Apesar de ser muito falada devido às ditaduras do século XX, a censura é algo que ocorre desde a organização de civilizações. Muito mais do que proibir algo, ela é sempre baseada em defender o interesse de algum grupo ou instituição.
Da Idade Antiga até atualmente, a censura é utilizada de diversas formas. Alguns casos mais conhecidos são os de queima de livros e proibição de músicas, por exemplo. Mas você já ouviu falar da censura econômica? Ah, então vem com a gente.
O que é censura
Segundo o dicionário, censura é o ato de coibir ou proibir algo ou alguém. Esse mecanismo pode ser utilizado de forma política, religiosa, entre outros. Feita de formas diversas, a censura cumpre dois papéis essenciais: coibir a circulação de algo e proteger o interesse de algum grupo/organização/governo.
Mas a censura também pode estar vinculada ao aspecto econômico, por exemplo. Atualmente, muitos veículos de comunicação estão associados a algum tipo de empresa. Logo sua programação está de acordo com os interesses dela, essa também não é uma forma de cercear a liberdade?
Tipos de censura
A censura assume diversas formas. Ela pode estar dentro da lei, por exemplo. Institucionalizada, o Estado em questão possui aparatos para coordenar oficialmente essa função. Portanto, documentos, músicas ou qualquer outro tipo de manifestação fica a mercê da aprovação governamental.
Outra maneira, é a ameaça subentendida. Ou seja, não tem lei que proíba a fala de determinado assunto, contudo fica implícito que caso seja falado pode ocorrer algum tipo represália.
Parecido com o anterior, a autocensura também pode ocorrer em ambientes hostis, por exemplo. A pessoa acaba deixando de falar sobre algo por ter medo da reação das pessoas ou por não querer discordar de algo.
Como dito lá em cima, também existe a censura econômica. Existem países em que o grupo economicamente favorecido acaba comandando os meios de comunicação. Esse fato acaba fazendo com que somente as demandas do interesse deles sejam veiculadas.
Censura e Propaganda
Em muitos governos ou instituições que promovem a censura, normalmente ela está vinculadas a propaganda. Enquanto a censura tenta abafar um projeto político, crença, questionamentos, etc. A propaganda age no curso contrário: enaltecer algo ou alguém que é responsável por essa proibição.
Existem muitos casos na história onde a censura e a propaganda estão ligadas, principalmente, em ditaduras. Um bom exemplo é o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) criado em 1939 por Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Que ao mesmo tempo cuidava de proibir a veiculação de ideias que não estivessem de acordo com os ideais do governo. Enquanto promovia o enaltecimento da figura de Vargas.
Casos de censura
Vamos ver alguns casos de censura ao longo da história? Confira:
- O veneno de Sócrates
Sócrates é considerados um dos pensadores mais importantes do Mundo Ocidental. Embora não exista nada comprovadamente escrito por ele, suas ideias foram transcritas por seus discípulos, sendo um dos mais notórios, o Platão. Reconhecido pela tradição oral propagada em praças de forma gratuita, Sócrates vai começar a incomodar as autoridades atenienses.
Foi acusado de se aliar a deuses do mal ou até mesmo de ser ateu devido aos seus questionamentos. O pensador foi preso e acusado de incitar aos mais jovens, seus alunos, a rebeldia e desobediência. De acordo com relatos, Sócrates possuía duas opções de condenação: ou a morte ou ter a sua língua cortada. Ao ingerir o veneno cicuta, ele optou pela morte.
- A perseguição ao conhecimento
O primeiro imperador da China, Qin Shi Huang, que teria sido responsável pela unificação chinesa é acusado historicamente de colocar fogo em diversos livros. Sua perseguição se estendeu principalmente as obras confucionistas que eram consideradas um obstáculo às suas pretensões autoritárias.
Além disso, sua perseguição não ficou apenas nos objetos de estudo. Ela também se direcionou a professores e intelectuais que propagavam ideias contrárias às suas políticas. Segundo os relatos, essas pessoas eram enterradas vivas.
- A lista proibida
A Igreja Católica Apostólica Romana era umas das instituições mais poderosas da Idade Média. Para manter seu poder intacto, a Igreja utilizava diversos métodos, como a proibição de livros.
O Index Librorum Prohibitorum era uma lista de livros proibidos pela igreja criada no século XVI em resposta a Reforma Protestante. Esses livros eram vistos como imorais e heréticos. Com o Tribunal da Inquisição, muitos autores foram parar na fogueira por desafiar a instituição e escrever ideias contrárias às da igreja. Escritores famosos foram perseguidos ao longo dos séculos, como: Thomas Hobbes e René Descartes.
A própria bíblia católica é considerada uma montagem por parte da Igreja, que decidiu quais evangelhos deveriam entrar e quais ficariam de fora. A exemplo do Evangelho de Judas, que foi excluído do livro sagrado e considerado um apócrifo.
- Aniquilamento cultural
Quando os espanhóis chegaram no continente americano encontraram civilizações tão ou mais complexas do que as europeias. O processo de dominação e exploração desses grupos contou com a exploração de rivalidades internas e com as doenças trazidas do velho continente.
