade, cumprindo com um de seus eixos temáticos e abordando um assunto extremamente importante para discussão.
Aqui, analisaremos cada um dos textos de apoio, pensando em possíveis teses para aquela redação exemplar.
Simule a sua nota com o Gabarito Enem Descomplica – Gabarito Enem Extraoficial
Texto I
A maior parte das pessoas, quando ouve falar em “Saúde Mental”, pensa em “Doença Mental”. Mas, a saúde mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais. Pessoas mentalmente saudáveis compreendem que ninguém é perfeito, que todos possuem limites e que não se pode ser tudo para todos. Elas vivenciam diariamente uma série de emoções como alegria, amor, satisfação, tristeza, raiva e frustração. São capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da vida cotidiana com equilíbrio e sabem procurar ajuda quando têm dificuldade em lidar com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida. A Saúde Mental de uma pessoa está relacionada à forma como ela reage às exigências da vida e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. Todas as pessoas podem apresentar sinais de sofrimento psíquico em alguma fase da vida.
Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br
Comentário
Como costumeiro no primeiro texto de apoio, o Enem aborda o conceito de uma das ideias nucleares do tema: saúde mental e doenças mentais, questionando o que é o estado de saúde mental, e abordando a normalização a ideia de desequilíbrios mentais, trazendo ao leitor a importância de se reconhecer nesse cenário de vulnerabilidade.
Isso já mostra o intuito da prova, apresentar definições que enriqueçam e valorizem a importância do diálogo sobre o tema.
TEXTO II
A origem da palavra “estigma” aponta para marcas ou cicatrizes deixadas por feridas. Por extensão, em um período que remonta à Grécia Antiga, passou a designar também as marcas feitas com ferro em brasa em criminosos, escravos e outras pessoas que se desejava separar da sociedade “correta” e “honrada”. Essa mesma palavra muitas vezes está presente no universo das doenças psiquiátricas. No lugar da marca de ferro, relegamos preconceito, falta de informação e tratamentos precários a pessoas que sofrem de depressão, ansiedade, transtorno bipolar e outros transtornos mentais graves.
Achar que a manifestação de um transtorno mental é “frescura” está relacionado a um ideal de felicidade que não é igual para todo mundo. A tentativa de se encaixar nesse modelo cria distância dos sentimentos reais, e quem os demonstra é rotulado, o que progressivamente dificulta a interação social É aqui que redes sociais de enorme popularidade, mostram uma face cruel, desempenhando um papel de validação da vida perfeita e criando um ambiente em tudo deve ser mostrado em seu melhor ângulo. Fora dos holofotes da internet, porém, transtornos mentais mostram-se mais presentes do que se imagina.
Disponível em: https://www.abrata.org.br/
Comentário
O segundo texto de apoio também apresenta o conceito de um dos termos de maior importância para a frase-tema: estigma. É sobre esse preconceito/estereótipo, instaurado sobre as doenças mentais, que será preciso argumentar.
Assim, é visto um panorama histórico da relação de estigma, bem como também um mapeamento da atualidade, com um certo tom de crítica.
O texto aborda a padronização social, as dificuldades das interações e um grande fator para o crescimento do problema: as redes sociais, fator que também pode ser utilizado como tese.
TEXTO III
Disponível em: https://zenklub.com.br
Comentário
O último texto da coletânea auxilia a compreender a ideia global sobre o tema. Embora o contexto seja voltado para o Brasil, os dados apontam que as doenças mentais são questões enfrentadas ao redor de todo o mundo, acometendo mulheres, em sua maioria.
A mensagem “socorro, Brasil!” chama a atenção para o número alarmante de 1 em 20 pessoas sofrer com o problema, ainda enfatizando que é algo ignorado.
Também é possível perceber a crítica que há nos números: os elevados índices necessitam de espaço para discussão e reconhecimento imediato.
Análise dos textos de apoio Enem 2020
De um modo geral, os textos de apoio constroem a ideia de estigma como conceito, o que já traz o sentido de problemática para o tema.
Em outras palavras, é um fato que as doenças mentais existem, mas como elas são interpretadas na sociedade? Por que, de fato, elas se tornam um problema?
Interpretações como a dificuldade de expressão da essência, redes sociais, efemeridade das relações nos dias de hoje são algumas das muitas conclusões tiradas a partir da leitura dos textos de apoio. Outro ponto importante é que, novamente, o Enem não trouxe o termo “Brasil” em sua frase-tema, assim como também abordou dados globais em sua coletânea
Sugestão de teses – Redação Enem 2020
Uma tese provável poderia abordar as possíveis causas do estigma, focado nas raízes da desinformação. Assim, seria mais fácil apontar e desenvolver as soluções para os entraves que ainda rompem o conhecimento sobre doenças mentais, empatia e atenção com o próximo.
Tese: o estigma sobre as doenças mentais ocorrem por motivos X e Y. Assim, faz-se necessário argumentar sobre tais problemas, a fim de que a solução seja o conhecimento e acolhimento social.
