Leia o resumo “Como abordar o eixo temático “Questões Sociais” em uma redação?“ e resolva os exercícios abaixo.
1. (ENEM – 2012)
Lugar de mulher também é na oficina. Pelo menos nas oficinas dos cursos da área automotiva fornecidos pela Prefeitura, a presença feminina tem aumentado ano a ano. De cinco mulheres matriculadas em 2005, a quantidade saltou para 79 alunas inscritas neste ano nos cursos de mecânica automotiva, eletricidade veicular, injeção eletrônica, repintura e funilaria. A presença feminina nos cursos automotivos da Prefeitura — que são gratuitos — cresceu 1.480% nos últimos sete anos e tem aumentado ano a ano.
Disponível em: www.correiodeuberlandia.com.br. Acesso em: 27 fev. 2012 (adaptado).
Na produção de um texto, são feitas escolhas referentes a sua estrutura, que possibilitam inferir o objetivo do autor. Nesse sentido, no trecho apresentado, o enunciado “Lugar de mulher também é na oficina” corrobora o objetivo textual de
a) demonstrar que a situação das mulheres mudou na sociedade contemporânea.
b) defender a participação da mulher na sociedade atual.
c) comparar esse enunciado com outro: “lugar de mulher é na cozinha”.
d) criticar a presença de mulheres nas oficinas dos cursos da área automotiva.
e) distorcer o sentido da frase “lugar de mulher é na cozinha”.
2. (ENEM – 2013)
Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulo, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por
a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
b) preservação da memória ancestral e resistência negra a apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
3. (ENEM – 2014)
TEXTO I
João Guedes, um dos assíduos frequentadores do boliche do capitão, mudara-se da campanha havia três anos. Três anos de pobreza na cidade bastaram para o degradar. Ao morrer, não tinha um vintém nos bolsos e fazia dois meses que saíra da cadeia, onde estivera preso por roubo de ovelha. A história de sua desgraça se confunde com a da maioria dos que povoam a aldeia de Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e precocemente envelhecida, situada nos confins da fronteira do Brasil com o Uruguai.
MARTINS, C. Porteira fechada. Porto Alegre: Movimento, 2001 (fragmento).
TEXTO II
Comecei a procurar emprego, já topando o que desse e viesse, menos complicação com os homens, mas não tava fácil. Fui na feira, fui nos bancos de sangue, fui nesses lugares que sempre dão para descolar algum, fui de porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava todo mundo escabreado pedindo referências, e referências eu só tinha do diretor do presídio.
FONSECA, R. Feliz Ano Novo. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989 (fragmento).
A oposição entre campo e cidade esteve entre as temáticas Tradicionais da literatura brasileira. Nos fragmentos dos dois autores contemporâneos, esse embate incorpora um elemento novo: a questão da violência e do desemprego. As narrativas apresentam confluências, pois nelas o(a)
a) criminalidade é algo inerente ao ser humano, que sucumbe a suas manifestações.
b) meio urbano, especialmente o das grandes cidades, estimula uma vida mais violenta.
c) falta de oportunidades na cidade dialoga com a pobreza do campo rumo à criminalidade.
d) êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da violência nas grandes cidades.
e) complacência das leis e a inércia das personagens são estímulos à prática criminosa.
Gabarito
1. A
Comentário: Nessa questão, é apresentado um texto que relata o crescimento do número de mulheres em cursos da área automotiva – área ocupada majoritariamente por homens. Não há nele um caráter argumentativo, mas expositivo, por ser uma notícia de jornal que tem a finalidade de relatar um fato.
Podemos observar, no enunciado, que a questão pede uma informação acerca da frase “Lugar de mulher também é na oficina.” e, mais especificamente, o objetivo textual dessa construção. Analisemos, então, uma alternativa de cada vez, começando de baixo para cima:
E) Nessa alternativa, afirma-se que o objetivo dessa frase é distorcer a frase “Lugar de mulher é na cozinha.”. De fato, ocorre uma distorção. Tão grande, que muda seu sentido. Mas será que isso demonstra o objetivo textual ou apenas um fato sobre a frase formada? Vamos adiante!
D) A alternativa D afirma exatamente o contrário do significado atribuído à frase, o que a torna incorreta.
C) Essa alternativa apresenta uma assertiva correta. No entanto, assim como na alternativa E, não apresenta um objetivo com relação ao texto por inteiro.
