Ninguém gosta de falar sobre problema, mas conhecer os problemas que nos cercam é o primeiro passo para buscarmos soluções. E quando estamos lidando com problemas sociais não podemos simplesmente ignorar a questão, afinal, direta ou indiretamente eles afetam nossa vida.
Pensando nisso, preparamos este artigo como um pequeno resumo. Nele, vocês poderão encontrar as principais informações sobre problemas sociais no Brasil e no Mundo.
Definindo problemas sociais
Um problema social é todo fenômeno, situação ou condição que, dentro da perspectiva de alguns grupos na sociedade, não “funciona” como deveria, passando a ser visto ou sentido como um problema. A definição do que é um problema social depende muito das condições históricas e das características específicas de cada sociedade.
O problema social deve ser caracterizado a partir de situações e categorias sociais. O Racismo, por exemplo, é caracterizado a partir de situações sociais de discriminação e preconceito (mas não apenas essas situações), assim como pela categoria de raça.
Mas como o problema de um grupo se torna o problema de uma sociedade inteira? É preciso ressaltar que problemas sociais envolvem uma série de fenômenos que excluem sistematicamente indivíduos e grupos de uma participação integral dentro da sociedade.
Deste modo, falar de problemas sociais nos permite observar a forma como a sociedade está organizada e como essa determinada forma prejudica pessoas e grupos que deveriam estar inseridos nela. Vamos nos aprofundar nessa discussão a partir de um problema social muito recorrente em nosso cotidiano: a desigualdade.
O problema da desigualdade
“Segundo relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgado no fim do ano passado, o Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo. Em contrapartida, os 10% mais ricos do país concentram cerca de 41,9% da renda total, enquanto o 1% concentra cerca de 28,3%”.
A desigualdade é um dos mais amplos problemas sociais. Fenômenos de desigualdade podem ser observados em praticamente todas as sociedades e são causados a princípio por uma distribuição desigual da renda entre grupos sociais. Além da renda, a desigualdade também pode ser medida a partir do acesso à bens essenciais como saúde e saneamento básico.
Dela decorrem outros problemas sociais como favelização, aumento nos índices de violência urbana e o adoecimento da população. A desigualdade também afeta diretamente a mobilidade social ascendente e colabora para a manutenção de sistemas de estratificação social. Antes de continuar, vamos entender com mais calma esses conceitos.
Mobilidade Social
A Mobilidade Social é o movimento de indivíduos e grupos em um determinado sistema de estratificação social. Esse movimento pode ser ascendente, quando a posição da pessoa ou grupo melhora dentro da sociedade) ou descendente, quando a posição da pessoa ou grupo piora dentro da sociedade).
Exemplos de mobilidade social:
- O filho de uma empregada doméstica se forma em Economia em uma Universidade Pública e logo consegue um emprego no mercado de ações – mobilidade social ascendente.
- O dono de uma padaria faliu e tem que abandonar o negócio, consequentemente empobrecendo – mobilidade social descendente.
Estratificação
A Estratificação social, por sua vez, se refere a uma divisão da sociedade em estratos (ou camadas) hierarquizadas, que acessam bens de forma desigual a partir de sua posição. Essa hierarquização pode ser medida a partir de pelo menos três indicadores:
- O acesso a bens materiais
- A capacidade de mando dentro da sociedade (quem exerce o poder)
- O grau de importância dado a determinadas profissões em detrimento de outras.
Exemplos de estratificação:
- Na Índia, temos um exemplo de estratificação por castas. Nesse tipo de organização, cada casta ocupa uma posição específica na sociedade, algumas mais beneficiadas do que outras.
- Os “párias”, ou intocáveis, são destinados por sua posição de casta a exercer trabalhos degradantes de baixa remuneração, chegandoinclusive a pedir esmolas.
Como visto, a estratificação é um conceito que dialoga bastante com a desigualdade. A partir dos sistemas de estratificação, podemos identificar de que forma a desigualdade opera, através dos grupos sociais envolvidos.
Além do modelo observado na Índia, podemos “estratificar” a sociedade (dividir a sociedade em grupos hierárquicos) a partir de outras categorias sociais. Classe, raça e gênero são alguns exemplos, conforme veremos a seguir.
Classe, Raça e Gênero
As categorias de Classe, Raça e Gênero organizam diferentes formas de estratificação social. Embora haja divergências sobre qual das categorias explique melhor as desigualdades sociais, não é possível trabalhar apenas com uma delas quando se discute estratificação.
