Tudo em paz, meu povo? Preparados para o ENEM que se aproxima? Desta vez, em nosso resumo filosófico, nós vamos continuar nossa caminhada pela história da filosofia. Hoje faremos nossa passagem de Platão à Aristóteles.
Nascido em Estagira, Aristótéles não era grego de nascimento, mas sim macedônio. Seu pai era Nicômaco, médico de Filipe, o rei da Macedônia. Tendo tido, ao que tudo indica, uma boa formação quando jovem, com 18 anos o filósofo foi para Atenas, grande centro cultural daquela época. Lá, conheceu Platão e se tornou seu discípulo na Academia. Consta nas lendas que Aristóteles era o aluno predileto do mestre e que impressionava a todos com sua inteligência. Quando Platão morreu, Aristóteles, sabendo que era o mais brilhante membro da Academia, tinha a expectativa de sucedê-lo na direção da escola. O escolhido, porém, foi Xenócrates, sobrinho de Platão. Decepcionado, o filósofo criou seu próprio estabelecimento de ensino, o Liceu, passando a construir e ensinar uma filosofia própria.
Certamente, não foi apenas o rompimento com a Academia que levou uma mente com a de Aristóteles a produzir um sistema filosófico próprio. Pelo contrário, o que as fontes históricas nos relatam é que, já desde muito cedo, sendo ainda discípulo de Platão, ele tecera duras e importantes críticas ao pensamento do mestre. Tais críticas visavam, acima de tudo, a Teoria das Ideias, base de todo o sistema filosófico platônico. Assim, não é à toa que se atribui ao filósofo macedônio a famosa frase “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade”. Em outras palavras, “Ok, Platão, tudo que aprendi de filosofia foi com você, mas não é possível concordar com o que você diz”
Como vimos nas últimas semanas, a Teoria platônica das Ideias consiste basicamente na afirmação de que a realidade está dividida em dois grandes planos: o Mundo Sensível, que é este que percebemos com os assuntos, sendo material e mutável; e o Mundo Inteligível, ou Mundo das Ideias, que só podemos alcançar por nossa inteligência, nossa alma. Sendo eterno e imutável, o Mundo das Ideias é onde se encontram as essências das coisas. Em outras palavras, se vocês querem um lema, nós podemos dizer que a Teoria da Ideias é a afirmação da separação radical entre as essências e as coisas. As primeiras encontram num mundo eterno e abstrato, alcançáveis somente pela razão. As segundas fazem-se presentes neste mundo concreto e material que percebemos com nossos corpos.
Ora, é justamente neste ponto que se encontra a raiz da celeuma entre Platão e Aristóteles. Todo o ponto de partida da filosofia aristotélica é a afirmação de que não faz sentido, de que é absurdo, considerar as coisas e suas essências respectivas como realidades separadas. Tal separação é, do ponto de vista aristotélico, algo que contraria a própria concepção platônica de essência, segundo a qual uma essência é aquilo que faz com que uma coisa seja o que ela e não outra. Confuso? Calma! Nosso resumo de hoje é apenas um aperitivo. Na semana que vem, tudo ficará mais claro. O importante hoje é você saber que, se Platão pensava que há dois mundos e que as essências se encontram em apenas um deles, Aristóteles, por sua vez, acreditava que a realidade é uma só e que as essências se encontram aqui, unidas às coisas. Daí o sentido da famosa representação dos dois filósofos feita pelo renascentista Rafael, no quadro A Escola de Atenas. Enquanto Platão aponta o dedo para cima, fazendo referência ao Mundo das Ideias, Aristóteles estende à mão para baixo, apegando-se ao mundo concreto em que vivemos
Ah, uma curiosidade: a certa altura da vida, Aristóteles foi convidado por Filipe, rei da Macedônia, para ser tutor de seu filho, o príncipe Alexandre (o futuro conquistador Alexandre, o Grande), tarefa que exerceu durante três anos. Por conta desse trabalho, tempos depois, quando Alexandre começou a tentar invadir a Grécia, Aristóteles passou a ser profundamente mal visto em Atenas, afinal, havia sido o formador daquele que procurava dominar o país. Consciente de que sua vida estava em risco, o filósofo fugiu da cidade, afirmando estar impedindo os atenienses de cometerem seu segundo crime conta a filosofia. O primeiro teria sido matar Sócrates.