Vejamos um exemplo:
(Enem, 2022)
São vários os fatores, internos e externos, que influenciam os hábitos das pessoas no acesso à internet, assim como nas práticas culturais realizadas na rede. A utilização das tecnologias de informação e comunicação está diretamente relacionada a aspectos como conhecimento de seu uso, acesso à linguagem letrada, nível de instrução, escolaridade, letramento digital etc. Os que detêm tais recursos (os mais escolarizados) são os que mais acessam a rede e também os que possuem maior índice de acumulatividade das práticas. A análise dos dados nos possibilita dizer que a falta de acesso à rede repete as mesmas adversidades e exclusões já verificadas na sociedade brasileira no que se refere a analfabetos, menos escolarizados, negros, população indígena e desempregados. Isso significa dizer que a internet, se não produz diretamente a exclusão, certamente a reproduz, tendo em vista que os que mais a acessam são justamente os mais jovens, escolarizados, remunerados, trabalhadores qualificados, homens e brancos.
SILVA, F. A. B.; ZIVIANE, P.; GHEZZI, D. R. As tecnologias digitais e seus usos. Brasília; Rio de Janeiro: Ipea, 2019 (adaptado).
Ao analisarem a correlação entre os hábitos e o perfil socioeconômico dos usuários da internet no Brasil, os pesquisadores:
- apontam o desenvolvimento econômico como solução para ampliar o uso da rede;
- questionam a crença de que o acesso à informação é igualitário e democrático;
- afirmam que o uso comercial da rede é a causa da exclusão de minorias;
- refutam o vínculo entre níveis de escolaridade e dificuldade de acesso;
- condicionam a expansão da rede à elaboração de políticas inclusivas.
Ideias importantes que sempre caem
- Alienação – Estado em que o indivíduo perde o controle sobre sua própria atividade ou consciência; para Karl Marx, ocorre quando o trabalhador é separado do produto de seu trabalho.
- Alienação cultural – Perda de identidade ou submissão cultural de um povo diante de outro mais dominante, muitas vezes em contextos de colonialismo.
- Alienação tecnológica – Situação em que o avanço técnico cria dependência e distanciamento do ser humano em relação ao sentido e ao controle de sua própria vida.
- Anomia – Conceito do sociólogo Émile Durkheim que significa a ausência ou fragilidade das normas sociais, levando à desordem ou perda de sentido coletivo.
- Antropocentrismo – Visão que coloca o ser humano no centro do universo, característica do pensamento moderno e renascentista, em oposição ao teocentrismo medieval.
- Arché – Palavra grega que significa “princípio” ou “origem” de todas as coisas. Os primeiros filósofos buscavam identificar qual era esse elemento fundamental (água, ar, fogo etc.) como base de sua compreensão da lógica de funcionamento da natureza.
- Ceticismo – Corrente filosófica que duvida da possibilidade de alcançar a verdade absoluta.
- Classe social – Grupo de pessoas que compartilham posição semelhante na estrutura econômica (por exemplo, trabalhadores e burguesia). Conceito central em Marx.
- Coerção social – Força exercida pela sociedade sobre o indivíduo para que ele siga normas e valores (Durkheim).
- Contrato social – Teoria segundo a qual a sociedade e o Estado surgem de um acordo entre indivíduos (Hobbes, Locke e Rousseau) para garantir segurança e convivência.
- Cultura – Conjunto de valores, costumes, crenças e práticas que orientam a vida em sociedade. Tudo aquilo que é aprendido e transmitido socialmente. Desigualdade social – Diferença nas condições de vida, acesso a direitos e oportunidades entre grupos sociais. Está ligada à distribuição de renda, educação e poder.
- Determinismo social – Ideia de que o comportamento humano é fortemente condicionado pelas estruturas sociais (classe, cultura, instituições).
- Dialética – Método de raciocínio baseado na contradição e na superação de opostos; central em Hegel e Marx.
- Dogmatismo – Atitude filosófica que aceita certas verdades sem questionamento ou crítica; em oposição ao ceticismo, confia na razão ou na fé como fontes seguras de conhecimento.
- Divisão social do trabalho – Organização das funções na sociedade; para Durkheim, é o que garante coesão social e interdependência entre os indivíduos.
- Emancipação – Processo de libertação do indivíduo em relação à dominação, seja política, econômica ou intelectual.
- Empirismo – Corrente filosófica moderna que afirma que o conhecimento vem da experiência sensível (Locke, Hume).
- Etnocentrismo – Tendência de considerar a própria cultura como superior às outras, julgando os costumes alheios com base nos próprios valores.
- Existencialismo – Corrente filosófica que coloca a existência individual e a liberdade como ponto de partida da reflexão (Sartre, Kierkegaard).
- Humanismo – Movimento intelectual que valorizou o ser humano, a razão e as artes, surgido no Renascimento como reação ao domínio religioso sobre o pensamento.
- Ideologia – Segundo o sociólogo Karl Marx, é o conjunto de ideias e valores que servem para justificar e manter uma determinada ordem social e política.
- Iluminismo – Movimento intelectual do século XVIII que defendeu a razão, a ciência e a liberdade como caminhos para o progresso humano. Combateu o absolutismo e o poder da Igreja sobre o conhecimento.