B) A alternativa B afirma que a frase tem a intenção de fazer uma defesa de alguma coisa. Ora, dissemos acima que este não é um texto argumentativo, não há nele uma defesa de uma tese. Logo, essa afirmação está incorreta, estando a alternativa B igualmente incorreta.
A) Nessa alternativa encontramos que a frase demonstra alguma coisa, e é esta a função do texto expositivo. Que coisa seria essa? Ao longo do texto há uma apresentação da situação das mulheres na cidade de Uberlândia – MG, que mudou nos últimos tempos. A intenção da frase, então, é introduzir e antecipar esse panorama que será posteriormente explicado e detalhado na notícia, mostrando logo de cara que a situação da mulher mudou atualmente.
2. B
Comentário: O enunciado dessa questão vai direto ao ponto, e busca o contexto social reproduzido, na visão do eu-lírico, pelo conflito de gerações e pelo conflito de grupos étnicos, o que nos faz realizar uma segunda leitura – mais detalhada e objetiva – do poema Olá, Negro!.
Primeiramente, de que fala esse poema? Logo no título e nos primeiros versos, podemos notar que esse poema fala sobre o povo negro. No entanto, ao longo do poema, percebemos que o objeto poético é não só o povo negro, mas, mais profundamente, a luta desse povo pela memória dos seus antepassados. Nos quatro primeiros versos, o eu-lírico fala de uma tentativa das gerações posteriores de apagar a “cor”, a “alma”, a cultura e a história do negro, que é resumidamente apresentada nos seis versos que se seguem. Nos quatro últimos versos, ademais, o eu-lírico menciona quem está do outro lado desse “conflito étnico”: os brancos, a raça que enforca.
Vamos, então, para as alternativas. Podemos, logo de cara, descartar três delas: a A, a C e a E. A A e a E fogem muito do objeto do poema e, na C, a fuga é um pouco menor, por apresentar uma assertiva que dialoga minimamente com o objeto mas, ainda assim, há fuga. A alternativa D pode nos enganar, uma vez que menciona a relação descendentes de escravos X descendentes de senhores abordada no poema, mas não pode ser considerada correta, pois trata de uma questão financeira não levantada no texto.
Nos resta, então, analisar a alternativa B, que é a correta. Essa alternativa aborda a questão da preservação da cultura negra e da resistência desse povo frente a falta de empatia cultural do branco, que é exatamente o assunto do qual o poema trata, como vimos anteriormente em sua analise.
3. C
Comentário: Essa questão apresenta dois textos que dialogam entre si. Para entender, vamos analisá-los. No primeiro, conta-se a história de um homem, João Guedes, um retirante de uma cidade do interior, que há 3 anos convivia com a pobreza na cidade grande e que havia acabado de passar pela experiência de estar preso, por ter roubado para não passar fome. A história desse homem, agora morto, segundo o narrador, é comum entre os habitantes da cidadezinha de onde João veio. No segundo texto, ademais, um homem, sem sucesso, procura por qualquer emprego, sem ter exigência alguma. Em todo lugar em que ele procurava, pediam-lhe referência, o que ele não tinha, a não ser a do diretor do presídio em que ele esteve preso.
Partamos, então, para o enunciado. Nele, introduz-se a oposição entre campo e cidade como assunto recorrente na literatura brasileira e se menciona que a questão da violência e do desemprego é um elemento novo dentro dessa temática. A seguir, pede-se a natureza da confluência, isto é, da convergência entre os textos, considerando as afirmações anteriores.
Com isso, podemos descartar as alternativas A, B e E, pois nenhuma delas apresenta assertivas corretas ao serem comparadas com as narrativas: nada se fala sobre criminalidade nos ser inerente, nem tampouco sobre violência ser algo estimulado pelo estilo de vida urbano, assim como complacência das leis não é tema de nenhum dos textos.
Entre as alternativas restantes, a D dialoga um pouco com a temática do texto, porém, a assertiva por ela apresentada não é a que mais se enquadra na narrativa, já que falta de escolaridade não é um dos temas abordados, além disso, há nela uma falácia, que podemos identificar na afirmação do êxodo rural como um dos fatores que justificam a violência nas cidades.
A alternativa correta, então, é a C, que relaciona a pobreza do campo com a falta de oportunidades na cidade, além de afirmar ser esse um dos fatores que contribuem para a criminalidade. Esses são os temas principais dos textos acima relacionados.