Tá achando que Romantismo é só sobre amor? Vem aprender um pouco mais sobre a segunda e terceira geração desse movimento literário!
Entender o contexto do Romantismo a cada geração é fundamental, a fim de observar como ocorreu uma transformação de ideias e sentimentos por parte do eu lírico. A linguagem subjetiva e o sentimentalismo prevalecem. Entretanto, a geração Ultrarromântica desvincula-se dos acontecimentos de mundo e focaliza em suas emoções, enquanto que, na geração Condoreira, a poesia carrega um valor mais social.
AS CARACTERÍSTICAS DA 2ª GERAÇÃO
A 2ª geração, também conhecida como Ultrarromântica ou “mal do século”, é caracterizada pelo alto sentimentalismo. Algumas décadas depois da Independência do Brasil, os poetas começaram a se desvincular do compromisso com a nacionalidade, exaltado na geração anterior e, com isso, há um desinteresse pelo contexto histórico em que vive e esse passa a aprofundar em sua lírica, a expressão de seus sentimentos, numa posição mais egocêntrica.
Os ideais da Revolução Francesa de “liberdade, igualdade e fraternidade” já não eram mais propagados com a mesma força e, nesse período, o homem passa a desacreditar nesses valores. A verdade, é que o homem da época, já não se sentia incluído ao mundo em que estava inserido, levando-o a uma grande insatisfação sobre a vida; voltando-se a si mesmo, numa atitude profundamente pessimista. Portanto, o chamado “mal do século” é marcado pelo pessimismo do eu lírico, a aproximação com a morte, a atração pelo elemento noturno, que consistem na insatisfação mediante à vida. Ademais, esse nome também é dado porque muitos autores morreram jovens, devido à grande doença do século: a tuberculose.
As obras ultrarromânticas são caracterizadas pelo sentimentalismo; a fuga à realidade, a idealização amorosa, a posição da amada como elemento inatingível, a analogia da figura feminina a representações de pureza – como o anjo, a criança, uma virgem – e também, percebemos em muitas poesias que, ao mesmo tempo em que o eu lírico expressa todo o seu emocionalismo, teme pela realização amorosa, evidenciando o seu medo de amar. Não obstante, não podemos esquecer que em muitas obras, percebemos a aproximação do amor junto à sensualidade, fruto de insinuações sobre o desejo amoroso.
Dentre os principais autores da época, podemos citar: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freira.
Observe o poema a seguir, de Casimiro de Abreu, e repare nos aspectos do eu lírico, sobre o medo de amar:
AMOR E MEDO
“No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!Vampiro infame, eu sorveria em beijo
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!”
AS CARACTERÍSTICAS DA 3ª GERAÇÃO
O contexto da 3ª geração, também chamada de Condoreira, encontra-se entre as décadas 60 e 70 do século XIX, período de grande movimentação política. Essa geração possui um apelo mais social, mediante ao contexto histórico em que se situa, com isso, percebemos um afastamento da característica egocêntrica, propagada na geração anterior.
Os autores da época, ansiavam novos ares democráticos e, com isso, defendiam a causa abolicionista e republicana. Seus poemas, produzidos próximos à oratória, tinham a intenção de persuadir o leitor-ouvinte, a fim de que esse também alterasse sua visão às coisas do mundo e defendesse a causa de sua época.
Dessa forma, é importante ressaltar que a Geração Condoreira afasta-se da fuga à realidade e aborda sobre o contexto em que o homem está inserido – nas últimas décadas do século XIX – como também, a apresentação de uma posição mais crítica sobre a realidade. Em relação à poesia lírica, percebemos que há um abandono do amor idealizado e distante por parte do eu lírico e, em troca disso, a presença de um amor mais canal e concreto. Em outras palavras, pode-se dizer que o amor expresso nessa geração é viável, capaz de trazer felicidade, como também a dor ao eu lírico.
Castro Alves foi o principal autor dessa geração.
Exercícios
1. (ENEM) Leia o soneto abaixo:
“Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!”
(AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é:
a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.
b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
c) o descontrole das emoções provocado pela auto piedade.
d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
2. Leia o poema abaixo:
MOCIDADE E MORTE
Oh! eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma…
Nos seus beijos de fogo há tanta vida…
– Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
No trecho acima, de Castro Alves, reúnem-se vários dos temas e aspectos mais característicos de sua poesia. São eles:
a) identificação com a natureza, condoreirismo, erotismo.
b) aspiração de amor e morte, sensualismo, exotismo.
c) sensualismo, aspiração de absoluto, nacionalismo, orientalismo.
d) personificação da natureza, hipérboles, sensualismo velado, exotismo.
e) aspiração de amor e morte, condoreirismo, hipérboles.
3. (UFV-MG) A ficção romântica é repleta de sentimentalismos, inquietações, amor como única possibilidade de realização, personagens burguesas idealizadas, culminando sempre com o habitual “… e foram felizes para sempre”.
Assinale a alternativa que não corresponde à afirmação acima:
a) O amor constitui o objetivo fundamental da existência e o casamento, o fim último da vida.
b) Não há defesa do casamento e da continência sexual anterior a ele.
c) A frustração amorosa leva, incondicionalmente, à morte.
d) Os protagonistas são retratados como personagens belas, puras, corajosas.
e) A economia burguesa determina os gostos e a maneira de ver o mundo ficcional romântico.
Gabarito
1. B
2. A
3.B