Como forma de apagar os traços culturais e tentar dissolver esses laços, os espanhóis promovem uma queima de documentos e objetos ligados a cultura desses povos. A justificativa era de que tudo aquilo estava ligado ao demônio, mas na verdade, o intenção era apagar os vestígios de civilizações extremamente desenvolvidas.
- Fogo no parquinho dos EUA
Mesmo com a discussão sobre liberdade e com o acontecimento de importantes movimentos revolucionários, a Inglaterra atentou contra os Estados Unidos na guerra Anglo-americana (1812-1814). O país ainda não aceitava muito bem a independência da sua ex-colônia e a aproximação da mesma com os franceses.
Como resultado do conflito, a Inglaterra invadiu a sua capital, Washington D.C., pôs fogo a Biblioteca do Congresso com cerca de 3 mil livros e a Casa Branca. A ação é vista como uma punição as políticas expansionistas do EUA no continente americano.
Um detalhe interessante é que quase não se ouve falar desse conflito. Mas ele existiu, e uma pergunta extremamente importante é: porque queimar livros? Fica aí para vocês pensarem a importância do objeto e de seu conteúdo para uma sociedade.
- Fogueiras nazistas
Assim que Hitler chega ao poder na Alemanha na década de 1930, ele inicia o seu projeto de “purificação” da cultura alemã. Uma das ações promovidas pelo regime foi a queima de livros em praças públicas. Entre os títulos queimados estão aqueles que foram produzidos por judeus, por pensadores que não eram alemães ou por críticos as ideias propagadas pelo Partido Nazista.
A ação ocorreu como um evento, as pessoas foram chamadas para assistir a essas queimadas. Coordenada pelo Ministério da Propaganda ( lembra que falamos lá em cima sobre como a censura e a propaganda estavam ligadas? Olha aqui oh!), a ação visava a reconstrução da cultura alemã e servia como um aviso claro aos opositores do regime.
- Getúlio e o trabalhismo
O Brasil, infelizmente, não ficou fora da onda de censura. Como dito lá em cima, Getúlio Vargas durante a ditadura do Estado Novo também utilizou a censura como forma de frear ideias contrárias ao seu interesse.
Vargas quando chega ao poder modificou absurdamente as relações trabalhistas, não só no quesito a concessão de direitos a classe trabalhadora. O então presidente vai elaborar uma série de propagandas com intuito de melhorar a ideia do trabalho no país.
Parece brincadeira, nè? Mas não é. O trabalho físico era muito mal visto e ainda era ligado a escravidão que tinha acabado a tão pouco tempo. Sendo assim, além de promover uma melhora na imagem do trabalhador, ele também vai censurar músicas ligadas a vadiagem e a figura do malandro. Dá um olhada nessa letra aqui:
O Bonde de São Januário
Ataulfo Alves e Wilson Batista
Trecho modificado.
O Bonde de São Januário
leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar
Trecho original vetado pela DIP
O bonde de São Januário
leva mais um sócio otário
só eu não vou trabalhar”.
- A proibição institucional
A ditadura militar brasileira (1964-1985) foi o período onde a censura era institucionalizada no país. Através de órgãos oficiais de repressão, às produções artísticas, jornalísticas, culturais, e etc eram constantemente supervisionadas.
As “canções-protesto” surgem durante o período como forma de fazer uma crítica ao regime militar. Diversas delas foram censuradas pela ditadura e seus intérpretes foram condenados ao exílio.
- O documentário invisível
Em 1993 foi produzido por uma emissora britânica um documentário sobre a mídia brasileira e a Rede Globo de Televisão, chamado Beyond Citizen Kane. Contando com a participação de nomes importantes para o país, como Chico Buarque e Leonel Brizola, o documentário refaz a trajetória da emissora e de seu dono, Roberto Marinho.
Mais do que isso, o documentário se propõe a mostrar como a rede de televisão construiu um monopólio no setor de comunicação do país. A emissora é acusada de vários escândalos, como o apoio a ditadura e a manipulação de notícias.
Apesar de estar disponível na internet, o documentário nunca foi exibido oficialmente no Brasil, pois a emissora entrou na justiça e ganhou o direito do filme não ser exibido na TV e nem nos cinemas do país.
Eita, mas é muito caso de censura né?! E esses são somente alguns exemplos de muitos que ocorreram durante o curso da história. Mas não cansa não, vem com a gente ver algumas curiosidades sobre o assunto:
- A lista de livros proibidos da igreja católica durou até meados do século XX.
- Admonitum é um alerta feito atualmente pela Igreja Católica a alguma publicação que vá contra aos interesses da instituição.
- A Eritreia (país africano) é considerado pela ONU o país com a menor taxa de liberdade de expressão do mundo, seguido pela Coréia do Norte.
- Durante a ditadura militar brasileira a promulgação, em 1970, do Decreto-Lei n° 1.077 permitia ao governo analisar anteriormente o conteúdo de livros e periódicos antes deles serem publicados.
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