É importante notar, aqui, que não há é necessário construir uma tese por “causa” e “consequência”, visto que a própria prova já apresenta quais são os resultados do assunto.
Hoje, no Brasil, é possível ver preconceito, estereótipos e estigmas sobre as pessoas com problemas psicológicos, fruto de desinformação, falta de políticas públicas, dentre outras razões que acentuam o problema.
Conclusão
O tema dá ao aluno a chance de amenizar ou solucionar por completo o estigma sobre as doenças mentais na sociedade.
Lembrando que é muito importante ter cuidado com os direitos humanos e, principalmente, buscar interdisciplinaridade, além de agentes concretos para resolver o problema, como os GOMIFES, lembram? Governo, ONG’s, Mídia, Indivíduo, Família, Escola e Sociedade.
Ah, e é importante lembrar que a proposta de solução ainda conta com: ação que será feita pelo agente, meios para realizar a ação, finalidade da proposta e o detalhamento de algum dos elementos presentes.
Análise de redação exemplar
Antes de analisarmos uma redação exemplar sobre o tema do Enem 2020, é importante lembrarmos alguns pontos sobre a estrutura da dissertação argumentativa.
- A introdução é o parágrafo de contextualizar o tema e apresentar um ponto de vista, uma tese acerca da discussão proposta pela banca;
- O desenvolvimento é o espaço de convencimento. Nele, o aluno precisa apresentar ideias que comprovem a tese e fundamentá-las com o objetivo de mostrar a relevância de sua opinião nessa discussão;
- A conclusão precisa retomar a tese, parafraseando a abordagem mostrada na introdução, e apresentar uma de intervenção detalhada e que tente solucionar cada um dos pontos apresentados no desenvolvimento.
O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira (Enem 2020)
Mens sana in corpore sano
“Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), não há uma definição exata para saúde mental, contudo, de maneira abrangente, entende-se que o termo está relacionado à forma como um indivíduo reage às exigências, aos desafios e às mudanças da vida humana. Hodiernamente, a cultura da superprodutividade e as redes sociais maculam quem parece estar fora do padrão instituído como normal, causando, assim, dilemas psicossociais gravíssimos.”
Comentários: A introdução apresenta uma informação veiculada pela Organização Mundial da Saúde, o que confere certa autoridade à contextualização do parágrafo. Além disso, a tese é feita de maneira analítica e indica a presença das ideias que serão desenvolvidas nos parágrafos de desenvolvimento: a superprodutividade e as redes sociais.
“Em primeiro plano, diante de um contexto de exploração capitalista, em que o lucro é uma prerrogativa soberana, os homens se tornaram máquinas de trabalho e resultado, não sem consequências devastadoras. Para o filósofo sul coreano Byung-Chul Han, em seus títulos A Sociedade do Cansaço e A expulsão do Diferente, o ciclo vicioso da autoexploração e da padronização de condutas e costumes tem feito da onda de doenças mentais um tsunami.”
Comentários: No primeiro parágrafo do desenvolvimento, há uma contextualização acerca da exploração capitalista e do ritmo automático do trabalho. Para fundamentar essa ideia, utilizou-se um argumento de autoridade filosófica para comprovar o ciclo vicioso de exploração indicado por Byung-Chul Han em “Sociedade do Cansaço” em referência ao estigma da saúde mental.
“Fica claro, portanto, o quanto o estigma de fraqueza e marginalização de quem não atende às expectativas do sistema social é perigoso. As redes sociais, com postagem de vidas perfeitas, pasteurizam o que significa ser feliz e equilibrado. O que cria um deserto de (des)ilusão para os que se veem desamparados em momentos ou em quadros de transtorno emocional, sendo taxados de inertes e improdutivos.”
Comentários: No segundo parágrafo de desenvolvimento apresenta uma consequência em relação às ideias desenvolvidas no primeiro parágrafo e indica a concretização do cenário a partir da vida em rede social.
“Por fim, faz-se primordial a discussão e a valorização da gestão emocional a partir da união de esforços do Ministério da Educação e da Saúde com medidas preventivas e paliativas. Nas escolas, dentro dos currículos, seguindo as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular, a partir da formação e preparação dos professores, devem ser fortalecidas as competências socioemocionais, promovendo dinâmicas e debates que autorizem o compartilhar das emoções, formando adultos mais preparados psicologicamente para o futuro. Além disso, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) devem ser expandidos e equipados para, que cada vez mais, possam atender e apoiar o cidadão brasileiro que se vê desamparado na luta inglória de manter mente e corpo sãos na era digital.”
Comentários: A conclusão apresenta uma proposta de intervenção que conta com dois agentes (Ministério da Educação e da Saúde), a ação (discussão e a valorização da gestão emocional), o meio (nas escolas), o detalhamento (seguindo as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular) e o efeito (formando adultos mais preparados psicologicamente para o futuro). Ademais, há, também, uma segunda proposta para relacionada ao segundo desenvolvimento em relação à era digital e uma referência ao título, promovendo um texto circuito.
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