Não é difícil entender a função do texto artístico! Vem cá que a gente te explica tudo para mandar bem na prova de português!
Ei, você aí! Você sabe como um texto artístico se caracteriza? Você sabe por que o frágil coração acelera o batimento e faz turu, turu, turu ao se deparar com um texto assim? Se liga aqui então!
O texto artístico tem como marca a função emotiva e por isso é responsável por transportar o leitor do seu mundo real para o mundo mágico das palavras e das emoções, comovendo, provocando sensações e liberando sentimentos. Por meio desse gênero, é possível ter uma nova experiência ou relembrar sensações passadas, pois a arte expressa por via das palavras tem esse poder transformador e cria uma relação entre leitor e texto.
Quer ver como Camões e Fernando Pessoa, grandes nomes da literatura portuguesa, já faziam isso há anos? Desce aí!
1) Se Álvaro de Campos falava de conflitos internos, por que não podemos fazer textão no Facebook?
Quando olho para mim não me percebo, de Álvaro de Campos
Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca propriamente reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Neste poema, o heterônimo pessoano Álvaro de Campos é marcado não só pela expressão da dúvida, mas também pela angústia do existir. Vivendo poeticamente os conflitos que a modernidade lhe impõe, sua poética é a expressão dos conflitos e dramas intrínsecos à existência humana. Este poeta vivencia o conflito do homem moderno, que se encontra no espaço urbano, que, por sua vez, é o lugar da cultura, da contínua transformação. Tal contexto é o que desencadeia a aflição do poeta, sobretudo porque ele pensa sobre a realidade e porque não consegue alcançar nenhuma essência. Que mimimi!
2) Camões já mostrava como ser trouxa há muito tempo…
Sete anos de pastor Jacob servia, de Camões
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por soldada pretendia.
Os dias na esperança de um só dia
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel, lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que por enganos
lhe fora assim negada sua pastora,
como se a não tivera merecida,
tornando já a servir outros sete anos,
dezia: –Mais serviria, se não fora
pera tão longo amor tão curta vida.
Neste poema, o amor que Jacob sentia por Raquel pode parecer puro pela inocência com que manifestou seu sentimento, ou seja, pode parecer que foi ingênuo ao decidir que serviria por mais sete anos, mesmo depois da enganação. Contudo, a decisão de Jacob foi prova de fidelidade amorosa, pois ele vivia por esse amor, vivia para vê-la enquanto não podia tê-la e prestava serviços a Labão apenas visando se casar com Raquel. Assim, a servidão de Jacob era amorosa: ele servia somente a essa mulher, mostrando que a mentira e a mágoa não seriam capazes de fazê-lo desistir de sua amada. Ô, Jacob, deixa de ser bocó!
3) Chocolate também mescla bem e mal. O que você prefere: amor ou chocolate?
Quem diz que Amor é falso ou enganoso, de Camões
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
Assim como as experiências pessoais tendem a tornar-se um aprendizado, o “Amor” também é sinônimo de conhecimento. Na perspectiva camoniana, este sentimento, por mesclar tanto o bem quanto o mal, é o único capaz de causar contentamento e descontentamento. Dessa maneira, mesmo trazendo sequelas, a ira amorosa também é um bem. Amar, portanto, é indispensável. Será que quem escreveu isso não conhecia o amor pela comida?!
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