No século XVIII, após a dualidade de pensamentos vista no período barroco, há um retorno das influências científicas e artísticas, que marcaram o Renascimento. A escola literária árcade tem como objetivo resgatar o racionalismo e a valorização da cultura greco-latina, propagada no Classicismo, além de apresentar em sua temática um sentimento pastoril, prezando por uma vida mais natural.
Contexto Histórico
O século XVIII foi marcado pela presença do racionalismo, afastando-se dos preceitos religiosos que foram propagados na escola literária anterior, a barroca. Com isso, percebemos uma alteração dos indivíduos acerca de seu posicionamento sobre as visões de mundo.
Nesse período, podemos citar uma série de acontecimentos políticos e sociais do cenário europeu que impulsionaram as novas necessidades do âmbito social. Entre tais acontecimentos destacam-se o fortalecimento político da burguesia, a chegada dos ideais Iluministas, a Revolução Francesa, o combate à Contrarreforma e o avanço no campo científico.
Além disso, esses movimentos contestavam os privilégios da nobreza, com isso, percebemos a oposição da temática árcade entre o desejo de uma vida mais simples, natural contra a propagação de uma vida mais material, luxuosa. Esses acontecimentos proporcionaram ao homem da época a adoção de uma perspectiva mais futurista, de modo que o fizesse lutar por melhorias no ambiente em que vivia, buscar uma clareza de ideias e construir uma vida mais harmônica e justa.
Características do Arcadismo
A temática árcade foi uma resposta artística às necessidades de expressão daquele momento. Sua temática preza pela valorização da simplicidade, desvinculando-se do apego a bens materiais ou uma vida luxuosa. Conseguimos perceber este aspecto pela presença do bucolismo, ou seja, o sentimento de valorização à vida no campo. Além disso, há a valorização da cultura clássica, a presença do convencionalismo amoroso e o contraste entre a vida urbana e rural. É importante dizer que essa evasão ao campo era imaginária, uma vez que vivia-se um período de urbanização nas cidades e o movimento transitório do êxodo rural.
Veja abaixo algumas de suas principais características:
a) Visão antropocêntrica;
b) Busca pelo equilíbrio;
c) Sentimento Pastoral;
d) Bucolismo;
e) Influência da cultura greco-latina;
f) Convencionalismo amoroso;
g) Influência das ideias iluministas;
h) Contraste entre o ambiente urbano e o ambiente campestre;
i) Presença dos lemas árcades (Carpe Diem, Inutillia Truncat, Aurea Mediocritas, etc.)
Os lemas árcades, retratados no último tópico, consistem na composição de expressões que remetem aos ideais da valorização da simplicidade, aspecto importante dessa escola literária. Veja abaixo o seu significado:
- Carpe Diem (Aproveitar a vida, viver o momento);
- Fugere Urbem (Fuga da cidade, remetendo à felicidade da vida no campo, em contraste com o caos urbano);
- Aurea Mediocritas (Desvínculo à vida material, que, segundo os árcades, era considerada uma vida medíocre, entretanto, rica em realizações espirituais);
- Inutillia Truncat (“cortar o inútil”, ou seja, afastar-se da infelicidade que o apego material pode causar).
Em relação à linguagem e forma estrutural das poesias árcades, temos a presença de um vocabulário mais simples, a forma clássica do soneto, o gosto por decassílabos e o a ordem direta da escrita (diferentemente do barroco, que prezava pelos hipérbatos).
O Arcadismo no Brasil
No Brasil, com as aspirações democráticas que rodeavam o continente Europeu, tivemos aqui a influência desses ideais, com movimentos políticos como a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana.
Além disso, no Brasil, vivia-se o chamado “século do Ouro”, que impulsionava a extração de minérios. Os escritores brasileiros buscavam inspiração na literatura árcade, que já estava consolidada no cenário internacional, mas há alguns aspectos diferentes, como por exemplo a imagem da natureza, que era mostrada de forma muito mais selvagem.
Embora nem toda a temática do arcadismo aborde como influência o contexto histórico, a maioria dos autores árcades eram participantes do movimento político da Inconfidência Mineira. Dessa forma, nas poesias, conseguimos perceber uma vertente mais política e que anseia por um Brasil independente.
Ainda na lírica, temos também a presença da poesia satírica. As cartas chilenas eram poemas que criticavam o abuso de poder, satirizavam os desmandos administrativos da região mineira. Os escritores destas omitiam sua autoria, por medo de serem descobertos pelos dirigentes políticos. Estudiosos afirmam que as cartas, assinadas por um nome falso, podem ter sido escritas por Tomás Antônio Gonzaga, principal autor do arcadismo e participante ativo da Inconfidência.
Entre os principais autores da época, podemos destacar: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Santa Rita Durão e Basílio da Gama.
Exercícios
1. (ENEM)
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
(Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.)
Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor.
a) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v.1)
b) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,” (v.5)
c) “Os meus fiéis, meus doces companheiros,” (v.6)
d) “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v.7)
e) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,” (v.11)
2. (MACKENZIE)
Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos amores (…)
(…) aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
e ao semblante a graça.
(Tomás Antônio Gonzaga)
Nos versos acima:
a) O eu-lírico, ao lamentar as transformações notadas em seu corpo e alma pela passagem do tempo, revela-se amoroso homem de meia-idade.
b) Que retomam tema e estrutura de uma “canção de amigo”, está expresso o estado de alma de quem sente a ausência do ser amado.
c) Nomeia-se diretamente a figura ironizada pelo eu-lírico, a mulher a quem se poderiam fazer convites amorosos mais ousados.
d) Em que se notam diálogo e estrutura paralelística, o ponto de vista dominante é o do amante que vê seus sentimentos antagônicos refletidos na natureza.
e) A natureza é o espaço onde o amado se sente à vontade para expressar diretamente à amada suas inclinações sensuais.
3. (UFSCAR)
Texto 1
Eu quero uma casa no campo
do tamanho ideal
pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
meus discos
meus livros
e nada mais.
(Zé Rodrix e Tavito)
Texto 2
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
Aqui descanse a louca fantasia;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
(Cláudio Manuel da Costa)
Embora muito distantes entre si na linha do tempo, os textos aproximam-se, pois o ideal que defendem é
a) O uso da emoção em detrimento da razão, pois esta retira do homem seus melhores sentimentos.
b) O desejo de enriquecer no campo, aproveitando as riquezas naturais.
c) A dedicação à produção poética junto à natureza, fonte de inspiração dos poetas.
d) O aproveitamento do dia presente – o carpe diem-, pois o tempo passa rapidamente.
e) O sonho de uma vida mais simples e natural, distante dos centros urbanos.
Gabarito
1. A
2. E
3. E