Você sabe o que são estereótipos?
Os estereótipos são utilizados como formas simplificadas de explicar diversos assuntos. O problema é que isso acontece com base em generalizações e não em conhecimentos aprofundados a respeito dos temas. Por isso é fundamental entender o conceito observando seus desdobramentos.
Os estereótipos atendem à necessidade humana de tentar dar respostas a certas lacunas, baseando-se em opiniões. Essa necessidade é legítima, no entanto, como as respostas geralmente são preconcebidas e redundantes, acabam não sendo parâmetros confiáveis e por isso apresentam tantos problemas.
Como surgem os estereótipos
- Da necessidade de explicar o desconhecido
O senso comum, por ser um grande articulador de respostas prontas, acaba desenvolvendo estigmas sociais, que por sua vez, podem levar à marginalização de grupos, fenômenos sociais, áreas do conhecimento, e muitos outros.
- Da articulação de estigmas sociais já existentes
Reforçar estigmas sociais pode funcionar como autodefesa, quando interpretamos o desconhecido, mas também como uma arma nociva. Neste caso, as atribuições dadas mais frequentemente são as negativas, portanto as mais prejudiciais.
Estereótipos como sistemas de codificação
Goffman foi um autor que percebeu os estereótipos como sistemas de identificação responsáveis por identificar padrões sociais normativos e reforçar papéis sociais pré definidos. A partir das referências específicas que cada grupo social possui, ocorrem leituras, julgamentos e codificações estereotipadas.
Este processo é intensificado com o avanço da formação de sociedades complexas. Na medida em que os rótulos ajudam a identificar grupos sociais, preconceitos passaram a ser mais frequentes e com mais implicações. O estereótipo surge como produto das relações estabelecidas em um determinado contexto ou território.
Com o senso comum, tentamos responder questões que a princípio são comuns, mas podem vir a ser críticas e complexas futuramente. Porém, não podemos permanecer nele. Para que não haja estagnação intelectual, o avanço e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos deve ser um objetivo constante.
Da mesma forma que os estereótipos são formados, eles podem se modificar ao longo do tempo de acordo com as relações sociais estabelecidas. Por exemplo, a superação das desigualdades entre grupos sociais contribui igualmente para a superação dos estereótipos historicamente atribuídos a grupos marginalizados.
Exemplos do Cotidiano
Estereótipos de gênero
são ideias formuladas a respeito de características ou comportamentos de pessoas com base no sexo. Tanto homens quanto mulheres sofrem este tipo de preconceito, que pode se manifestar de diversas formas.
Por exemplo: o preconceito sofrido por mulheres que não performam feminilidade é baseado no ideal de como mulheres devem se portar. Uma vez atendendo aos estereótipos esperados, elas cumprem um papel social e quando não o fazem, sofrem discriminação social.
Preconceito religioso
caracteriza-se pela falta de interesse em conhecer e respeitar religiões alheias. Sendo muito comum a criação de estereótipos para grupos religiosos não hegemônicos.
Por exemplo: a intolerância religiosa sofrida por religiões de matriz africana. É comum o não reconhecimento de seus elementos religiosos como sagrados, muitas vezes considerados folclóricos ou primitivos. Esses ideais são preconcebidos e estereotipados.
Homofobia
Existem muitos tabus acerca da homossexualidade e os estereótipos sociais reforçam ideias preconceituosas em relação às pessoas homossexuais, com objetivo de reprimi-las socialmente.
Por exemplo: até 2013, não era possível o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Há algumas décadas atrás, havia um enorme estigma social em torno delas, onde muitos direitos, hoje já garantidos por lei, seriam impensáveis.
Estereótipo e poder
Os meios de comunicação, assim como programas de humor, comerciais de tv, etc., reforçam estigmas sociais, validando diferentes rótulos. Embora também possam se apresentar de maneira positiva, os estigmas e estereótipos sociais quase sempre são expostos de maneira negativa ou depreciativa.
Muitos deles são reproduzidos a fim de defender visões de mundo compatíveis com interesses de grupos sociais dominantes. Nota-se então um potencial de atuação como instrumento de propagação ideológica, por parte dos meios midiáticos.
Por terem grande alcance, esses veículos possuem responsabilidade social na formação da opinião pública. Portanto, é perigoso avaliar como neutras ou isentas de responsabilidade quaisquer opiniões por eles veiculadas, pois existem interesses políticos e econômicos em jogo.
A mídia possui tanto a capacidade de superar os estereótipos como também de reforça-los, simultaneamente, já que eles mudam ao longo do tempo, bem como as percepções das pessoas e seus padrões. Essa condição coloca a mídia em um importante patamar na disputa por representação e mudança social.
Estereótipos como violência simbólica
Como o controle da informação está no epicentro da dinâmica de dominação, a relação entre conhecimento e superação de preconceitos está comprometida. Por isso é importante que haja uma visão crítica a respeito deste funcionamento, para que não sejamos apenas receptores de informações enviesadas.
Os preconceitos existem, em primeiro lugar, no campo das ideias, para que, através dos estereótipos, ocorra a discriminação. Isso pode acontecer dentro de uma lógica de dominação que utiliza recursos históricos culturais para atender interesses de grupos sociais já favorecidos.
Tradicionalmente, as formas de integração social se dão por meio de relações sociais legítimas, onde grupos com os mesmos interesses se relacionam entre si. Por isso, pensar em atribuir estereótipos positivos a grupos já marginalizados, como forma de representação social, pode ser uma alternativa contra hegemônica.
Estereótipos no Brasil
Florestan Fernandes
Importante intelectual brasileiro, estudioso da questão do negro e das relações étnicas no Brasil, promoveu mudanças de paradigmas às concepções de dominação e subordinação. Segundo ele, os estereótipos racistas da época atingiam não somente os negros, mas também às pessoas mestiças.
Em seus estudos, ele constata que no Brasil, filhos de relações miscigenadas também sofriam “preconceito de cor”, diferente do que muitos alegavam na época. Os reflexos dos estigmas sociais carregados por pessoas negras retintas, podem ser percebidos ainda hoje, atingindo também pessoas negras não retintas.
Sistema de representações
Os estereótipos compõe um sistema próprio de representação da realidade comum aos indivíduos, fazendo com que seus compartilhamentos orientem suas condutas. Portanto, não se trata de um falseamento da realidade, mas de todo um ecossistema integrado de representações simbólicas, com respostas simultâneas.
Os estereótipos podem sim, ser prejudiciais ao limitar nossas expectativas em relação ao outro, reduzindo comportamentos a um conjunto qualquer de características pré determinadas. Como esperamos que as pessoas se comportem de acordo com estereótipos atribuídos a ela, utilizamos para reforçar preconceitos e estigmas sociais, perpetuando relações de desigualdade.
Contudo, reduzir os estereótipos apenas a um fenômeno depreciativo, é um erro, já que eles estão presentes em toda dinâmica social que conhecemos, na qual são definidos valores e disposições. Nossas experiências são legítimas e nos dão recursos para construir nossas identidades, ao mesmo tempo em que os estereótipos codificam papéis e comportamentos.
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