Você sabe o que é transitividade verbal e como ela funciona? Este termo diz respeito à necessidade (ou não) de um verbo ser complementado com outros elementos linguísticos. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de uma preposição. Seus nomes e como identificar a transitividade de um verbo são temas essenciais quando se estuda para o Enem.
Quando uma ação é entendida por meio do verbo apenas, sem necessidade de complemento, dizemos que se trata de um verbo intransitivo. Por outro lado, se a ação precisa de informações que a componham, trata-se de um verbo transitivo, pois necessita de um complemento verbal.
Para que você entenda exatamente como funciona a transitividade verbal e sua necessidade de complementos, reunimos cinco dicas para nunca mais esquecer como essa regra da nossa língua é aplicada. Dá uma olhada!
1. Verbo de Ligação
Olha só este exemplo:
Na oração “Maria está grávida”, imagine Maria. Acredito que você tenha imaginado uma mulher grávida, certo? Assim, você percebe que “grávida” e “Maria” são a mesma pessoa, logo, o verbo “está” liga Maria a ela mesma.
“Maria parece louca!”. Percebe-se que “louca” e “Maria” fundem-se em uma única pessoa. Mais uma vez, o verbo “parece” liga Maria a ela mesma.
Eis um ponto que você nunca mais vai esquecer: “Maria parece delirar”, “Maria está dançando”, “A TV continua ligada”. E agora? “Delirar” é verbo no infinitivo, “dançando” é verbo no gerúndio e “ligada” é verbo no particípio.
O infinitivo, o gerúndio e o particípio são chamados formas nominais do verbo exatamente por isso, por poderem ocupar lugar de substantivo ou adjetivo. Nas orações anteriores, como adjetivos, exercem função de predicativos dos sujeitos, por isso, os verbos “parecer”, “estar” e “continuar” são verbos de ligação!
2. Verbos Transitivos Indiretos (VTI)
Veja este exemplo:
“Gosto de frutas”. Aqui, tem-se o sujeito elíptico “eu” e o verbo que o determina é “gosto”. A ação expressa por esse verbo pressupõe que se goste de alguma coisa.
Por isso, para complementar o sentido verbal, é necessário ligar uma ideia ao verbo por meio da preposição “de”, o que o torna um verbo transitivo indireto (VTI).
3. Verbos Transitivos Diretos (VTD)
“Houve grandes festas”. Neste exemplo, o verbo “haver”, no sentido de existir, é impessoal. Trata-se de uma oração sem sujeito. Ainda assim, ele exige um complemento, pois houve algo (um evento, um objeto, uma ocorrência).
Assim, por não exigir um complemento iniciado por preposição, este verbo também pode ser classificado como transitivo direto (VTD).
4. Verbos Bitransitivos ou Transitivos Diretos e Indiretos (VTDeI)
Na frase “os jornalistas informaram a verdade aos leitores”, “os jornalistas” exerce função sintática de sujeito do verbo “informaram”. O ato de informar, por sua vez, exige complementos sobre de sua natureza, certo? Quem informa, informa alguma coisa ou alguém.
No exemplo em questão, os dois complementos aparecem para garantir a compreensão do ato expresso pelo verbo. Por isso, quando um verbo é complementado, simultaneamente, por um objeto direto (a verdade) e por um objeto indireto (aos leitores), tem-se um verbo transitivo direto e indireto (VTDI) ou um verbo bitransitivo.
5. Verbos Intransitivos
Os verbos intransitivos são os que não dependem de complemento, ou seja, não transitam até complemento algum. Os verbos intransitivos têm sentido completo, o que pode aparecer após eles é adjunto adverbial.
Desta forma, se eu digo “Maria dorme”, dormir é verbo intransitivo. Se eu digo “Maria dorme tarde”, tarde não completa o sentido do verbo, apenas dá ideia de tempo, é um adjunto adverbial de tempo.
Como transitividade verbal pode cair no Enem?
Os conceitos de transitividade verbal não são cobrados no Enem ou no vestibular, mas, sim, seu uso adequado, seguindo a norma-padrão ou a variante linguística adequada.
Outra maneira de abordar transitividade verbal no Enem é por meio da relação ao significado estabelecido pela ausência ou substituição da preposição.
Veja este exemplo de exercício sobre transitividade verbal que caiu no Enem:
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras e uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém.
Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvir um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve/ que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca:
- a) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto.
- b) a importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa.
- c) a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.
- d) o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias.
- e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem.
A resposta correta é a letra E. Isso porque é preciso ter noção de regência dos verbos (e sua transitividade) para perceber que o uso coloquial da linguagem passa a ser valorizado pelo personagem-narrador a partir da fala de sua avó: “voltou de ateu”, e não “voltou ateu”.
Agora que você sabe tudo sobre transitividade verbal, chegou o momento mais importante: treinar para alcançar ótimos resultados. Faça resumo, mapa mental e releia estes materiais sempre que precisar. Resolver exercícios também é uma ótima ideia!
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