Hoje falaremos de Parmênides e Heráclito, sem a menor sombra de dúvida os pré-socráticos mais importantes para a tradição filosófica e para o vestibular. Um afirma o constante devir e o outro a imobilidade do ser, mas as diferenças não param por aí. Aperte os cintos e viaje conosco para o mundo dos pré-socráticos.
Parmênides
Parmênides é sem dúvida um dos maiores pré-socráticos. Sua filosofia acerca do ser foi fundamental para o desenvolvimento da tradição filosófica, uma vez que ele foi o primeiro a afirmar princípios de identidade e unidade. Fofinhos do meu Brasil, pensem comigo: o que seria de nós se não conseguíssemos diferir o que é e o que não é? Está achando uma loucura? Prepare-se, pois é apenas o começo.
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Primeiramente, Parmênides dividiu a realidade em duas categorias: o que é e o que não é. Percebeu que para tudo sempre havia um contrário, que para a luz havia as trevas, dessa forma, entendeu que a escuridão não era nada além da negação da luz. Nosso querido filósofo relacionou a luz às coisas positivas e a escuridão às negativas. Sendo assim, afirmou que o “O Ser é, e o Não-Ser não é”. Com essa afirmação, a lógica passou a ser a “cereja do bolo” de sua teoria. Parece fácil, mas o problema é bem difícil: o que estava em questão era a mobilidade das coisas, como poderia ocorrer o “vir-a-ser”. O caminho escolhido foi a lógica radical, somente ela tem valor, não podemos conhecer pelos sentidos, mas tão somente pela razão. Prestem bem atenção: não é possível que algo seja e não seja ao mesmo tempo! Você é você e não pode ser de forma alguma eu. Parece óbvio, mas é aí que nasce o princípio de identidade “o que é, simplesmente, é e não pode não ser”.
Agora nossa viagem vai ficar muito louca. Se “o que é, simplesmente, é e não pode não ser”, como aceitar a mudança das coisas? Como tolerar que haja um Vir-a-ser? Como assentir que algo era, mas não é mais? Não dá pra aceitar nada disso. Parmênides optou pela radicalidade da lógica. Só existe o SER, pois o NÃO-SER é o vazio, o nada e não é possível que o SER venha do NÃO-SER, uma vez que nada vem do nada. Resumindo: não há mudança. O SER É ETERNO, CONSTANTE E IMUTÁVEL. Os sentidos humanos são mentirosos e por isso nos fazem pensar que há variações, mas na verdade não há.
Heráclito
Não preciso nem dizer que Parmênides e Heráclito não eram anda parecidos, né!? Estavam no extremo oposto. Se de um lado o primeiro nega os sentidos e a mudança, do outro, o segundo afirma não haver nada além do devir. Eita, confusão!
“Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado… Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo… É na mudança que as coisas acham repouso…” Heráclito praticamente resume sua teoria com esse fragmento. Nada permanece, tudo muda o tempo inteiro no mundo, e creia: não foi o Lulu Santos que teve essa ideia. Antes dele, muitos séculos antes, nosso querido filósofo já “cantava essa pedra”.
A personalidade contraditória de Heráclito já era um prenúncio de suas teorias. Na juventude, ele dizia que não precisava de mestre porque não sabia de nada, já na vida adulta afirmava saber de tudo. Nosso pensador ficou famoso pela apatia que tinha às pessoas e por ser antissocial ao extremo. Curiosamente, morreu de hidropisia em praça pública. Heráclito nos deixou apenas alguns manuscritos com sua teoria, mas foram marcantes o suficiente para fazê-lo dividir com Parmênides o lugar de destaque entre os pré-socráticos. Não podemos nos equivocar dizendo que nosso filósofo odiava a lógica, ele apenas não foi radical como Parmênides, uma vez que dele surgiu a tão conhecida dialética que foi indispensável às filosofias de Hegel e Marx. Não estamos falando que tudo muda sem seguir nenhuma ordem, tudo muda, exceto a própria mudança, ela sim permanece. Para ele a lei universal da mudança é o Lógos.
Exercícios
1. (UFF 2010)
Como uma onda
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Lulu Santos e Nelson Motta
A letra dessa canção de Lulu Santos lembra ideias do filósofo grego Heráclito, que viveu no século VI a.C. e que usava uma linguagem poética para exprimir seu pensamento. Ele é o autor de uma frase famosa: “Não se entra duas vezes no mesmo rio”.
Dentre as sentenças de Heráclito abaixo citadas, marque aquela da qual o sentido da canção de Lulu Santos mais se aproxima
a) Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo é sono.
b) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra.
c) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.
d) Muita instrução não ensina a ter inteligência.
e) O povo deve lutar pela lei como defende as muralhas da sua cidade
2. (UEM 2014) “Ao contrário de seus contemporâneos – como Parmênides – Heráclito não rejeitava as contradições e queria apreender a realidade na sua mudança, no seu devir. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois: ‘Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio’, pois, na segunda vez, não somos os mesmos, e também as águas mudaram. Para Heráclito, o ser é múltiplo […] por ele estar constituído de oposições internas. O que mantém o fluxo do movimento não é o simples surgimento de novos seres, mas a luta dos contrários […]. É da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários.”
(ARANHA, M. L. de A. Filosofar com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p.287).
A partir desta afirmação sobre a filosofia de Heráclito, assinale o que for correto.
(01) O princípio motor do movimento é a tensão de forças contrárias entre si.
(02) Na Grécia arcaica ou pré-socrática, o curso dos rios não estava estabelecido, razão pela qual eles mudavam de lugar de um dia para outro.
(04) O princípio do devir ou da transformação contínua visa compreender a ordenação cosmológica do mundo.
(08) O surgimento de novos seres é explicado pela intermediação divina, criadora ex nihilo.
(16) A multiplicidade do real é pensada a partir do princípio lógico de não contradição entre o ser e o não ser.
Soma: ( )
GABARITO
1. C
2. 05 (01+04)