- Materialismo histórico – Concepção de Karl Marx segundo a qual as condições materiais (econômicas e produtivas) determinam as estruturas sociais e ideológicas.
- Metafísica – Parte da filosofia que investiga o que está “além da física”: a essência, a existência e aquilo que dá origem a tudo o que existe. Um exemplo clássico é a “teoria das ideias” de Platão.
- Modernidade – Período histórico marcado pelo avanço da razão, da ciência e do individualismo; rompe com tradições religiosas e comunitárias.
- Phýsis – Em grego, “natureza”, a palavra que deu origem ao campo científico da “Física”. Para os filósofos pré-socráticos, era o conjunto de leis e forças naturais que explicam a realidade — a lógica interna da natureza, que pode ser observada e compreendida pela razão.
- Positivismo – Corrente filosófica de Auguste Comte que defende a ciência como única forma legítima de conhecimento e propõe uma sociedade guiada pela ordem e pelo progresso.
- Poder – Capacidade de influenciar ou controlar o comportamento de outras pessoas. Para o filósofo Michel Foucault, o poder não é apenas repressão dos líderes políticos sobre os governados, mas algo que circula nas relações sociais do dia a dia.
- Racionalismo – Corrente filosófica moderna que defende que o conhecimento verdadeiro vem da razão, não da experiência (Descartes).
- Razão – Capacidade humana de pensar, refletir e agir de forma lógica e consciente, buscando compreender o mundo por meio do pensamento racional, muitas vezes em oposição às sensações (visão, audição etc.).
- Relativismo cultural – Ideia de que nenhuma cultura é superior a outra; cada uma deve ser compreendida dentro de seu próprio contexto social.
- Sociedade de consumo – Forma de organização social em que o consumo define status, identidade e relações humanas.
- Teocentrismo – Visão de mundo em que Deus é o centro de tudo e a explicação de todas as coisas; predominante na Idade Média.
- Utilitarismo – Doutrina que julga as ações humanas com base em suas consequências, buscando o maior bem para o maior número de pessoas (Bentham e Mill).
O Brasil de sempre e o mundo de agora
Se existe um tema que o Enem adora, é tudo o que envolve os chamados problemas sociais: desigualdade, diversidade, cidadania, meio ambiente, relações de poder, exclusão e cultura são assuntos recorrentes. As questões pedem que você vá além da memorização: é preciso interpretar, relacionar e analisar situações concretas. Por isso mesmo o exame sempre traz textos de apoio!Mas o Enem também tem seu lado atualizado. A prova acompanha as transformações da sociedade e as novas formas de viver e se relacionar. Assim, aparecem cada vez mais perguntas que envolvem tecnologia, redes sociais, inteligência artificial, globalização e novas formas de trabalho.
Um bom exemplo é a chamada “uberização do trabalho”, fenômeno que une tecnologia, economia e relações trabalhistas. A sociologia entende que, desde o Brasil Colônia, há formas de exploração no mundo do trabalho. Antigamente, o problema estava ligado à exploração da mão de obra escravizada. Com o passar do tempo, no século XIX e início do XX, muitos problemas de exploração foram relacionados à falta de direitos trabalhistas e à conquista de garantias por meio dos movimentos operários e sociais clássicos (aqueles das “portas de fábrica”) assegurados pelo surgimento de uma legislação trabalhista e da mão de obra livre e assalariada.
Hoje, por outro lado, o regime de trabalho vem se tornando cada vez mais informal, com o crescimento do setor de serviços (entregas por aplicativos, transporte por carro particular) e o avanço das tecnologias móveis contribuindo para relações de trabalho mediadas por plataformas digitais, e não mais por contratos formais regidos pela CLT.
Questões sobre esse tema pedem que o estudante compreenda como os avanços tecnológicos geram novas formas de exploração, flexibilização e informalidade, além de impactarem diretamente a vida cotidiana. O Enem gosta desse tipo de abordagem porque ela liga teoria e prática: o conceito sociológico encontra o fato atual, neste caso, a relação entre tecnologia e condições de trabalho.
No fim das contas, a fórmula do Enem é estável: textos de apoio, interpretação e aplicação de conceitos à realidade. O que muda é o contexto: os exemplos e temas que refletem o tempo em que vivemos. O segredo é combinar uma base teórica sólida com um olhar crítico sobre as atualidades.
Saber o que é alienação ajuda a entender o comportamento nas redes sociais; conhecer a ideia de contrato social ajuda a refletir sobre fake news e responsabilidade política; compreender o relativismo cultural ajuda a lidar melhor com a diversidade.
Em resumo
O que nunca muda: a estrutura da questão e o foco nos conceitos.O que muda: os contextos sociais e tecnológicos que o Enem escolhe para atualizar o debate.
E talvez seja justamente essa mistura entre constância e renovação que torne o Enem uma prova tão única. Afinal, ele quer medir não só o que você sabe, mas como você pensa o mundo em que vive.
Para fechar com chave de ouro, que tal garantir aquele reforço final? Participe do Aulão de Revisão do Enem da Descomplica para revisar, de forma objetiva e estratégica, os conceitos que mais caem e treinar com questões no estilo da prova. E, se você quer um acompanhamento completo até o dia do exame, confira também o cursinho Enem da Descomplica, com conteúdos atualizados, organização de estudos e suporte para você chegar confiante e preparado.