Classe Social
A discussão sobre classe é introduzida pelo pensamento marxista, que a define a partir de uma polarização entre proprietários e não proprietários. Essa polarização contudo não permitiu captar a situação específica daquelas pessoas que não eram grandes proprietárias mas ainda assim acessavam um maior grau de instrução e outros bens: a “questão da classe média”.
No desenvolvimento do pensamento sobre classes sociais, outros indicadores proporcionaram uma sofisticação do conceito: qualificação e formas de contrato, por exemplo. Contudo, o acesso à qualificação era uma questão apenas de classe social? E as formas de contrato, são marcados apenas pela classe?
Gênero e Raça
Certas desigualdades não são percebidas através da categoria de classe. Dentro da própria classe social outros estratos são fruto de desigualdades. É o caso das desigualdades de gênero e de raça.
Gênero
O gênero pode ser definido como uma série de expectativas em relação aos comportamentos apropriados para homens e mulheres de uma determinada sociedade. Essas expectativas acerca dos comportamentos mais femininos ou mais masculinos define um “destino social” para homens e mulheres: lugares diferenciados (e desiguais) que serão ocupados por eles.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 45% das mulheres com mais de 15 anos se encontram inseridas no mercado de trabalho. A taxa para os homens na mesma faixa etária é de 75%. Na América Latina, o índice corre em 50 e 80%, respectivamente.
Apesar das mulheres terem em média maior escolaridade do que os homens no Brasil, elas ainda não possuem tanta participação no mercado de trabalho. Isso se deve ao lugar esperado que as mulheres ocupem na sociedade, baseado em um noção do que é feminino.
A dedicação às atividades domésticas ou à maternidade, por exemplo, são vistas como atividades “naturalmente” das mulheres. Mesmo as mulheres que se encontram empregadas sofrem com o fenômeno da dupla jornada de trabalho: Mulheres gastam mais tempo em atividades domésticas em comparação com os homens.
Contudo, é de se ressaltar que aqui (Brasil) mulheres brancas ainda recebem uma média salarial maior do que a das mulheres negras. Em média, o salário de uma mulher branca é inclusive maior do que a de um homem negro. Essa disparidade faz com que seja necessário considerar a categoria de raça como explicativa dessa desigualdade persistente.
Raça
“Os sociólogos preferem ser imparciais, e dizem ser financeiro o nosso dilema. Mas se analisarmos bem mais você descobre que negro e branco pobre se parecem, mas não são iguais”.
Racionais MC’s
A raça é uma divisão arbitrária dos grupos humanos a partir de um conjunto de caracteres físicos, como cor da pele e tipo de cabelo. Definida de forma hegemônica pelo ocidente (branco), a categoria de raça, embora substituída nos estudos culturais pelo conceito de etnia, produziu historicamente sérias desigualdades sobretudo em relação aospovos africanos que sofreram processo de escravização.
O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Os negros libertos não tiveram nenhuma política de reparação ou inserção na sociedade brasileira. O que se seguiu na realidade foi uma ampla política eugênica que visava “embranquecer” a população, eliminando o elemento negro da composição populacional do país.
Eugenia: termo criado por Francis Galton (primo de Charles Darwin), que significa em tradução livre “boa linhagem” (eu – bom, genia – linhagem). É uma doutrina que prega a construção de uma “sociedade perfeita” a partir da seleção das melhores linhagens presentes na sociedade – basicamente brancos e ricos. Essa doutrina serviu de base científica para o racismo da época.
Essa política foi implementada no Brasil a partir de fortes incentivos à imigração de populações consideradas de “boa linhagem”: Italianos, alemães e também asiáticos (japoneses).
O grande problema da sociologia brasileira surgida nos primeiros anos do século XX foi, e continua sendo ainda hoje, dar conta do “legado da escravidão” na organização das relações que estabelecemos entre brancos e negros em nossa sociedade.
Atualmente, apesar da população negra no país (autodeclarados pretos e pardos segundo o IBGE) ser maioria, com 55,8% da população total em 2018, os negros representavam uma parcela maior 64,2% dos desempregados neste mesmo ano. Em contrapartida, dentre a população negra ativa no mercado de trabalho em 2018, metade trabalhou em postos informais.
Conforme vimos no texto, outro fenômeno típico das experiências de estratificação social é a sub representação política dos grupos que se encontram nas posições mais baixas da sociedade (aquela capacidade de exercer poder). No Brasil, por exemplo, apenas 27% dos candidatos eleitos em 2018 eram negros.
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